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Depois da tempestade, a (quase) bonança…

texto PS Pelos começos de 2020, inesperadamente, na vida de todos nós atravessou-se uma névoa dissimulada, insidiosa e pegajosamente gelatinosa, cerceando-nos, ao princípio devagar, depois inclemente, entre tantas outras coisas, os movimentos, certos gestos especiais, até o próprio respirar.

Esta bizarra sensação de colete de forças invisível, o grau máximo de prisão individual, foi mais intensa no que a vida quotidiana tem de exterior e de social, de relação com o meio e com os outros. A grande diferença em relação ao que é normalmente aceite como construído para castigar a liberdade, é que esta improvável auto-penitenciária replicada a uma escala mais ou menos global, foi edificada por nós, para nos podermos salvar.

O que a tal levou, claro está, o abominável vírus de designação encriptada, causador da doença também com código bélico, a Covid-19, e da tremenda batalha que a humanidade contra ele teve (e ainda tem) de travar. Uma guerra contra um inimigo implacável, kamikaze, e, na verdadeira aceção do termo, desumano.

Com muita inteligência, prudência e, necessariamente, paciência, pela sua quota parte, os madeirenses souberam dar feroz combate ao microscópico organismo e, em pouco mais de um ano, quase que aniquilá-lo totalmente, salvo umas bolsas de resistência que resultam mais do descuido de certos humanos. 

 

Esta luta obviamente não acabou, e só cessará no dia em que o perigosíssimo infecioso deixe de existir ou, quanto muito, deixe de nos ser letal. Contudo, do marchar até agora feito, a tal névoa antes referida começa claramente a dissipar-se, a perder a sua falsa-invisibilidade, e as nossas vidas, aos poucos, vão voltando muito próximo ao que eram.

Inevitavelmente, a floricultura, a menina bonita da agricultura regional, não pôde escapar ilesa ao remoinho asfixiante originado pela tormenta pandémica e foram tempos difíceis para quem a faz a nível profissional. Mais fustigada foi a área da produção de flores para corte e folhagens. Estas perfeições da natureza, são cultivadas propositadamente para deleite e fruição das pessoas, sublinhando com beleza, alegria e cor certos lugares e momentos. E, durante grande parte do ano passado e deste, sem pessoas a poderem ir a locais (aos restaurantes, aos hotéis, às festas coletivas, às missas, …) e a participar em acontecimentos marcantes (aniversários, casamentos, batizados, funerais, …), muito pouco palco sobrou para a sua razão de ser.

Paradoxalmente, as plantas ornamentais não foram tão castigadas pelo turbilhão “covidiano”, dado que, com mais tempo em casa para as cuidar e amar, nas varandas e quintais, houve quem ampliasse o seu séquito vegetal ou, simplesmente, iniciado a paixão por elas.

Com a chegada da bonança que se vai começando a sentir, as atividades humanas vão retomando a pouco e pouco a sua (quase) normalidade. A floricultura madeirense, muito reativa, vem pareando esse regresso e rapidamente a readquirir a exuberância dos tempos mais recentes.

A 66.ª Exposição Regional da Flor, no âmbito da Festa da Flor de 2021, será uma nítida representação disso mesmo e quem for um observador mais atento, reparará que as inflorescências e outros órgãos florais de muitos dos exemplares em exibição, além de um indisfarçável orgulho, apontam firmes para um futuro bom.


António Paulo Santos
Diretor Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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