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A melhor alimentação para os avós

alimentacao avos 1 O Dia Mundial dos Avós tem origem portuguesa. Teve como mentora Ana Elisa Couto (1926-2007), natural de Penafiel, avó de seis netos, conhecida como Dona Aninhas. Durante 20 anos, esta senhora fez sua a missão de reunir vontades para que se instituísse uma data que valorizasse a figura dos avós.

Em 2003, este objetivo foi concretizado oficialmente pela Assembleia da República. O dia estabelecido para comemorá-lo foi 26 de julho, por ser o dia de São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria e avós de Jesus Cristo, considerados padroeiros dos avós, e esta foi também uma intenção de os homenagear.

Em fevereiro de 2021, o papa Francisco anunciou a comemoração de um Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, para ser celebrado anualmente pela Igreja Católica, no quarto domingo do mês de julho. Nesse primeiro ano, foi comemorado no dia a 25 de julho, sob o lema “Eu estou contigo todos os dias”, que foi a promessa que o Senhor fez aos discípulos antes de subir ao Céu.

Este ano, a Igreja Católica comemorará o 2.º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos no domingo, 24 de julho. O tema escolhido pelo Santo Padre é “Dão fruto mesmo na velhice”. A intenção é destacar o quanto os avós e idosos são um valor e um dom, tanto para a sociedade quanto para a comunidade eclesial.

Após pesquisar sobre a existência deste dia, para mim desconhecido, em particular sobre a abnegação e resiliência da Dona Aninhas em tornar esta data o seu dia e o de todos os avós, fui gradualmente invadida por uma profunda nostalgia, ao recordar as minhas vivências com os meus dois avôs, já que não as tenho das minhas avós, por terem partido, uma antes da minha chegada e a outra cedo de mais para dela poder ter memórias.

E se o tema para este ano, da minha perspetiva, é até redutor, pois os meus avôs, já há muito falecidos, continuam a dar frutos, o tema do ano anterior, “Eu estou contigo todos os dias”, é tudo o que eu sinto e dir-lhes-ia, se pudesse.
O objetivo destas notas introdutórias foi contextualizar a origem do tema que me foi indicado para refletir: “A melhor alimentação para os avós”.

Uma grande dificuldade na abordagem deste tema é a resposta à pergunta: Quem são os avós? São um universo de indivíduos em condições sociodemográficas e de saúde muito díspares. Em relação à faixa etária dos avós, ela apresenta uma grande amplitude e, curiosamente, nas últimas 2 a 3 décadas, as faixas etárias dos pais assemelham-se à dos avós. Também é cada vez mais comum nas novas configurações familiares os avós serem pais e/ou mães de filhos com menos idade que alguns dos seus netos.

Em consequência, os avós podem ser indivíduos adultos ativos e saudáveis e não corresponder às idealizações comuns que os categorizam como indivíduos idosos, normalmente reformados ou pensionistas com as “maleitas” e limitações que a vida lhes foi apresentando, fruto das suas opções de vida, da sua genética e das letras do seu fado. 

 

 

Esta heterogeneidade de condições diversas patente nos elos familiares legitima que possamos questionar a retidão de utilizar o elo familiar como critério principal para tecnicamente idealizar sobre qual a sua melhor alimentação.

Penso que, a partir de agora, podemos prosseguir, porque está salvaguardada a possibilidade de melindre por parte de leitores mais sensíveis que, sendo avós adultos, não aceitariam recomendações alimentares específicas para bisavós e avós de idade avançada.

Mas esse não será um risco porque, se todos forem abençoados pela boa saúde, os princípios técnicos orientadores para a alimentação do dia-a-dia dos avós, pais, filhos netos e bisnetos comunga dos critérios básicos da alimentação saudável: ser variada, equilibrada e completa e ser organizada no dia-a-dia.

Falar da melhor a alimentação, seja para quem for, obriga a destacar que as pessoas são mais do que um corpo físico. Neste sentido, a alimentação, para além de nutrir o corpo, tem uma função maior na nossa vida. Comer é “estar junto”, é o “trocar com outro”, ou seja, inclui uma dimensão social e emocional.

A melhor alimentação equilibra obrigatoriamente a qualidade nutricional na mesma medida do afeto que nutre a alma, as emoções e a identidade social e cultural.

E a propósito desta última consideração, o alerta para o efeito devastador de algumas formas de comer, muito em voga, por serem disruptivas da dimensão social e emocional inerente à partilha das refeições em família e/ou amigos. Estas formas de comer são propagadas por fundamentalistas, ao abrigo de resultados de estudos que não incluíram as variáveis da dimensão social e emocional. E, infelizmente, são cada vez mais as pessoas em que comer é um ato solitário, que nem cumpre o propósito de nutrir o corpo.

Remato com quatro considerações:

- Para a alimentação ser a melhor alimentação para todos deve equilibrar a qualidade nutricional na mesma medida do afeto que nutre a alma, as emoções e a identidade social e cultural;

- Comer em família, seja qual for a sua configuração, é mais do que de saborear alimentos: são momentos e oportunidades de fortalecimento de vínculos e de identidade;

- Se falamos em avós e netos … eu arriscaria dizer que a “a melhor alimentação para os avós” é aquela que lhe aconchega o estômago, mas que, principalmente, lhe enche a alma e aquece o coração, porque é partilhada com os netos e servida com melhor e mais saudável nutriente: o amor.

- Todos os netos deveriam ter o “direito” a ter avós. A vida, às vezes, não o permite por razões incontornáveis. Mas se a vida lhes proporcionou uma existência simultânea, todos aqueles que possam promover a convivência entre avós e netos devem priorizar os interesses destes em detrimentos de outros quaisquer interesses ou argumentos. Infelizmente para a humanidade, há muitos avós e netos “órfãos” dos seus netos e avós, respectivamente, porque outros assim o determinaram por razões menores.


Vanda Cristóvão (Nutricionista 0700N)
Serviço de Saúde da RAM, EPERAM

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