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O LRVSA na defesa da saúde pública regional – o controlo de zoonoses
(o caso da pesquisa de Trichinella spp em carne de suínos)

A triquinelose é umas das zoonoses (doenças dos animais transmissíveis ao homem) de maior importância em saúde pública e com grande impacto na segurança alimentar, representando mesmo um problema económico em muitos países.

Em Portugal, desde o ano de 2005 que se monitoriza e efetua o controlo desta doença transmissível através da ingestão de carne de suínos (porcos e javalis).

No Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar (LRVSA), a análise de amostras de cada suíno abatido e inspecionado é efetuada regularmente, antes da respetiva carne ser encaminhada para o circuito da restauração regional, através de um procedimento técnico laboratorial acreditado pelo IPAC. Esta monitorização faz-se ao abrigo do Plano de Controlo Oficial de deteção de Trichinella spp, segundo o Regulamento (CE) n.º 2075/2005, que aprova vários métodos laboratoriais de rotina para a deteção deste nemátode em carne fresca.

Entre vários exames possíveis, desde serológicos ao exame do triquinoscópico, passando pelo método de digestão artificial, é o último o efetuado no LRVSA (fig. 1), que, mediante a ação de uma enzima (pepsina) e de um ácido (ácido clorídrico) digerem o tecido muscular, libertando as larvas, caso a carne esteja infetada com Trichinella spp.

figura1.1 trichinella spp figura1.2 trichinella spp
Fig. 1- Pesquisa de Trichinella spp no LRVSA  

Trichinella spp (fig. 2) é o nome científico do parasita, vulgarmente conhecido por Triquina, nemátode do género Trichinella, responsável pela Triquinelose.

figura2.1 trichinella spiralis figura2.2 trichinella spiralis
Fig. 2 - Trichinella spiralis (nemátode do género Trichinella)  

Trata-se de um verme que vive na mucosa intestinal comummente encontrado a parasitar suínos, ratos e seres humanos e cujo ciclo de vida (ciclo doméstico) ocorre todo no interior do hospedeiro (fig. 3), havendo para, além do doméstico, o ciclo silvático do parasita, mais difícil de controlar, e que envolve raposas, javalis e lobos, que, por sua vez, podem transmitir o parasita a animais domésticos.

A infeção para o ser humano, conforme referido, ocorre quando este ingere carne crua ou mal cozinhada de porco (ou os seus derivados) ou, mais raramente, de javali, infestada com larvas do parasita. Por este facto, é evidente que a prevenção desta zoonose se faz facilmente mediante a total cozedura da carne (> 71°C) ou mediante a sua congelação a – 15ºC durante três semanas. 

 

De igual modo, não se devem alimentar os suínos domésticos com carne não cozida e deve-se desinfetar bem todas as superfícies que tiveram contacto com a carne crua e lavar bem as mãos após a sua manipulação. Deve ainda proceder-se regularmente a desratizações, sobretudo em explorações pecuárias, tendo em conta que os roedores são hospedeiros intermediários deste parasita.

Uma vez ingeridas pelo ser humano, mediante o consumo de carne infetada, as larvas atravessam a barreira intestinal e, após se reproduzirem e gerarem mais larvas no organismo durante semanas, estas podem disseminar-se por todo o corpo, através da corrente sanguínea e linfática. Como têm tropismo para os músculos (sobretudo para a musculatura esquelética estriada), ao fim de uns meses enquistam-se em vários músculos (ver figuras 3 e 4), como a língua, mas também os localizados entre as costelas, entre outros.

figura3 trichinella spiralis ciclo de vida
Fig. 3 - Ciclo de vida da Trichinella spiralis 
figura4 enquistamento de larvas
Fig. 4 - Enquistamento de larvas na musculatura
estriada
 

A maioria destas infeções são assintomáticas, mas muitas evidenciam sintomatologia que varia com o hospedeiro (e o seu grau de imunidade), com o número de larvas e com a quantidade de tecidos orgânicos invadidos.

Os sintomas variam desde gastrointestinais (como diarreia e vómitos) a dores abdominais e musculares (mialgias), febre e cansaço, podendo mesmo em casos severos haver complicações cardíacas (miocardite) ou neurológicas (como encefalites e distúrbios visuais) com desfecho letal, embora muito raramente. A boa notícia é que, sendo atempadamente diagnosticada e devidamente tratada, as pessoas afetadas podem recuperar totalmente da triquinelose.

Felizmente, no nosso país existem poucos casos de triquinelose relatados quer em seres humanos quer em animais, no entanto, nem os consumidores nem as entidades higiosanitárias podem descurar a necessidade de se controlar e travar o ciclo deste parasita, através da sensibilização para a prevenção, já mencionada, estendendo-a àqueles que abatem animais em ambiente familiar, com caráter cultural, que devem solicitar a inspeção da carne por um médico veterinário, que, por sua vez, diligenciará os procedimentos para despiste laboratorial desta zoonose no LRVSA.

E é neste ponto que o Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar se assume mais uma vez como um relevante agente da saúde pública na Região, ao promover a saúde da população através de vários esforços organizados da sociedade regional, com o objetivo de manter os seus cidadãos saudáveis.

Sílvia Vasconcelos
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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