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Os Reis, entre cantorias, a doçaria e as bebidas

bolo rei DICAs 1 E porque ainda assim o mês de dezembro já é escasso para tanta comemoração e porque o Natal é quando o homem quiser e porque os reis magos Baltazar, Gaspar e Belchior chegam tarde, mas a tempo de merecerem uma comemoração justa e digna, a 6 de janeiro são repetidamente celebrados aqui e ali, com colegas, amigos e, finalmente, em família de um lado e de outro.

Outrora, mais num contexto de ruralidade, a celebração dos Reis fechava com chave de ouro os festejos natalícios. Em cada sítio, organizavam-se grupos que, pela noite dentro, de porta em porta, percorriam a vizinhança, tocando instrumentos musicais e entoando cantares que apelavam ao cabeça de casal a abertura da porta da sua casa e que lhe fosse servido algo – bebidas e doçaria que o excesso produtivo do Natal tivesse acautelado - que lhes aconchegasse as barrigas e lhes amaciasse as gargantas.

A celebração tradicional dos Reis, embora ainda se mantenha em certos núcleos, saíram da escuridão da noite para a luz do dia. A romaria acontece um pouco por todo o lado, maioritariamente levada a cabo por grupos de folclore e outros grupos entoando cantares ao som de instrumentos musicais tradicionais. Visitam instituições públicas e organizacionais e é uma forma de apresentarem saudações e desejarem um bom ano quem lá vive e/ou trabalha.

A nível gastronómico, observa-se a aculturação da tradição do carismático bolo-rei da população continental para a madeirense, pela mão das grandes superfícies que começaram a marcar a sua presença na Ilha nas últimas duas décadas do século passado.

 

O bolo-rei carrega com ele o simbolismo que alude aos reis magos e respetivas oferendas. No formato e aparência alude à sua coroa com pedras preciosas, a massa dourada ao ouro, as frutas cristalizadas à mirra e o aroma ao incenso. E, para que o carisma do bolo-rei não colida com as preferências e “tolerâncias alimentares” de cada um e belisque a democratização da comemoração, a realeza alarga-se à rainha – bolo-rainha - e à princesa – bolo-princesa. Para além destes, há ainda membros alternativos, como as versões vegetarianas, as light e os escangalhados, …

O bolo-rainha e o princesa são versões mais suaves e toleráveis, sendo o bolo princesa a versão que mais agrada às crianças.

Seja bolo-rei ou rainha, são igualmente ricos, não só pelo ouro a que aludem, mas também pela abundância de açúcar e gordura da sua matriz, confortavelmente enquadrada na zona vermelha do semáforo nutricional. Uma fatia de tamanho médio destes bolos pode conter entre 300 a 400 kcal. O bolo-rei perdeu a fava e o brinde, mas as calorias mantiveram-se.

Mas está tudo certo, caso o bom senso tenha preservado os cuidados alimentares e de atividade física, nos dias que precederam os festejos no dia de Natal e de fim-de-ano e se mantiveram até à data. No entanto, se os festejos e a abundância desculpável e saudável dos dias de festa referidos foram a regra desde o início de dezembro até ao dia de Natal e se legitimaram com o dever de aproveitar as sobras até agora, está na hora de, apesar de tudo, não deitar a toalha ao chão, não ficar preso ao “perdido por cem perdido por mil” e, em 2023, utilizar com inteligência o ditado popular “um dia não são dias”, ou seja, sem perverter o seu sentido.

No entanto, vem aí o 15 de janeiro, dia de Santo Amaro, também conhecido como o “dia de varrer os armários” … que a varredura seja ligeira!


Vanda Cristóvão
Nutricionista, CP: 0700N
Serviço de Saúde da RAM,EPERAM

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