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A produção de Shiitake (Lentinula edodes) em troncos - parte IV

Shiitake, cujo nome científico é Lentinula edodes, é um cogumelo comestível nativo do leste da Ásia. É o segundo cogumelo comestível mais consumido no mundo.

É um fungo aeróbio, decompositor da madeira e encontrado naturalmente nas florestas asiáticas, onde se desenvolve sobre árvores mortas.

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Figuras 1 - Micélio ou “sementes” de cogumelo Shiitake em cavilhas de madeira  

A primeira etapa para quem decide produzir cogumelos comestíveis e/ou medicinais em troncos de madeira é a obtenção de micélio ou “sementes” de cogumelos em cavilhas de madeira de boa qualidade, condição essencial para uma boa produção de cogumelos. É comercializado em cavilhas de madeira, em embalagens de 50, 150 e 1 000 unidades (figuras 1).

Preparação dos troncos: seleção, corte e perfuração

Os troncos de madeira que podem ser usados são provenientes de carvalho, faia, sobreiro, salgueiro, castanheiro, eucalipto e choupo. No entanto, não é recomendável o recurso a madeiras de árvores de espécies resinosas (como o pinheiro) e de árvores fruteiras.

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Figura 2 - Dimensão dos troncos de madeira a utilizar

Os troncos devem ser cortados preferencialmente quando as árvores não têm folhas e com comprimento entre 50 a 100 cm e diâmetro entre 10 a 20 cm (figura 2).

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Figuras 3 - Troncos após o corte, em repouso, antes de serem inoculados 

Os troncos cortados devem permanecer em repouso num período mínimo de 10 (mínimo) a 30 dias (máximo), antes de serem utilizados, num local limpo, sombreado e sem contacto com o solo (figuras 3).

A sua perfuração realiza-se com um berbequim e brocas de madeira de 8 mm. Deve ser feita em linhas espaçadas entre si e distribuídas de forma regular ao longo do tronco. Os furos podem ser paralelos ou cruzados.

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Figuras 4 - Perfuração dos troncos 

Para determinar o número de linhas de furo divide-se o diâmetro do tronco por 2,5. O espaçamento entre furos pode ser variável, entre 10 a 15 cm (6 a 10 furos por linha para troncos de 1 m de comprimento). A profundidade do furo deve ser de 3,5 cm para as cavilhas standard (8 x 30mm) (figuras 4).

A perfuração dos troncos deve ser feita num local preferencialmente coberto e limpo, a fim de evitar a desidratação dos troncos e possíveis contaminações durante o processo.

Inoculação

A inoculação é o preenchimento dos furos com as cavilhas inoculadas (micélio ou “semente” de cogumelo) que deve ser feita imediatamente após a perfuração do tronco e nos meses entre outubro e abril.

Antes de iniciar o processo devem se desinfetar, com álcool etílico a 70%, as mãos e todos os utensílios que entraram em contacto com o micélio, inclusive as bancadas de trabalho.

Após estes procedimentos, as cavilhas inoculadas são introduzidas, uma em cada furo, procurando que entrem com facilidade e sem perder micélio.
A introdução das cavilhas nos furos pode ser auxiliada com um martelo, preferencialmente com cabeça de borracha, limpo e desinfetado. As cavilhas devem ficar rentes à casca do tronco, evitando que a casca se desprenda ou se danifique durante o processo.

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Figuras 5 - Inoculação dos troncos com Shiitake e aplicação de selante nos mesmos  

Depois de colocadas as cavilhas deverá ser aplicado um selante (ex: cera) sobre os locais de inoculação nos troncos, para evitar contaminações (figuras 5).

 
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Figura 6 - Período de incubação de Shiitake em troncos

Incubação

Os troncos inoculados devem ser colocados num local protegido, escuro e com temperaturas entre os 20°C e os 25°C. Podem também ser cobertos com plástico preto sem fechar por completo.

Os troncos podem ser igualmente colocados no exterior, contudo, o processo de incubação poderá ser mais lento, uma vez que dependerá das variáveis climatéricas (figura 6).

O tempo de incubação pode variar entre 6 a doze meses.

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Figuras 7 - Colonização do micélio de Shiitake nos troncos 

A incubação está terminada quando o micélio (branco) colonizar todo o tronco (figuras 7).

Os troncos são submetidos a um choque térmico, que consiste em mergulhar os troncos em água fria, 10°C abaixo da temperatura ambiente, durante aproximadamente 24 horas.

Os troncos devem ficar totalmente imersos em água, pelo que devem ser fixos antes da colocação da água, de forma a evitar que flutuem.

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Figuras 8 - Choque térmico e mecânico dos troncos
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Figura 9 - Aparecimento de primórdios
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Figura 10 - Frutificação
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Figura 11 - Colheita

Após o choque térmico, os troncos são sujeitos ao choque mecânico, que consiste em levantar o tronco na vertical e soltá-lo, deixando-o bater no chão livremente. Este procedimento deve ser feito sobre um piso bem firme (figuras 8).

Após a realização dos choques térmico e mecânico, os troncos devem ser colocados na vertical num local húmido (80% a 90%), sombreado e protegido contra insetos, lesmas e caracóis.

Frutificação

Nos três primeiros dias após os choques, observar-se-á a formação dos primórdios dos cogumelos ou pequenas “cabecinhas brancas” (figura 9), os quais irão desenvolver-se durante este período até começarem a adquirir um formato mais próximo ao de um cogumelo (figura 10).

Colheita e conservação

O momento ideal para a colheita é quando o cogumelo apresenta o “chapéu” aberto entre 50% a 80% do seu desenvolvimento.

Na colheita, deve pegar no “pé” do cogumelo e fazer uma leve torção, sem danificar a casca dos troncos e evitando deixar resíduos de cogumelos nos mesmos (figura 11).

Os cogumelos colhidos devem ser armazenados no frigorífico

Após a colheita os troncos não necessitam de ser novamente inoculados. Os troncos devem simplesmente repousar nas mesmas condições de incubação, durante um período de um a três meses.

Depois do período de incubação, os choques térmico e mecânico devem ser repetidos até à deterioração total dos troncos ou esgotamento da produção.

Qual é o rendimento?

Os troncos podem produzir cogumelos frescos entre 15 a 35% do peso da madeira, durante dois a quatro anos, dependendo do tipo de madeira, das condições climáticas e das condições de cultivo, entre outros fatores.

Após as frutificações, no fim do ciclo, o que fazer com os resíduos?

Os resíduos de produção de cogumelos em troncos podem ser utilizados para composto ou enterrados nos solos a uma profundidade de 30 cm.

Em futuras edições do DICA, irão ser abordadas as principais pragas e doenças que ocorrem na produção de cogumelos em substrato e troncos, assim como a importância do seu consumo e informação nutricional.

Ana Ghira
Natália Silva
Direção Regional de Agricultura

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