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O Dia de Reis

O Dia de Reis está aí à porta. Com ele, vêm as ‘Janeiras’, muita música e animação pela noite dentro e, claro, o Bolo Rei.

A data, que remonta ao século VIII, celebra a chegada dos três Reis Magos a Belém, levando ouro, incenso e mirra ao Menino Jesus, de acordo com a tradição cristã.

A noite de 5 de janeiro e madrugada de 6 é conhecida um pouco por todo o mundo como a ‘Noite de Reis’. É uma data celebrada com animação em vários pontos do planeta e na Madeira a tradição é forte e assinala o fim da ‘Festa’. Desarmam-se os presépios. Os enfeites natalícios voltam para as caixas. Grupos de pessoas juntam-se e vão de porta em porta para ‘Cantar os Reis’ (também conhecidas como ‘As Janeiras’), canções tradicionais sobre a vida de Jesus e de saudação às famílias.

Em troca, os donos das casas convidam os reiseiros a entrar e oferecem-lhes um sem número de iguarias da quadra natalícia. O ex-libris da noite é o afamado Bolo Rei, que não pode faltar nas mesas portuguesas. Na Região, oferecem-se também as broas e os licores tipicamente madeirenses, entre outras bebidas e doces e salgados.

Na Madeira e Porto Santo, as canções são acompanhadas por instrumentos populares, como o reco-reco, os ferrinhos, o acordeão, o cavaquinho, a braguinha, o rajão, as concertinas e o bombo. É uma noite de festa rija, onde se aproveita para visitar os presépios e as típicas lapinhas.

Um pouco por toda a Região, são promovidas inúmeras iniciativas, onde não falta animação musical, peças de teatro, ofertas de cabazes e megas Bolos Rei, que são distribuídos por todos (ver Agenda Semanal DICAs).

Se nunca saiu à rua para Cantar os Reis, este é o ano de juntar um grupo de pessoas e bater à porta de casas de amigos, vizinhos e conhecidos. Com certeza, esperam por si com uma mesa posta, bem fornecida de iguarias da época.

Tradições Mundo fora

Os três Reis Magos tornaram-se símbolos importantes na celebração do Natal e deles herdámos a tradição de oferecer presentes nesta quadra festiva. Na Antiguidade, oferecia-se o ouro aos Reis, representando a realeza e virtude, o incenso aos Sacerdotes, símbolo da espiritualidade, e a mirra aos Profetas, uma seiva com propriedades medicinais. Daí estas oferendas dos “magos” a Jesus recém-nascido, considerado o Rei de todos os Reis.

Por influência da Igreja Católica, o Dia de Reis é celebrado nos quatro cantos do Mundo de variadas formas.

- Portugal

Em Portugal, manda a tradição que grupos de pessoas se juntem para Cantar os Reis na noite de 5 de janeiro para 6 de janeiro, indo de casa em casa, onde lhes são oferecidas iguarias da quadra natalícia. Este também é dia de família: todos se juntam em torno da mesa onde não pode faltar o Bolo Rei.

- Espanha

Em outros países, como Espanha, esta é a data mais desejada da época pela maioria da população. As crianças são incentivadas a esperar pela noite de 5 de janeiro e tradicionalmente é dia de abrir os presentes. Deixam à janela bolinhos, vinho ou licor e ainda um pouco de erva para os camelos, quando os Reis Magos passam para deixarem os presentes. Algumas cidades espanholas organizam-se o Cortejo dos Reis, conhecido por ‘Calbagada del Reyes’, com carros alegóricos ricamente decorados que desfilam pelas ruas, acompanhados de muitos cavaleiros. No final do desfile os Reis misturam-se com as crianças dando-lhes pequenas ofertas.

- França e Quebec (Canadá)

Na França e no Quebec (Canadá), as famílias comem o ‘Galette des Rois’, que possui um brinde no seu interior. O bolo vem acompanhado de uma coroa de papel e a pessoa que encontra o brinde é coroada e oferece o bolo no ano seguinte.

- Alemanha

Na Alemanha, as crianças saem às ruas disfarçadas de Reis Magos. É tradição escreverem as iniciais dos seus nomes nas portas das casas.

- Hungria

Na Hungria, os mais novos vestem-se de Reis Magos e vão de porta em porta transportando presépios nas mãos. Em troca, recebem moedas nas várias casas.

 

- Brasil

No Brasil, a folia dos reis, levada pelos portugueses na época da colonização, transformou-se num movimento cultural. Grupos de pessoas vão a pé pelas ruas disfarçadas de Reis Magos, de mestre, contramestre, de músicos, trovadores e palhaços, deixando o ambiente mais animado. Tal como em Portugal, as famílias recebem os personagens do cortejo em casa oferecendo vários aperitivos tradicionais de cada uma das regiões brasileiras. Até 1967, o Dia de Reis era feriado nacional, por ser considerado dia santo.

Curiosidades: o Bolo Rei não é português e a tradição da fava escondida vem da Roma Antiga

Não é possível falar das Festas sem falar do Bolo Rei, que é uma presença obrigatória em quase todas as mesas das famílias portuguesas e encerra em si toda a simbologia desta quadra. Para além da forma em coroa e do brilho das frutas cristalizadas do Bolo Rei, a côdea representa o ouro, as frutas cristalizadas e secas simbolizam a mirra e o aroma assinala o incenso.

A origem da fava

Reza a lenda que, quando “os magos vindos do oriente” chegaram a Belém, tiveram uma discussão sobre qual dos três teria a honra de ser o primeiro a entregar os presentes ao Menino Jesus. Durante a disputa, um artesão que por ali passava decidiu colocar um fim à discussão: confecionou um bolo e escondeu no seu interior uma fava. O bolo foi divido em três fatias e o Rei Mago a quem coubesse a fava seria o primeiro a entregar o presente ao recém-nascido. E assim o problema ficou solucionado.

Outra versão situa o início da tradição da fava no bolo na Roma Antiga. Durante os banquetes, os romanos elegiam o rei da festa entre si, tirando-o à sorte com favas. Por isso, o rei da festa também era chamado de ‘Rei da Fava’.

A igreja Católica aproveitou este jogo de crianças, característico do mês de dezembro e relacionou-o com a Natividade celebrada a 25 de dezembro e com a Epifania comemorada a 6 de janeiro. Com a grande influência da Igreja Católica durante a Idade Média, ficou definido que 6 de janeiro passasse a ser o Dia de Reis, assinalado com uma fava colocada num bolo cuja receita permanece desconhecida.

Bolo Rei surgiu na corte francesa durante o reinado de Luís XIV

A corte francesa também começou a celebrar os dias que vão do Natal ao Dia de Reis, seguindo a tradição cristã. O Bolo Rei terá surgido no reinado de Luís XIV para as festas do Ano Novo e Dia de Reis, uma iguaria imortalizada por Greuze no seu famoso quadro ‘Gâteau des Rois’. Após a Revolução Francesa, em 1789, o Bolo Rei foi proibido, tal como aconteceu em Portugal. No entanto, os pasteleiros continuaram a produzi-lo, chamando-o de ‘Gâteaux des Sans-cullotes’.

O Bolo Rei popularizou-se em Portugal no século XIX, mas sem qualquer semelhança ao Bolo de Reis feito na maioria das províncias francesas, que era um confecionado com massa folhada recheada de creme.

A verdade é que a receita portuguesa do Bolo Rei veio, igualmente, de França, mas do sul de Loire, pelas mãos de Baltazar Castanheiro Júnior. Chegada a Lisboa diretamente de Paris, coube ao afamado confeiteiro Gregório seguir a receita e confecionar o bolo em forma de coroa, com a fava e o brinde. Supostamente, foi a Confeitaria Nacional que, por volta de 1870, começou a vender o Bolo Rei. A ‘palavra’ passou. Depressa, outras confeitarias começaram a fabricá-lo.

O Bolo Rei expandiu-se em Portugal, atravessando décadas e décadas. Mas este haveria de passar por tempos difíceis, aquando da Implantação da República a 5 de outubro de 1910. Foi nesta altura que, pela simbologia da palavra ‘Rei’, que acabara de ser deposto, que os confeiteiros tiveram de mascarar o bolo, dando-lhe outros nomes como bolo de Natal ou bolo de Ano Novo. Após este período mais conturbado, em que se equacionou inclusive chamar o Bolo Rei de Bolo Presidencial, tudo voltou ao normal.

O Bolo Rei típico português correu mundo e a expectativa de quem comeria a fatia com o brinde que presenteava os convidados ou com a fava que obrigava a que a pessoa fosse responsável pelo pagamento do bolo no ano seguinte aumentou a sua popularidade.

De referir que, atualmente, com as novas diretrizes europeias para a segurança alimentar, não é possível produzir nas confeitarias Bolo Rei com o brinde nem com a fava.

Sara Moura
Técnica especialista
Gabinete do Secretário Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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