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Os microrganismos patogénicos – Parte I: Staphylococcus

Os Staphylococcus são um género de microrganismos Gram + (positivos), que tendem a formar aglomerações em arranjos semelhantes a cachos de uva (cocos).

microrganismos patogenicos fig1 cocos gram
Figura 1 – Cocos Gram +

Microrganismos Gram + (figura 1) são aqueles que obtêm uma coloração violeta escuro através da técnica de Gram. Os microrganismos Gram + retêm o corante violeta pelo facto de possuírem na sua parede celular uma grande quantidade de peptidoglicano e pequeno teor de lípidos, formando uma barreira, impossibilitando a saída do cristal violeta, logo apresentando-se coradas de violeta escuro.

O nome Staphylococcus deriva das palavras gregas staphyle e kokkos, para representar cachos de uva e grão, respectivamente.

A maioria dos Staphylococcus são anaeróbios facultativos (microrganismos que crescem na presença de oxigénio ou na ausência dele) e catalase positiva (enzima intracelular, encontrada na maioria dos microrganismos, que decompõe o peróxido de hidrogénio). São microrganismos imóveis, oxidase negativa (enzima que catalisa uma reacção de oxidação/redução) e não formadores de esporos. Existem duas espécies de Staphylococcus o Staphylococcus aureus subsp. anaerobius e Staphylococcus saccharolyticus que são anaeróbios e catalase negativa.

A coagulase (enzima proteica produzida por alguns microrganismos que permite a conversão do fibrinogénio em fibrina) é utilizada para distinguir diferentes tipos de Staphylococcus.

Os Staphylococcus coagulase positiva (Staphylococcus aureus e Staphylococcus intermedius) e os coagulase variável (Staphylococcus hyicus) são importantes microrganismos patogénicos de animais domésticos, ou seja, capazes de produzirem doenças infeciosas sempre que estejam em circunstâncias favoráveis, incluindo o meio ambiente.

microrganismos patogenicos fig2a crescimento S. Aureus em Mannitol Salt Agar microrganismos patogenicos fig2b crescimento S. Aureus em Columbia Agar
Figura 2 – Crescimento de S. aureus em meio Mannitol Salt Agar (à esquerda) e em meio Columbia Agar (à direita)  

S.aureus (figura 2) podem ser isolados, por exemplo, em condições clínicas de mastite (em bovinos, ovinos e caprinos) em condições supurativas, ou seja, com formação de pus (de canídeos e felídeos) e em condições clínicas de artrite (em aves domésticas). S intermedius podem ser isolados também em condições supurativas (de canídeos e felídeos), em condições clínicas de cistite e otite externa (em canídeos) e o S. hyicus pode ser isolado em condições de artrite em suínos, por exemplo (figura 3).

microrganismos patogenicos fig3a crescimento S.Intermedius em Mannitol Salt Agar microrganismos patogenicos fig3b crescimento S. Intermedius em Columbia Agar
Figura 3 - Crescimento de S. intermedius em meio Mannitol Salt Agar (à esquerda) e em meio Columbia Agar (à direita)  

A produção de coagulase está, portanto, relacionada à patogenicidade. Apesar dos Staphylococcus coagulase negativa serem pouco virulentos, alguns podem ocasionalmente causar doenças nos animais e no homem.

 

Exemplos de Staphylococcus coagulase negativa isolados a partir de animais: (S. chromogenes em leites de bovinos, na pele de suínos e aves domésticas; S. epidermidis em infeções de feridas de canídeos; S. gallinarum em infeções da pele de aves domésticas; S. saprophyticus na pele dos felídeos, S. Sciuri nas infeções na pele de felídeos e outros animais, S. xylosus na pele de suínos, aves domésticas e felídeos, S. simulans encontrado também na pele de suínos, canídeos e felídeos).

As espécies do género Staphylococcus estão largamente distribuídas pelo mundo como comensais na pele dos animais e na do homem. Também são encontrados nas membranas da mucosa do tracto respiratório superior e no tracto urogenital inferior e como transitórios no tracto digestivo. São relativamente estáveis no meio ambiente. As infeções podem ter então origem endógena ou exógena.

Como os Staphylococcus são microrganismos piogénicos, frequentemente causam lesões supurativas. Pequenos ferimentos podem potenciar o desenvolvimento de infeções.

Muitas infeções também podem ser oportunistas e associadas a traumas, infecções parasitárias, fúngicas e condições alérgicas.

No Laboratório de Bacteriologia Clínica do Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar (LRVSA), da Direção de Serviços dos Laboratórios e Investigação Agroalimentar (DSLIA), da Direção Regional de Agriocultura, foram identificadas várias espécies de Staphylococcus (tanto coagulase positiva como coagulase negativa) em diferentes matrizes, ou seja, em diferentes tipos de amostras clínicas colhidas de animais vivos ou mortos.

A identificação das várias espécies de Staphylococcus consistiu numa pesquisa de microrganismos em geral, sem qualquer suspeita, em amostras de rotina normal. Assim sendo, a amostra de rotina normal é semeada nos quatro meios-base: em Columbia Agar (adicionado de 5 % de sangue de carneiro desfibrilado); em MacConkey Agar; em Mannitol Salt Agar ou meio de Chapman e em Nutrient Agar e incubada a 37ºC, durante 24 a 48 horas.

No Columbia Agar, as colónias de Staphylococcus são geralmente brancas e opacas.

microrganismos patogenicos fig4 meio Mannitol Salt Agar
Figura 4 – Meio Mannitol Salt Agar

O Mannitol Salt Agar (figura 4) é utilizado para o isolamento seletivo de Staphylococcus provenientes de amostras clínicas. Este meio contém na sua constituição peptonas e extrato de bovino, ao qual fornecem nutrientes essenciais. A alta concentração de cloreto de sódio presente no meio (7,5%) inibe parcial ou completamente o crescimento de outros microrganismos bacterianos que não sejam Staphylococcus. A fermentação do manitol, ou seja, alteração no indicador vermelho de fenol, ajuda a diferenciar as espécies de Staphylococcus.

Os Staphylococcus coagulase positiva (por exemplo, o Staphylococcus aureus) produzem colónias amarelas e um meio amarelo circundante, enquanto que os Staphylococcus coagulase negativa (por exemplo, o Staphylococcus epidermidis), produzem colónias avermelhadas e nenhuma alteração na cor do indicador vermelho de fenol, isto é, o meio circundante mantém-se vermelho.

De referir que a colheita e entrega das amostras clínicas são da responsabilidade do cliente.

 

Erica Pires
Analista do Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar
Direção Regional de Agricultura

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