A dimensão Atlântica das principais pescarias da RAM – parte II |
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Um dos objetivos do projeto BIOMETORE foi fazer face às pressões antropogénicas resultantes da pesca nos montes submarinos do Madeira-Tore e montes submarinos do Grande Meteor, no período compreendido entre 2012 e 2014. Neste contexto, foi necessário quantificar a intensidade de pesca e caracterizar as capturas das espécies-alvo e acessórias em cada um dos montes submarinos integrados no estudo. Neste âmbito, os eventos de pesca da frota da Madeira foram identificados e mapeados em cartas georreferenciados (ver Figuras 1. e 2. da parte I deste artigo publicado na edição anterior do DICA). Foi também efetuada uma caracterização da frota de pesca local que operava nessas áreas e da sua atividade por métier1, tendo por suporte a Base de Dados da Direção Regional das Pescas da Madeira, que inclui os registos de frota, desembarques e diários de bordo (Tabela I).
A pesca nestas áreas é realizada por embarcações que têm como alvo as espécies de profundidade e de tunídeos. A pesca de espécies de profundidade é dominante em ambas as áreas (Madeira-Tore e Grande Meteor), geralmente realizada por embarcações médias usando palangres de fundo à deriva (LLD) em profundidades compreendidas entre os 800 e os 1200 metros. A pesca do atum é menos significativa e concentrada apenas numa das áreas consideradas (Madeira-Tore) e é operada por embarcações maiores que utilizam predominantemente o salto e vara (LHP) e as artes de deriva à superfície (LLD), dependendo da sazonalidade e abundância destas espécies nas zonas de pesca. Entre as espécies capturadas, o peixe-espada-preto atingiu os valores mais elevados, seguida por várias espécies de atum e espécies similares (Fig. 1). A maior parte do esforço nominal é observada no complexo Madeira-Tore, que concentrou um maior número de embarcações e um grande número de operações de pesca, em relação às registadas no Great Meteor. No entanto, a taxa de captura e a relação de esforço obtida pela frota é maior no Great Meteor durante o período analisado, o que mostra uma melhor eficiência da frota nesta área. A frota de pesca madeirense utiliza anualmente os montes submarinos Madeira-Tore e Great Meteor, contribuindo com 10% das capturas totais registadas na ilha e gastando cerca de 9% do seu esforço total nessas áreas, mostrando uma ampla dispersão dos pesqueiros frequentemente utilizados, beneficiando da abundância e produtividade piscícola durante todo o ano nessas áreas (Fig. 2).
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Em conclusão, salientamos que nas zonas do projeto BIOMETORE, nomeadamente no Madeira-Tore, observou-se uma atividade relevante desenvolvida pela frota da Madeira, particularmente no métier1 das espécies profundas. A actividade de pesca dirigida aos recursos pelágicos, das zonas meso e batipelágicas, tem baixo ou nenhum impacto directo no fundo do mar e nos Ecossistemas Marinhos Vulneráveis (VME). 1 Um métier é definido como uma atividade de pesca caracterizada por uma arte de pesca e um grupo de espécies-alvo que operam numa determinada área durante uma determinada época, dentro das quais o esforço de cada barco exerce um padrão de exploração semelhante.
João Delgado, Antonieta Amorim, Lídia Gouveia e Nuno Gouveia |
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