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Poncha da Madeira – uma bebida prodigiosa

«E assim nos levam esses pobres homens e maia léguas, subindo e descendo por enormes desfiladeiros e custosas montanhas arrumados ao seu bordão, entretendo ainda por cima o passageiro com as suas trovas características ao aproximarem-se de qualquer taberna aonde possam mitigar a sede com um copo de aguardente agua e assacar, a que chamam ponche, e que há de ser pago pelo seu patrão».

FARIA, José Cupertino e, «O Archipelago da Madeira: guia descriptivo», 1901, Typ. J. L. Santos & Cª., Setúbal (p.p. 72-73).

A Poncha da Madeira é um produto tradicional completamente enraizado na cultura do povo madeirense, que, ao longo de gerações vem dando vida a esta bebida emblemática. A sua existência remonta ao século XIX, como a adaptação da bebida conhecida por "panche" trazida da Índia pelos viajantes ingleses no século XVIII.

A Poncha da Madeira apresenta alguma flexibilidade no que diz respeito à seleção dos seus ingredientes. O único ingrediente obrigatório, e que contribui indiscutivelmente para a sua tipicidade, é o Rum da Madeira. Os restantes ingredientes, quando utilizados, são cuidadosamente selecionados, de acordo com a mestria de cada produtor, como é o caso do mel, dos citrinos, do maracujá e do açúcar.

Desde 2014 que “poncha da Madeira” foi reconhecido como Indicação Geográfica Protegida, isto é, após uma proposta apresentada pelo Governo Regional da Madeira, a União Europeia reconheceu este nome como utilizado para designar uma bebida típica da Madeira, tratada e reconhecida como tal pelos consumidores. Assim sendo, foi reconhecido o nome “poncha da Madeira” como um Direito de Propriedade Inteletual do povo Madeirense e protegidas, ainda que de forma indireta, quer a origem geográfica da bebida quer a produção do rum local.

O decreto regional estabelece que a poncha deve incluir obrigatoriamente na sua produção Rum da Madeira. Institui também, que os equipamentos e processos utilizados sejam os adequados, de forma a obter um produto com as características sensoriais tradicionais específicas da Poncha madeirense.

É importante realçar que a arte na confeção desta bebida espirituosa não está somente nos ingredientes que a constituem – muito apreciados pelo povo desta Região e seus visitantes, como é o caso do Rum da Madeira, dos frutos regionais e, em alguns casos, do mel da Laurissilva –, mas também no know-how acumulado e transmitido ao longo de gerações.

De facto, grande parte do talento consiste em combinar os ingredientes e em ajustar as suas proporções, de modo a resultar no produto final a que todos estão habituados.

 

A Poncha da Madeira apresenta um leque muito variado de aromas e sabores, especialmente resultantes da utilização de frutos, mas também consequência de diferentes combinações de ingredientes e da arte de cada produtor.

Trata-se de uma bebida tradicionalmente opaca, resultado da utilização da polpa e do sumo dos frutos de origem, cuja cor varia do cítrico ao dourado com possibilidade de reflexos esverdeados podendo, no entanto, apresentar outra cor dependendo do fruto utilizado.

No nariz, apresenta aroma frutado, com características dos frutos de origem, nomeadamente citrinos como limão e laranja, podendo ser complementado com notas de carácter mais tropical a maracujá, num conjunto que revela frescura e intensidade aromática. A utilização do Rum da Madeira como um dos constituintes base da Poncha da Madeira contribui para um aumento da complexidade aromática adicionando aromas característicos da destilação da cana-de-açúcar fermentada.

A possibilidade de edulcoração também contribui para o aroma da bebida, podendo inclusive adicionar ao conjunto notas florais, como consequência da origem do mel.

Na boca, apresenta igualmente sabor intenso, persistente e característico dos frutos de origem. Doce, macio e equilibrado, pode apresentar flavours frutados e adocicados, que remetem para notas de fruta cítrica e mel de abelha.

Quem quizer que o «home» cante
Faça-lhe a bela vontade:
Dê-lhe «poncha» ou aguardente
Por obra de caridade.

Os caçadores habitualmente não comem caça. Assim, também, os lagareiros raras vezes bebem vinho.

A aguardente, em peça ou diluída em pouca água açucarada e com sumo de limão – a “poncha” - é a sua bebida favorita.

(…) Servida a «poncha», começava a repisa, cuja música seguia um ritmo aproximado às pateadas e impaciências dos nossos circos e teatros inferiores».

GOMES, João Reis, «O Vinho da Madeira – Como Se Prepara Um Néctar», 1937, Delegação de Turismo Funchal, Funchal, (p.p. 9).

 

Adaptação com base na Ficha Técnica do registo da “Poncha da Madeira” como Indicação Geográfica Protegida (IGP)

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