O médico veterinário no conceito «One Health» |
|||||||||||
|
O conceito One Health (OH) está estreitamente ligado à saúde pública e à medicina veterinária, sendo esta última importante no controlo das zoonoses e antropozoonoses. Compartilhamos, humanos e animais não humanos, os mesmos ecossistemas, o que implica que seja feita uma abordagem OH entre vários sectores especializados da saúde pública, saúde animal e meio ambiente, ou seja, um esforço conjunto e coordenado para a prevenção, monitorização, vigilância e eliminação de ameaças à saúde, em humanos e animais.
Seja como agentes clínicos ou epidemiologistas, os médicos veterinários são uma peça fundamental para a promoção de uma só saúde para todos, ao proteger a tríade basilar: animais, pessoas e ambiente (Fig. 2). Mais concretamente, este agente da saúde atua ao nível da profilaxia sanitária, com enfoque nas zoonoses transmitidas por animais (e por alimentos de origem animal), em defesa de uma só saúde para todos.
As funções e competências do médico veterinário não podem ser descuradas na promoção de uma saúde única para todos, pois o seu trabalho é imprescindível ao desenvolvimento da população humana, sempre em equilíbrio com o meio ambiente e com os animais, que são o seu foco principal de trabalho (mesmo tendo sempre na mira o ser humano). Ou seja, aos médicos veterinários incumbe-lhes a proteção dos animais, mas também de pessoas e do meio ambiente. Os veterinários têm múltiplos conhecimentos técnicos e científicos que lhes permite a abordagem para a prevenção e deteção de doenças que podem afetar a saúde humana. Estão na linha da frente ao controlar e monitorizar doenças que podem ser transferidas entre pessoas e animais, protegendo as pessoas de doenças de origem animal – as zoonoses. Mas também para o inverso, ou seja, para questões de saúde humana e pública que podem causar doença e comprometer o bem-estar dos animais. É a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) que reforça igualmente a importância destes profissionais serem incorporados em equipas de Saúde Pública, por estarem preparados e habilitados a assumir as suas funções em vários organismos de saúde. A Saúde Pública Veterinária (assim denominada pela OMS) é dotada de princípios que estão enraizados tanto em ciências biológicas como sociais e que são compartilhados entre a medicina, agricultura e ciências ambientais, focada na proteção e melhoria da saúde humana. |
Estima-se que 60% das doenças infeciosas humanas emergentes tenham origem animal, sendo facilmente transmissíveis ao Homem. O controlo e erradicação de zoonoses é das funções proeminentes da Saúde Pública Veterinária, capaz de antecipar a transmissibilidade de doenças infeciosas. O contexto social em que vivemos favorece o surgimento e a propagação de zoonoses, na medida em que o contacto humano com os animais é cada vez mais próximo, desde os animais de companhia com os seus tutores às atividades recreativas ou profissionais que envolvam animais. A grande mobilidade nos nossos dias também promove a disseminação destas doenças, quer pelo transporte ilegal de animais ou de espécies invasoras, quer pelos viajantes humanos. E que zoonoses são essas? Entre os animais de companhia mais comuns (cães e gatos) destacam-se a raiva, a leptospirose canina, a toxoplasmose, a esporotricose, as sarnas e as dermatofitoses (tinhas) Outra das preocupações do médico veterinário é o bem-estar dos animais. Não há profissional com maior competência e habilitação para a proteção da saúde, bem-estar e avaliação dos maus-tratos aos animais do que o médico veterinário. E este campo de intervenção veterinária não se resume à resposta clínica aos animais doentes, mas também se estende à prevenção para a saúde animal, inclusive através de ações de sensibilização e educação à população quanto ao cuidado a ter com os animais, nomeadamente aconselhamento nutricional e controlo reprodutivo, orientação quanto ao adestramento animal, esclarecimento etológico específico e intervenção ao nível comportamental animal - funções estas que a Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, através da Divisão de Animais de Companhia (DAC), tem vindo a implementar na Região. A DAC, em articulação com outras autoridades sanitárias (inclusive municipais), é responsável pela monitorização, vigilância, controlo e erradicação de doenças nos animais de companhia e por divulgar as boas práticas técnico-legais para a sua detenção responsável. Além do mais, autoriza os programas de vacinação antirrábica, quando aplicáveis, conjugados com a identificação eletrónica dos animais, bem como acompanha os programas de esterilização de animais. Participa ainda na instrução de processos de contraordenação decorrentes de autos elaborados por entidades policiais (PSP e GNR) e na elaboração de pareceres vários, de entre outras funções em prol do bem-estar dos animais de companhia. Porque a coexistência no planeta entre o ser humano e os demais animais é possível e, sem dúvida, benéfica para todos!
- Tracey, D. (2021), O conceito One Medicine: seu surgimento da história como uma abordagem sistemática para reintegrar a medicina humana e veterinária; National Library of Medicine; 5(5):643-654. |
||||||||||
- Detalhes
