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Direção Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural (DRA) coordena, em parceria com a UMa, estágio do CTeSP-AB

“Efeitos de utilização de sementeiras biodegradáveis no desenvolvimento de alface e feijão mungoverde em Modo de Produção Biológico”

No âmbito do Curso Superior Técnico Profissional em Agricultura Biológica, da Universidade da Madeira, foi realizado um estágio, em contexto de trabalho, proposto pela Divisão de Inovação Agroalimentar - DIA, da Direção Regional de Agricultura (DRA), tendo em conta a pressão exercida pela Regulamentação Europeia para a diminuição gradual da produção destes tipos de plástico e a sua substituição por alternativas mais sustentáveis, assim como a crescente necessidade de descarbonização do setor agrícola e adaptação às estratégias do “Green Deal” e “Do Prado ao Prato” para auxiliar na mitigação dos efeitos das alterações climáticas e revigorar a segurança das cadeias de produção alimentar deste sector.

O trabalho desenvolvido consistiu na identificação de alguns resíduos agrícolas da Região Autónoma da Madeira e a transformação dos mesmos em protótipos de sementeiras biodegradáveis, de forma a diminuir o uso de plásticos descartáveis no sector da agricultura, auxiliando assim a adaptação deste setor a práticas mais sustentáveis.

Este estágio teve por objetivo estratégico compreender os efeitos da utilização de sementeiras biodegradáveis produzidas a partir de resíduos agrícolas da RAM, nas culturas de alface (Lactuca sativa L.) e de feijão mungo verde (Vigna radiata L.) em dois ensaios realizados em condições de estufa e ao ar livre, a fim de verificar os eventuais efeitos deste tipo de produtos biodegradáveis no desenvolvimento das plantas, na qualidade do solo e perceber a aplicabilidade e viabilidade deste tipo de alternativas, ao plástico descartável no sector da agricultura, nomeadamente em Modo de Produção Biológico, que necessita de formas de produção alinhadas com a responsabilidade e a sustentabilidade ambiental.

O estágio compreendeu as seguintes etapas:

1.ª - Produção de sementeiras biodegradáveis, utilizando resíduos agrícolas de banana, vinha e cana-de-açúcar (Fig. 1)

Figura 1:
estagio profissional sementeiras biodegradaveis figura1
a) Resíduos de banana
b) Resíduos de vinha
c) Fibras trituradas
d) Protótipos de sementeiras degradáveis

2.ª - Trabalho de campo

As sementeiras biodegradáveis foram preenchidas com turfa e procedeu-se à introdução das sementes de alface (Lactuca sativa L.) e das sementes de feijão mungo verde (Vigna radiata L.) nas mesmas.

Figura 2:
estagio profissional sementeiras biodegradaveis figura2 a estagio profissional sementeiras biodegradaveis figura2 b
a) Sementeiras biodegradáveis b) Sementeiras controlo (plástico reutilizável)
estagio profissional sementeiras biodegradaveis figura2 c estagio profissional sementeiras biodegradaveis figura2 d
c) Lote exterior d) Lote em estufa

Como controlo, foi realizada a sementeira de alface e feijão mungo em cuvetes de plástico reutilizável e as plântulas foram transplantadas para lote em condições de estufa e lote exterior (ar livre) no Centro de Desenvolvimento de Fruticultura Subtropical no Sítio das Quebradas - São Martinho (Fig. 2).

 

Foram realizados dois ensaios com 40 plantas de amostra, para cada cultura. Aproximadamente 35 dias após o transplante foi realizada a colheita das amostras de alface e, após 48 dias, foi realizada a colheita de feijão mungo verde.
Aquando da colheita, foi feita a medição do comprimento, largura e altura das alfaces. Foram pesadas, embaladas e etiquetadas individualmente, conforme o tipo de amostra (controlo ou sementeira biodegradável).

As plantas de feijão mungo verde foram colhidas, pesadas em fresco e etiquetadas individualmente, tendo sido realizada uma contagem inicial das vagens. Todas as amostras foram para o InovLab para a seguinte fase dos ensaios.

3.ª - Trabalho de Laboratório

estagio profissional sementeiras biodegradaveis figura3
Fig. 3 - Alface em tabuleiro para desidratação
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Fig. 4 - Amostras de alface desidratadas 
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Fig. 5 - Pesagem e contagem de vagens e feijões 

As amostras de alface foram pesadas individualmente em fresco, tendo sido retiradas e contadas as folhas de cada alface. As amostras foram dispostas em tabuleiros com papel vegetal (Fig. 3), separadas e identificadas. Estas foram desidratadas durante quatro dias, devidamente pesadas e etiquetadas, registando-se a biomassa remanescente (Fig. 4).

As amostras de feijão mungo foram colhidas e pesadas em fresco, tendo sido realizada a contagem das vagens (Fig. 5) por planta e por tratamento.

Posteriormente, procedeu-se à contagem do número de feijões por vagem.

Resultados:

1. Cultura da alface

• Observou-se a perda das amostras no lote exterior, devido ao calor excessivo que se fez sentir durante os ensaios, diversos constrangimentos de rega e presença de pragas agrícolas;

• As alfaces (controlo e sementeiras biodegradáveis) em condições de estufa apresentaram valores superiores de peso, número de folhas e biomassa, quando comparadas às alfaces de controlo e de sementeira biodegradável em lote exterior.

2. Cultura de feijão mungo verde

• Os feijões mungo verde de controlo e de sementeira biodegradável, em condições de estufa, apresentaram valores de peso fresco, número de vagens e número de feijões superiores, quando comparados aos valores apresentados pelas amostras de controlo e de sementeira biodegradável, em condições ao ar livre;

• Nos dois ensaios, as plantas de feijão mungo verde das sementeiras biodegradáveis apresentaram melhor desenvolvimento, quando comparadas às plantas de alface obtidas.

Conclusões

• Ambas as culturas, em sementeira biodegradável, mostraram melhor desenvolvimento em condições de estufa, quando comparadas às amostras desenvolvidas em lote exterior;

• As plantas de feijão mungo verde demonstraram boa adaptação e enraizamento nas sementeiras biodegradáveis, tal como uma rápida degradação do material biodegradável (apenas 56 dias após a introdução no solo);

• Os diferentes tipos de resíduos utilizados nas sementeiras biodegradáveis demonstraram influenciar de forma positiva o desenvolvimento das plantas, tal como a capacidade de retenção de água dos protótipos;

• A utilização destes produtos biodegradáveis demonstra elevado potencial de integração nos processos de produção agrícola, mas carece de mais estudos e ensaios aprofundados. Torna-se necessário aprofundar estes resultados obtidos com estas culturas de alface e feijão mungo verde, assim como a realização de analises químicas e nutricionais;

• Será importante a realização de novos estudos em outras espécies de interesse, tais como flores de corte, fruteiras e plantas aromáticas;

• Estes resíduos biodegradáveis estão alinhados com os ODS 11, 12, 13, 14 e 15 da Agenda 2030, podendo estimular a indústria regional e gerando impactos socioeconómicos positivos a nível regional e, eventualmente, nacional.

Nota: agradecemos todo o empenho, trabalho e dedicação do aluno Thiago Gomes, do CTSP em Agricultura Biológica, ao longo do estágio.


Natália Silva
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural
Divisão de Inovação Agroalimentar

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