Da Madeira para o Mundo
|
||||||||||||||||
Junho é o mês oficial da Sidra. Não é que o seu consumo se cinja aos Santos Populares (embora os festejos possam ser um bom pretexto para instigar novos hábitos), mas porventura o facto de abarcar o dia mais longo e a noite mais curta do ano no Hemisfério Norte (Solstício de Verão), as temperaturas tórridas, os fluxos turísticos e a predisposição dos consumidores para novas e refrescantes experiências possam fundamentar a realização das comemorações em junho. Filosofias à parte, certo é que na Madeira decorreram (à semelhança de 2022, embora adensadas) um conjunto de ações de divulgação que resultaram dos esforços encetados pela Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, através da Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, e que, a avaliar pela afluência e pelas quantidades comercializadas (foram mais de 1 000L de Sidra Natural em três dias), permitem inferir que esta foi uma aposta ganha do executivo madeirense e certamente se manterá. Sim, a Sidra da Madeira, apesar da idade (recorde-se que a sua presença na Ilha faz-nos recuar aos primeiros anos do povoamento), surge renovada, veste-se de juventude e promete revolucionar as tendências de consumo locais. Foram oito as marcas comerciais de Sidra da Madeira - IG representadas no evento “CIDER FEST| FESTA DA SIDRA”: aRRebITa, Boneca de Canudo, Casa do Pomar, Sidracoop, Sidra do Massa, Sidra do Vares, Quinta da Moscadinha e Romaria, a que se juntaram outras, em regime de rotatividade, no espaço atribuído à Associação de Produtores de Sidra da Região Autónoma da Madeira (ASPRAM) (refira-se, a título exemplificativo, a Sidra do Martins) e, complementarmente, pela mão da Associação de Barmen da Madeira. Aluda-se, por constituir dado de relevo no que à escala do projeto atenta, que muitos mais produtores poderiam ter encontrado no festival sede para comercialização. A maioria possui Sidra Natural elaborada na Sidraria de Santo António da Serra, mas outros há com Sidras obtidas em estruturas licenciadas e com autorização para utilizar a marca de qualificação IG. Já lá vamos a números e a factos… Por agora, impera citar que, a ladear a diversidade de produtores de Sidra estavam sete sugestões gastronómicas - 100% Sushi, Choux, Cristina Ferreira - Queijos & Enchidos, Doce Cereja, Gazebo, Kampo e Ovo Girão representada, pela Casinha do Bolo do Caco, e ainda um posto de venda criativo, a WOOD Madeira creative store (que recorre a matéria-prima 100% portuguesa e inspiração madeirense para as suas conceções). Saiba mais sobre todos os envolvidos: Acha que é tudo? Desengane-se… quem passeou pelo festival, deparou-se ainda com muita música - Spot the Difference, Beatriz Abrunhosa, Beatriz Caboz, Cristina Barbosa em acústico e Live Brisk Project, demonstrações culinárias várias, um conjunto de ações de sensibilização e informação consumadas por nomes sonantes do setor (Pedro Lima - Presidente da Associação de Produtores de Sidra da Região Autónoma da Madeira; Maria Valente e Jaime Barros, jurados em concursos internacionais de Sidra e empresários no sector; Américo Pereira, escanção, formador e empresário, e Luís Mendonça, farmacêutico e produtor de Sidra) e ainda um recinto dedicado às artes.
|
Porventura não saberá mas, em 2023, a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, com o apoio da Silvemode, decidiu aliar as “coisas do campo e da memória regional” (leia-se agrícolas e históricas) às “engenhocas e brilhantismo das artes”, dando palco e criando alianças entre sectores, no desígnio máximo de estimular qualquer (aspirante) artista a (re)descobrir e (re)inventar as linhas de um produto que faz parte da identidade da ilha da Madeira, propondo-lhe que “vestisse” a face frontal do atual rótulo da Sidra da Madeira IG de modo original e sem esquecer a temática “Sidra na história da ilha da Madeira”. A proposta vencedora, denominada “ORENDA”, de Hugo Alexandre Pereira Saunders Henriques, dá primazia ao agricultor, atribuindo-lhe o primeiro plano do trabalho, enquanto responsável pela colheita do fruto que se tornará, pela força e engenho local, Sidra. Segundo o artista, “o plano de fundo é inspirado nas armadas portuguesas que faziam escala na ilha para reabastecer e levavam consigo o incomparável "vinho de peros” (…). Por isso, vemos uma caravela portuguesa e um porto na imagem. No outro lado, uma encosta é mostrada, onde os agricultores trabalhavam arduamente para transformar terras não cultivadas em áreas agrícolas.” (descubra tudo sobre todos os artistas e trabalhos a concurso AQUI) Comida, bebida, música, palestras, luzes, ação… foram cinco dias de muita animação. Leu bem… três na Placa Central e os outros dois, como já vem sendo hábito com este grupo de trabalho, foram reinventados no restaurante Fugacidade. Ali, Francisco Siopa, em colaboração com Iolanda Correia, surpreenderam os presentes com quatro “extravagâncias” (conforme nomina o chefe da Penha Longa), todas elas com Sidra. Também Marcos Marques e Maria del Carmen (ambos asturianos com posições de relevo no setor das Sidras) assumiram rédeas, brindando a audiência com uma degustação única de várias Sidras.
Para o ano há mais! Produção - números e factos Começando pelo início, no total, em 2020, segundo dados divulgados pela Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (https://estatistica.madeira.gov.pt/), a superfície de macieiras/pereiros na Madeira (entre pomares de povoamento regular e pés dispersos) cingia-se a 137 hectares (32 ha variedades/formas cultivadas exóticas e 105 ha de regionais), num total disponível de, aproximadamente, 1 827 toneladas de fruta fresca (a repartir ainda pelos canais habituais, entre os quais venda direta e produção de Sidra). Incrédulo(a)? Feitas as contas, no que ao sector primário atenta e a avaliar por outras realidades do nosso País, estamos em posição (cientes do inevitável, contudo controlado, aumento da produção de maçãs/peros na Ilha, em resultado dos esforços levados a cabo pelo Governo Regional nos últimos 3 anos) de afirmar que a Sidra da Madeira é, por agora (atenções debruçadas sobre quantidades), um produto de nicho. Na finda campanha (2022/2023), afluíram à prestação de serviços da Sidraria de Santo António da Serra – Machico - (SAS) 42 utentes, repercutidos em 36 595 litros de Sidra Natural produzida. Esta unidade modelar, a primeira de um conjunto de mini-sidrarias coletivas previstas (rede SidRAM), foi inaugurada a 28 de janeiro de 2020 na Ribeira de Machico (Estrada Dom António Magalhães, 77, Machico 9200-162) e está dotada de condições e tecnologias que permitem aos seus utentes obter Sidras Naturais (por agora apenas e só as resultantes do esgotamento total dos açúcares dos frutos frescos) que, para além de cumprirem com as disposições normativas e exigências de higiene e segurança alimentar, passam a auferir de caraterísticas próprias de especificidade e genuinidade e de acondicionamentos e embalagens que viabilizam a sua padronização e valorização no mercado. É, por enquanto, a única indústria pública operacional no setor sidrícola regional de um conjunto nominado de “Sidrarias da Madeira (SidRAM)”, uma aposta da Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, que contempla a construção e equipamento de diversas infraestruturas de prestação de serviços aos agricultores regionais e que contará, conforme prevê o Despacho n.º 261/2021 aplicável (que estabelece o princípio gestionário das Sidrarias da Madeira - SidRAM em matéria de resíduos de embalagens), com uma sidraria-central e várias mini unidades, a localizar nas zonas em que a produção desta bebida tradicional madeirense assume maior significado.
|
- Detalhes