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Consciencializar para melhor alimentar!

consciencializar para melhor alimentar 1 A 29 do passado mês de setembro celebrou-se o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar.

Nos dias que correm, o tema da alimentação está cada vez mais em voga e com razão! Preocupamo-nos mais com os alimentos que comemos e o impacto que têm na nossa saúde em geral, mas não nos podemos esquecer que, da mesma forma que nos preocupamos com os prejuízos dos transportes e combustíveis fósseis no ambiente, também a alimentação e as nossas escolhas diárias têm um impacto notório.

Desde a industrialização alimentar, ao embalamento e à importação de produtos alimentares, entre outros, a verdade é que nas últimas décadas os nossos hábitos alimentares têm ultrapassado os limites do natural e todas as refeições que fazemos têm um impacto importante.

O que é o desperdício alimentar?

O desperdício alimentar é muito mais do que deitar comida ao lixo.

Podemos definir o desperdício de alimentos como a diminuição na quantidade ou qualidade dos alimentos que resulta de decisões e ações de todos os intervenientes da cadeia.

Na verdade, temos de considerar toda a linha de produção: desde o campo até ao prato existem diversas vias pelas quais um alimento pode ser desperdiçado, como a colheita/abate, armazenamento, processamento e transporte, chegando até às superfícies comerciais e terminando na casa do consumidor.

Os números do desperdício alimentar

Estima-se que 931 milhões de toneladas de alimentos (17% do total de alimentos disponíveis aos consumidores em 2019) foram para o lixo, segundo dados da ONU. Temos, por outro lado, 811 milhões de pessoas que passam fome e um adicional de 132 milhões que sofrem com as ameaças da insegurança alimentar, especialmente com a pandemia de Covid-19.

Em Portugal, um estudo da Universidade Aveiro denominado “Transição alimentar sustentável em Portugal: uma avaliação da pegada das escolhas alimentares e das lacunas nas políticas de alimentação nacionais e locais", mostrou que Portugal apresenta a maior pegada alimentar per capita do mediterrâneo.

Outro estudo do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa encontrou que o maior desperdício na cadeia alimentar em Portugal situa-se no consumidor, totalizando cerca de 1 031 mil toneladas de alimento desperdiçado, sendo a pegada ecológica equivalente a 30%, mais do que os transportes e energia.

A responsabilidade do consumidor

Ao longo da cadeia de abastecimento, a pegada de carbono do alimento e, consequentemente, a pegada do seu desperdício, vai aumentando, uma vez que acumula as várias etapas anteriores. A última fase da cadeia alimentar é, assim, a que corresponde à maior pegada de carbono, sendo o gasto de recursos e a quantidade de emissões de gases com efeito de estufa superior, devido ao efeito cumulativo.

10 atitudes a ter como consumidor:

1. Faça visitas regulares à despensa e frigorífico

Antes de irmos ao supermercado, é importante avaliar os alimentos que temos em casa, dando maior atenção aos alimentos mais perecíveis, como os frescos.

Devemos priorizar os consumos dos produtos alimentares mais próximos do prazo de validade, aplicando a regra FIFO/FEFO - “os primeiros a chegar são os primeiros a serem consumidos”. Assim, conseguimos aproveitar alimentos que poucos dias depois já não estariam em condições adequadas para consumo.

2. Preste atenção ao prazo de validade dos alimentos

No momento de avaliar os produtos em casa ou nas compras, verifique as menções: "Consumir de preferência antes...“ vs "Consumir até...". Apesar de aparentarem significar o mesmo, têm implicações diferentes no estado do alimento.

 

O primeiro refere-se a alimentos que, depois da data indicada, ainda estarão bons para consumo, mas poderão ter as suas característicass organoléticas alteradas (exemplo: massa). Já o segundo, refere-se a alimentos que, a partir da data mencionada, já não são seguros para consumo (exemplo: peixe embalado).

Assim, já não estaremos a deitar alimentos que ainda estariam em boas condições de consumo, mas que, ao ser mal interpretado o rótulo, poderíamos deitar fora.

3. Faça uma ementa semanal

Esta prática pode parecer, inicialmente, mais trabalhosa, mas permite-nos programar o que iremos cozinhar ao longo da semana, planeando os alimentos que necessitaremos de comprar e os que já temos em casa, bem como as quantidades exatas a usar. Podemos também fazer esta ementa de acordo com os princípios de uma alimentação saudável, garantindo variedade ao longo da semana, ao invés de utilizar refeições rápidas em cima da hora.

4. Faça uma lista antes de ir ao supermercado

A lista de supermercado permite-nos comprar de forma racional, evitando levar mais coisas do que realmente precisamos e o excesso de stock em casa, que irá potenciar o desperdício. É importante, ainda, evitar comprar grandes quantidades de fruta e vegetais frescos, que poderão se degradar mais rapidamente.

5. Compre fruta e hortícolas ‘feios’

Há cada vez mais projetos que permitem o aproveitamento de frutas e hortícolas fora das dimensões preconizadas no embalamento, mas que ainda estão em óptimo estado para consumo. A beleza dos alimentos não garante que tem mais nutrientes, por isso, sempre que possível, escolha no supermercado estes frescos ‘menos bonitos’ no exterior, mas cheios de nutrientes no interior!

6. Aproveite a água de cozedura de legumes, entre outros

Aproveite, sempre que possível, a água da cozedura dos legumes para a confeção de sopas, molhos, purés ou cozinhar outros pratos (massa, arroz, etc.). Está não só a aproveitar um recurso escasso – a água – como as vitaminas e minerais que ficaram na água de cozedura.

7. Equilíbrio nas porções

Garantir que comemos em porções equilibradas garante não só uma boa manutenção do nosso peso corporal, mas também uso racional dos recursos.

8. Congele alguns alimentos e refeições

A congelação é um dos métodos de conservação de alimentos mais eficazes, ao garantir maior durabilidade, segurança e mantendo o valor nutricional. Devemos congelar os alimentos ou refeições no seu estado mais fresco (exemplo: refeições cozinhadas no dia) quando sobra grandes quantidades, de modo a evitar o desperdício e garantir refeições rápidas quando o tempo aperta.

9. Guarde as sobras das suas refeições no frigorífico e reutilize-as

Dê uma nova oportunidade às sobras e seja criativo na cozinha! Podemos aproveitar a fruta madura para fazer batidos ou bolos, a carne ou peixe para empadão ou pratos de panela, o pão para torradas, rabanadas ou pão ralado e leguminosas para fazer hambúrgueres vegetarianos.

10. Faça um correto armazenamento dos alimentos em casa

Um correto armazenamento é muito importante para prevenir a deterioração dos alimentos:

- Na fruteira, existem frutas que libertam mais etileno (como a banana, abacates e pêras), acelerando a maturação dos restantes frutos;
- Verificar o estado dos alimentos com frequência;
- Guardar os secos e conservas num local fresco e seco, ao abrigo da luz;
- Garantir uma correta organização dos alimentos no frigorífico, uma vez que as prateleiras superiores são menos frias que as inferiores, e a porta está sempre sujeita a mais variações de temperatura, por estar com frequência a ser aberta e fechada.

Tem, assim, várias dicas para garantir que a sua alimentação é saudável, mas igualmente sustentável e amiga do ambiente, de modo a garantir que as gerações vindouras tenham a mesma disponibilidade alimentar e um planeta com recursos naturais suficientes.


Beatriz Azevedo (CP: 4055N)
Nutricionista do SESARAM,EPE

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