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Projeto LIFEBAQUA

O Projeto LIFEBAQUA (Solutions through the new use for a waste of bananan crop to develop products in aquaculture and plastic sector) teve como objetivo estudar as possibilidades de reutilização dos restos culturais da cultura da banana para o setor de aquacultura (rações) e plástico, numa perspetiva de economia circular e de obtenção de mais-valias para a cultura e os seus produtores.

Na reunião final, decorrida no dia 7 de outubro na ULPGC (Universidad de Las Palmas de Gran Canaria), foram apresentadas as principais metas atingidas e discutidas em mesa redonda as possibilidades de implementação da tecnologia e produtos no tecido agrícola e empresarial.

Mário Monzón, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da ULPGC e coordenador deste projeto, expôs de forma sucinta a importância dos resultados obtidos no campo da economia circular, com a reutilização de matérias primas locais, reduzindo assim a dependência na importação de plástico e de rações para a aquacultura e consequente pegada de carbono destas atividades.

Na ligação é possível visualizar os resultados principais e linhas orientadoras do projeto.

A introdução das fibras obtidas do pseudotronco de bananeira no plástico, numa percentagem que varia entre os 5 e os 30% do peso final das peças, permite um acréscimo da resistência das mesmas e menor dependência de substâncias sintéticas/aditivos para se obter os resultados de resistência pretendidos para o material plástico (figura 1).

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Figura 1 – Peças de plástico com fibra de bananeira

Obtiveram igualmente bons resultados no fabrico de embalagens de transporte da ração (sacos) destinadas a aquacultura e mangas para colocar nos cachos de banana (figura 2), fabricados com amido e fibras de bananeira, uma solução totalmente natural e biodegradável e que com a devida massificação da produção poderá obter preços competitivos para substituir definitivamente as mangas plásticas azuis habituais.

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Figura 2 – Manga plástica para cachos de banana
de amido e fibras de bananeira 

Em relação à aplicação em aquacultura, a Dr.ª Lídia Robaina desenvolveu um trabalho sobre a inclusão de polpa do pseudotronco e de farinha obtida das flores masculinas da inflorescência, que não originam fruta e possuem um alto teor de polifenois, em ração para alimentação de peixe em aquacultura.

Os resultados obtidos em Tilapia (Oreochromis niloticus, Linnaeus, 1758) e Robalo (Dicentrarchus labrax), duas das espécies mais utilizadas na aquacultura, foram positivos, com a inclusão de até 6% de polpa de pseudotronco de bananeira e 3% de farinha das flores masculinas da inflorescência.

O líquido obtido do pseudotronco durante a retirada das fibras e elaboração da polpa pode ser utilizado como fertilizante, mas ainda não existem resultados definitivos e concretos, sendo uma linha de trabalho a prosseguir.

 
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 Figura 3 – Membros da mesa redonda final

Na mesa redonda que se seguiu, levantaram-se várias questões relacionadas com as características da cultura da banana, nomeadamente a retirada dos pseudotroncos do terreno levar a uma diminuição acentuada dos teores de matéria orgânica com a consequente redução da produtividade e necessidade de compensar recorrendo a mais inputs externos; a importância do pseudotronco para alimentar o novo rebento, uma vez que constitui uma reserva de água e nutrientes e ainda quais as mais-valias concretas para o produtor.

Outras das dúvidas prende-se com a taxa de aproveitamento, ou seja, quanto material fresco é necessário para se obter uma tonelada de fibras.

A resposta a estas dúvidas pretende alcançar um ponto de equilíbrio entre o material que fica no terreno e o que é retirado, de forma a manter a sustentabilidade da cultura e, assim sendo, apenas o terço superior do pseudotronco será retirado, assegurando-se a “alimentação” do rebento e a manutenção dos teores de matéria orgânica.

A recolha de pseudotroncos, o seu processamento e conservação das fibras é exequível em parte das Ilhas Canárias, nas explorações que são periodicamente renovadas, de forma a manter a produção de banana em época de Inverno, como uma exploração visitada anteriormente em Tenerife, com cerca de 90 hectares e que anualmente replantam 10 hectares.

Será igualmente exequível em Martinica e Guadalupe, que têm como política fitossanitária renovar a plantação a cada oito anos, representando cerca de 1 000 hectares renovados anualmente.

No caso específico de La Palma e da Madeira, onde a cultura possui um carácter mais permanente e com orografia acidentada, o que dificulta a mecanização, a colheita de parte dos pseudotroncos após a colheita da banana seria um processo contínuo.

Para a obtenção de 1000 kg de fibras, são necessários cerca de 23 toneladas de pseudotroncos frescos.

A implementação destes resultados dependerá das mais-valias que traga ao produtor e da criação de uma estrutura de recolha destes materiais.

Mário Monzón, responsável pelo projeto, estima que a fase de transferência da tecnologia e conhecimento desenvolvidos e adquiridos (várias máquinas foram criadas e adaptadas para extração das fibras e da polpa da bananeira) para a indústria em larga escala esteja concluída no prazo máximo de 5 anos.

Considerando que a Madeira possui cerca de 750 hectares de bananeiras e uma indústria de aquacultura em crescimento, existe aqui oportunidade de negócio, numa mais-valia para o produtor e para o ambiente, na óptica da economia circular e sustentabilidade económica que devem ser aproveitadas.

Bruno Silveira
Divisão de Experimentação e Melhoria Agrícola
Direção Regional de Agricultura

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