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O setor da Floricultura na Região Autónoma da Madeira – 2020 (parte III)

4. Rendimento do sector

Segundo os elementos colhidos pela DRA, o sector florícola rendeu, em 2020, cerca de 6,75 milhões de euros, o que representou um abaixamento de 40%, em relação a 2019, quando este valor ascendeu a 11,3 milhões de euros.

No entanto, há que considerar estes valores com um certo cuidado, uma vez que os de 2020 estão fortemente influenciados pelas quebras provocadas pela pandemia Covid 19, não se podendo, evidentemente, retirar conclusões precipitadas quanto à tendência do sector produtivo regional.

Há que alertar que o rendimento da floricultura regional nos últimos anos centrou-se à volta dos 10,5 a 11,3 milhões de euros, sendo este o valor mais indicativo da importância económica do sector.
Estes dados podem, facilmente, ser observados no Quadro 9, que se apresenta em seguida:
floricultura RAM quadro9

5. Formas de comercialização da flor

Pela consulta do Quadro 10, é possível constatar que a grande maioria das explorações comercializa a sua produção de flores de corte através da venda direta ao consumidor e a floristas. Obedecendo a uma certa tradição, aparece, já com maior importância, a produção vendida para o mercado grossista (52%), o qual, quebrando um circuito económico do sector menos eficiente, tem vindo a assumir um protagonismo interessante nos últimos anos.
floricultura RAM quadro10

6. Exportação e importação de flores

Regista-se uma redução das exportações e das importações, sinal que o mercado interno está a absorver as flores produzidas na Madeira (mais frescas e com maior durabilidade nas várias aplicações) em maior quantidade.

A esmagadora maioria das flores de corte exportada é constituída pelo cymbidium e pelas próteas (esta última com valores mais consolidados a partir do início do século atual) e mais recentemente as helicónias. O Quadro 11 mostra as tendências de exportação até 2020.

Deve-se, no entanto, dizer que este canal de comercialização da produção é caracterizado por diversos aspetos:

- É mais exigente quanto à qualidade do produto, o que obriga os agricultores interessados nesta vertente a redobrar os seus cuidados no seguimento da cultura;

- Está muito sujeito às flutuações de cotação do mercado internacional. Este aspeto assume maior importância na RAM, dada a dimensão das explorações agrícolas, a sua pulverização e o seu menor grau de mecanização, que, acarretando maiores custos, tornam a produção mais suscetível às contingências do mercado;

- As baixas cotações no mercado internacional (nomeadamente o holandês), reflexo da crise financeira internacional e da consequente redução da procura em vários países europeus por estes bens (que não são de primeira necessidade);

- Dado o menor volume de exportação, os custos de transporte são, usualmente, mais elevados, o que, aliado ao fator anterior, expõe mais este vetor de comercialização às contingências de mercado. Este aspeto tem sido, e pode ser ainda mais, atenuado com a disponibilidade de um transporte aéreo específico para este fim (vulgo “avião cargueiro”);

 

 

 

- A pequena organização/associação dos agricultores, tanto no que se refere à organização produtiva, como na coordenação das operações pós-colheita, torna esta orientação de produção menos consequente.

A visão do Quadro 11 ilustra o que antes se afirmou, como também mostra a quebra que a pandemia Covid-19 provocou na exportação/expedição de flores. Este efeito foi um pouco “mascarado” pelo consumo local de flores, como atrás se referenciou.
floricultura RAM quadro11 Perante estes constrangimentos, é compreensível o que se verifica na componente exportadora, mas tal não teve, no entanto, um reflexo na produção e na qualidade da flor produzida. A pandemia veio reforçar uma situação anteriormente sentida: as explorações apostam mais no mercado regional, bastante ávido de uma marca madeirense e ancestral (já o nosso folclore refere-se à Madeira como um “jardim”…).

Este epíteto tem vindo a merecer a atenção das entidades turísticas regionais, que têm apostado em dar ênfase especial aos jardins madeirenses (sejam das quintas, sejam dos pequenos espaços familiares), que continuam a despertar a curiosidade de todos os que nos visitam e que constituem um factor importante de destaque do “destino Madeira”, tão conhecido internacionalmente. Esta é uma componente não diretamente económica do sector florícola regional, cuja manutenção se deve, cada vez mais, impor como selo identificativo da Região e do seu povo

Em 2020, a importação/entrada de flores de corte, plantas vivas e folhagem foi de 301.397 unidades. Como seria natural, também este parâmetro sofreu um abaixamento significativo com a pandemia, pois os dados de 2019 indicavam uma entrada 504.007 unidades. De qualquer forma, independentemente dos dados de 2020, existe, e mantém-se, uma tendência para que o nível de importação se mantenha dentro de valores razoáveis, sendo de realçar que, para tal, muito tem contribuído a opção dos consumidores pelas flores produzidas na RAM (usualmente mais frescas e com maior durabilidade, ou seja, de qualidade superior).

7. Outras oportunidades em desenvolvimento

A ilha da Madeira possui na sua paisagem típica endemismos macaronésios com grande potencial para uso como ornamentais. No entanto, o seu uso é ainda muito reduzido, em grande parte devido ao desconhecimento dessas plantas.

A vantagem da utilização de plantas endémicas prende-se com o facto das mesmas estarem adaptadas às condições climáticas do local e serem, em geral, pouco exigentes em água e em cuidados de manutenção. Além disso, a sua utilização em detrimento das exóticas também ajuda a diferenciar o setor do turismo da RAM.

Neste contexto, a DRA tem em curso um projeto, aprovado pelo PRODERAM 2020, com um valor elegível de 91.233,75€, que visa a realização de ações de prospeção, colheita, conservação e documentação de 10 plantas endémicas da Madeira (Musschia aurea, Matthiola maderensis, Calendula maderensis, Artemisia argentea, Cheirolophus massonianus, Aeonium glutinosum, Argyranthemum dissectum, Argyranthemum pinnatifidum, Sedum nudum e Sedum fusiforme), a sua posterior manutenção, multiplicação, gestão, bem como a promoção da sua valorização económica.

Com este projeto é visado estimular a utilização das plantas endémicas em causa, seja em vaso, seja para cultivo em jardim, envolvendo arquitetos paisagistas, viveiristas, empresas de jardinagem, entidades públicas e privadas, e proporcionar a criação de mais uma alternativa para a produção florícola profissional.


Ricardo Costa
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

 

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