O género Xylella, criado por Wells et al. (1987) é composto por uma única espécie, a Xylella fastidiosa.
É uma bactéria vascular que vive no xilema das plantas, bloqueando esses mesmos vasos xilémicos. Esta característica dificulta a absorção de água e nutrientes e, consequentemente, conduz ao aparecimento de sintomas semelhantes a stress hídrico, tais como murchidão, queimaduras na zona marginal e apical das folhas, morte de alguns ramos e, por fim, da totalidade da planta.
É uma bactéria que infeta as plantas pertencentes a uma vasta lista de espécies.
Quais as plantas hospedeiras mais importantes?
Entre as mais de 150 espécies de plantas hospedeiras destacam-se:
I - Culturas importantes
Oliveira (Olea europaea L.), Amendoeira – (Prunus dulcis (Mill.) D. A. Webb), Cerejeira, Citrinos, Videira, Quercus e Cafezeiro (Coffea L.)
II - Diversas ornamentais herbáceas, arbustos e árvores localizadas no meio ambiente
Aloendro (Nerium oleander L.), Polígala (Polygala myrtifolia L.) Spartium junceum, Platanus, Acer, Lavanda (Lavandula dentata L.), etc.
Origem e distribuição geográfica
Os trabalhos com doenças causadas pela bactéria Xylella fastidiosa tiveram o seu início nos Estados Unidos, devido à presença da doença conhecida como “doença de Pierce” na videira.
Por muitos anos, Xylella fastidiosa permaneceu confinada à América. Em 1994, foi observada na Ásia, em Taiwan, causando queimaduras foliares na pera asiática (P. pyrifolia). Na década de 2000, foi relatado também o aparecimento da doença de Pierce nas vinhas de Taiwan.
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Figura 1 - Philaenus spumarius |
Meios de dispersão
Xylella fastidiosa transmite-se de forma natural através de insetos vetores, principalmente cicadelídeos, afroforídeos e cercopídeos.
O inseto Philaenus spumarius foi identificado na Itália como vetor eficiente, o qual se encontra amplamente disperso na Europa.
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Figura 2 - Graphocephala atropunctata Figura 3 - Carneocephala fulgida |
Outros meios de dispersão são o comércio de plantas infetadas e a enxertia de plantas contaminadas.
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Figura 4 - Draeculacephala minerva
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Sintomas
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Figuras 5 e 6 - Sintomas da bactéria Xylella fastidiosa na vinha |
Em videira (doença de Pierce), os sintomas são a murchidão das folhas, com distribuição irregular e dieback, “ilhas” verdes de tecido saudável e separação da folha do pecíolo.
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Figuras 7 e 8 - Sintomas da bactéria Xylella fastidiosa em oliveiras |
Na oliveira (Olive Quick Decline Syndrome), aparecem queimaduras foliares e um declínio rápido das plantas envelhecidas, com morte progressiva da zona apical para a raiz.
Em citrinos, os sintomas da doença Clorose Variegada dos Citrinos (CVC) passam pelo aparecimento de manchas cloróticas amareladas de bordos irregulares, semelhantes às que aparecem devido à deficiência de zinco.
A superfície inferior mostra-se ligeiramente levantada e acastanhada com manchas necróticas em folhas adultas em ramos isolados, começando pela parte mediana da copa e expandindo-se por toda a planta.
No início, pode-se observar poucos ramos com frutos pequenos. Em estado avançado da doença, toda a planta produz frutos ananicados.
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Figura 9 - Sintomas da bactéria Xylella fastidiosa em aloendros |
Os sintomas da doença Oleander Leaf Scorch (OLS) no aloendro, são o amarelecimento das folhas, que é seguido pela característica queimadura e necrose da zona apical das folhas.
Na amendoeira, a doença provocada por Xylella fastidiosa é chamada de Almond Leaf Scorch disease (ALS), que provoca padrões irregulares de necrose da folha, causando queimaduras foliares que conduzem a uma clara diminuição da produtividade, uma mortalidade progressiva a partir dos ramos apicais e, finalmente, morte de árvores afetadas com ALS.
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Figura 10 - Sintomas da bactéria Xylella fastidiosa nas prunoideas |
No pessegueiro a doença é denominada por Phony Peach Disease (PPD) e apresenta sintomas morfológicos externos característicos, como ramos com entrenós mais curtos, comprimento dos pecíolos e da área foliar também menores e, num estágio mais avançado da infeção, ocorre senescência das folhas mais maduras, ficando o ramo desprovido de folhas ou com pequeno número de folhas reduzidas no seu ápice.
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Figura 11 - Sintomas da bactéria Xylella fastidiosa em Quercus sp. |
A sintomatologia da doença em Quercus sp. (Bacterial leaf scorch disease – BLS.), é a queimadura foliar, irregular nos carvalhos, bem evidente no final do verão e outono, com descoloração apical pronunciada e um halo vermelho ou amarelo entre tecidos queimados e verdes, e as nervuras sobressaem em amarelo nas zonas aparentemente sãs.
Meios de proteção
Não existindo meios de luta direta contra a Xylella fastidiosa (os meios de luta químicos e controlo por meio de antibióticos não são eficazes), o combate a esta doença passa essencialmente por medidas de natureza preventiva, atuando sobre o vetor e o material de multiplicação; medidas fitossanitárias aplicadas para impedir a introdução e a propagação da doença, que incluem o uso de cultivares resistentes, a utilização de enxertos isentos, certificação de material de multiplicação e a remoção e destruição de material infetado, gestão de insetos vetores e hospedeiros espontâneos, nas zonas envolventes dos pomares (controlo de vetores em pomares jovens), controle de infestantes, poda de ramos com sintomatologia, manutenção do pomar em boas condições nutricionais e estabelecimento de quebra-vento.
Neste momento, não é conhecido um método eficaz para o controlo da doença, pelo que a solução mais segura, se forem identificados focos, é abater e queimar os hospedeiros doentes.
Focos detetados na Europa
No sul de Itália (Apuglia), em 2013, foi confirmada a variante X. fastidiosa subsp. pauca, devastando uma extensa área de olival e afetando diversas ornamentais.
Detetada no sul da França e Córsega, em 2015, a variante X. fastidiosa subsp. multiplex em plantas de Polygalla myrtipholia, entre outras ornamentais, que apresentavam sintomas de dessecamento parcial.
Mais recentemente, em 2016, foi detetada a variante X. fastidiosa subsp. fastidiosa na Alemanha, em Nerium oleander.
Estas variantes podem devastar culturas importantes, tais como Oliveira, Citrinos e Videira.
Em 2017, foi confirmada pelos serviços fitossanitários espanhóis, a primeira deteção de Xylella fastidiosa no território continental de Espanha, em Alicante -Valência.
Esta deteção ocorreu num pomar de amendoeiras de cerca de meio hectare, com mais de 30 anos.
Quais são as medidas?
Tendo em conta a natureza do organismo especificado, é provável que se propague ampla e rapidamente.
Face à evolução da presença de focos de Xylella fastidiosa (bactéria de quarentena) na Europa e aos últimos desenvolvimentos nos conhecimentos científicos sobre a bactéria, foi publicada, no passado dia 15 de dezembro, uma alteração da legislação comunitária em vigor (Decisão de Execução 2017/2352, de 15 de dezembro, que altera a Decisão de Execução 2015/789 da Comissão, de 18 de maio), que estabelece medidas de emergência para o seu controlo.
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) elaborou um Plano de Contingência, onde se detalham as medidas em vigor, das quais se destacam as seguintes relativas à circulação na UE:
· obrigatória a receção e/ou expedição das plantas da “lista da Comissão” com passaporte fitossanitário, seja qual for a sua origem e; · obrigatória a comunicação da aquisição de plantas hospedeiras oriundas de zonas demarcadas;
Recorde-se que é proibido ser portador de plantas de qualquer espécie suscetível proveniente das ilhas Baleares.
De acordo com a informação da autoridade fitossanitária espanhola, estão a ser tomadas as medidas de erradicação previstas na legislação comunitária em vigor, incluindo a aplicação de tratamentos inseticidas contra os potenciais vetores da bactéria no pomar e na zona circundante, a destruição das plantas infetadas, a delimitação da área afetada e de uma zona tampão de 10 km de raio, com prospeção intensiva das culturas aí existentes, maioritariamente nespereiras, oliveiras, citrinos e amendoeiras.
As plantas presentes nos viveiros e centros de jardinagem localizados a menos de 10 km foram imobilizadas, serão testadas e feito o levantamento dos movimentos de material vegetal desses locais nos últimos 3 anos.
Os produtores e fornecedores das plantas referidas no parágrafo anterior devem manter por três anos os registos de cada lote fornecido e do operador profissional que o recebeu, e de cada lote recebido e do respetivo fornecedor.
Recorde-se também que, no que diz respeito aos locais de produção/engorda (viveiros) de todos os vegetais hospedeiros localizados fora das áreas demarcadas para Xylella fastidiosa (como é o caso de Portugal), a legislação comunitária já estabelecia a obrigação desses locais serem objeto de inspeções anuais e, caso fossem detetados sintomas, objeto de amostragem e análise para garantir um nível mais elevado de confiança relativamente à ausência da bactéria, havendo lugar à emissão do passaporte fitossanitário para a sua circulação, como atestação do cumprimento deste requisito.
Destacamos, face à sua particular relevância para os operadores económicos, que a partir de 1 de março de 2018 a emissão de passaporte fitossanitário e, portanto, a autorização de circulação de determinadas espécies vegetais, fica condicionada a:
- inspeções oficiais anuais e; - à amostragem e testagem oficiais obrigatórias.
Apelo aos agricultores e viveiristas:
Observe as suas plantas e sempre que detetar uma suspeita (sintomas) desta bactéria, isole as plantas e contacte a Direção Regional de Agricultura.
A prevenção é fundamental para evitar a introdução no nosso território.
A deteção precoce é determinante para o sucesso da erradicação de qualquer foco que ocorra no nosso território.
Fonte
Ofício Circular N.º 16/2017 - Lisboa, 30 de junho de 2017
Ofício Circular N.º 34/2017 - Lisboa, 20 de dezembro de 2017
Miguel Teixeira Direção Regional de Agricultura
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