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Níveis de micotoxinas presentes em amostras colhidas na Região Autónoma da Madeira no âmbito do Projeto PERVEMAC II

micotoxinas PERVEMAC II 4 As micotoxinas são metabolitos secundários produzidos por vários fungos filamentosos, que podem crescer, isoladamente ou em simultâneo, em vários tipos de alimentos. Enquanto que algumas, como a penicilina ou a cefalosporina são úteis ao Homem, outras apresentam problemas sob o ponto de vista da segurança alimentar com grande impacto económico.

As mais relevantes são as aflatoxinas B1 (AFB1), B2 (AFB2), G1 (AFG1), G2 (AFG2), a ocratoxina A (OTA), a patulina (PAT), as toxinas T-2 e HT-2, a deoxinivalenol (DON), a zearalenona (ZEN), o nivalenol (NIV) e as fumonisinas B1 (FB1) e B2 (FB2).

As micotoxinas são desde há muito reconhecidas como potencialmente perigosas tanto para os seres humanos como para a saúde dos animais, visto algumas delas apresentarem propriedades carcinogénicas, mutagénicas ou teratogénicas (IARC, 2012). Estes contaminantes constituem um dos riscos mais notificados pelos Estados Membros da União Europeia no sistema de alerta rápido (RASFF) (European Commission, s.d.).

As aflatoxinas (AFs - AFB1, AFB2, AFG1 e AFG2) são um grupo que ocorre naturalmente numa larga gama de alimentos, produzidos principalmente por duas espécies de Aspergillus: A. parasiticus e A. flavus. A primeira pode ser encontrada no solo e a segunda nas partes aéreas das plantas (EFSA, 2004). A AFB1 é a aflatoxina mais importante ao nível da sua frequência e toxicidade, sendo classificada pela International Agency for Research on Cancer (IARC) no grupo 1A, como carcinogénica para humanos (IARC, 2012).

micotoxinas PERVEMAC II 1
micotoxinas PERVEMAC II 2
micotoxinas PERVEMAC II 3

A OTA é produzida pelo Penicillium verrucosum em climas temperados e pelo Aspergillus ochraceus em áreas quentes e pode contaminar muitos produtos agrícolas, alimentos e plantas. Devido aos seus efeitos teratogénicos, mutagénicos e hepatotóxicos, a OTA foi classificada pela IARC (WHO, IARC 2002) como possivelmente carcinogénica para humanos (grupo 2B).

As Fumonisinas B1 e B2 são principalmente produzidas pela espécie Fusarium moniliforme, um fungo comum que afeta os cereais. Deste grupo, a FB1 é considerada a mais prevalente e mais tóxica podendo ser encontrada principalmente no milho. A FB1 mostrou induzir tumores no fígado e rins e está considerada pela IARC no Grupo 2B como possivelmente carcinogénica para humanos (WHO, IARC, 2002). No milho e no sorgo, a FB1 é produzida pelo Fusarium verticillioides e, em menor extensão, pelo Fusarium proliferatum.

As toxinas T-2 e HT-2 pertencem ao grupo dos tricotecenos tipo A e podem estar presentes em cereais e grãos. São produzidas pelo Fusarium sporotrichioides em condições de frio e humidade e estão associadas a problemas de redução de peso, lesões no fígado e rins, toxicidade dérmica, reprotoxicidade, neurotoxicidade, hematotoxicidade e imunotoxicidade (EFSA, 2011). A DON, também conhecida como vomitoxina, pertence ao grupo dos tricotecenos tipo B e pode ocorrer em diversos cereais e grãos, produzida por vários fungos como Fusarium graminearum ou Fusarium culmorum (JECFA, 2001). Surge normalmente associada com outras toxinas Fusarium como a ZEN ou o NIV (EFSA, 2004). A DON parece ser genotóxica (JECFA, 2001), contudo, devido a uma evidência limitada de carcinogenicidade, é considerada pela IARC no Grupo 3. A ZEN é uma micotoxina estrogénica, produzida por espécies do género Fusarium nomeadamente F. graminearum, F. culmorum, F. equiseti e F. verticillioides (EFSA, 2011) que pode ocorrer no milho, trigo, cevada, arroz, sorgo e outros pequenos grãos (JECFA, 2001). A toxicidade da ZEN está principalmente associada à sua atividade estrogénica com associação a adenomas pituitários e no fígado, em animais de laboratório. Está enquadrada pela IARC no grupo 3, devido a uma inadequada evidência em humanos e evidência limitada em animais de laboratório. (IARC, 1993).

 

 

A ocorrência de micotoxinas nos alimentos está altamente associada à zona geográfica e condições climáticas, nomeadamente, altas temperaturas e níveis altos de humidade, condições que fazem da Macaronésia uma região geográfica potencial para a sua biossíntese, mesmo para cereais e grãos importados.

O projeto PERVEMAC 2, aprovado no âmbito do Programa de Cooperação Territorial MAC 2014-2020, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e em que a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural está envolvida enquanto parceira, tem por finalidade estudar a incidência e o efeito na saúde dos consumidores, provocada pela presença de resíduos de pesticidas, micotoxinas e metais pesados nos produtos vegetais que se consomem nas diferentes regiões da Macaronésia.

No âmbito da sua atividade 2.1.3 o Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar (LRVSA) levou a efeito um conjunto de análises de diversas amostras, identificadas no Quadro I, quanto à presença de um conjunto fixo de algumas micotoxinas, que não teve em conta a maior ou menor probabilidade da sua ocorrência em cada uma das matrizes.

Apesar de em trabalhos anteriores (Fernandes, Barros, & Câmara, 2013) (Fernandes, Barros, Santo, & Câmara, 2014) terem sido detetadas algumas micotoxinas em produtos comercializados na Região Autónoma da Madeira (RAM), os resultados agora produzidos não revelaram teores superiores aos limites máximos definidos pela Comissão Europeia ou superiores aos limiares de reportação definidos pelo LRVSA para este estudo. Apesar das análises abrangerem um número limitado de micotoxinas assim como um pequeno número de amostras, estão reunidas condições para que este controlo seja iniciado na RAM e possa gradualmente ser incorporado nos planos oficiais de controlo destes contaminantes.

micotoxinas PERVEMAC II quadro1

Divisão de Análise de Resíduos e Contaminantes
Direção de Serviços dos Laboratórios Agrícolas e Agroalimentares
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

Bibliografia:

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EC. (2020). Regulation (EU) N.º 2020/500 of the Commission. Official Jornal of the da European Union(L 109/2).

EFSA. (2004). Opinion of the Scientific Panel on Contaminants in the Food Chain on a request from the Commission related to Aflatoxin B1 as undesirable substance in animal feed - (Request N° EFSA-Q-2003-035). The EFSA Journal , 39, 1-27.

EFSA. (2004). Opinion of the Scientific Panel on Contaminants in the Food Chain on arequest from the Commission related to Deoxynivalenol (DON) as undesirable substance in animal feed (Question N° EFSA-Q-2003-036). The EFSA Journal, 73, 1-42.

EFSA. (2011). Scientific Opinion on the risks for animal and public health related to the presence of T-2 and HT-2 toxin in food and feed. (E. F. Authority, Ed.) EFSA Journal, 9 (12):2481.

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European Commission. (s.d.). Rapid Alert System for Food and Feed (RASFF) - RASFF Portal – online searchable database. (E. C.-D. Consumers, Editor) Obtido de http://ec.europa.eu/food/food/rapidalert/rasff_portal_database_en.htm.

Fernandes, P. J., Barros, N., & Câmara, J. S. (2013). A survey of the occurrence of ochratoxin A in Madeira wines based on a modified QuEChERS extraction procedure combined with liquid chromatography–triple quadrupole tandem mass spectrometry. Food research international, 54(1),, 54, 293-301.

Fernandes, P. J., Barros, N., Santo, J. L., & Câmara, J. S. (2014). High-throughput analytical strategy based on modified QuEChERS extraction and dispersive solid-phase extraction clean-up followed by liquid chromatography-triple-quadrupole tandem mass spectrometry for quantification of multiclass mycotoxins in cereals. Food analytical methods, 8, 841-856.

IARC. (1993). World Health Organization - International Agency for Research on Cancer (IARC) - Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans, Volume 56.

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JECFA. (2001). Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA), Fifty-sixth meeting - Summary and Conclusions.

WHO, IARC. (2002). World Health Organization and International Agency for Research on Cancer - IARC Monographs on the Evaluation of Carcinigenic Risks to Humans - Volume 82.

 

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