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Duas gerações de híbridos produzidos no Centro de Floricultura com a utilização da espécie brasileira Cattleya bicolor

Quando num destes dias deste mês de outubro um grupo de estudantes franceses fizeram uma visita na estufa de orquídeas e perguntaram como criávamos novas espécies de Orquídeas, apercebi-me da existência de uma lacuna nos conhecimentos sobre botânica e genética aplicadas a floricultura e a necessidade de divulgação de informações e sobre hibridação das orquidáceas, tema de presente artigo. Logo desmenti que não criávamos espécies de orquídeas pois elas já existiam na natureza em quantidade de cerca de 35 mil, 1.600 das quais pertencentes ao género Bulbophyllum, 1.000 espécies de Dendrobium, 80 do género de Cattleya e afins, 60 espécies de Phalaenopsis e muitas outras.

  fig1 Cattleya bicolor

Fig.1 Cattleya bicolor, há muito extinta na colecção
do Jardim Botânico Eng.º Rui Vieira, tendo sido
usada para gerar o híbrido primário C. Clarkiae

Em tempo, o Centro de Floricultura procedia à conservação e à utilização de espécies na hibridação, tendo como objectivo o fortalecimento dos híbridos já fragilizados com constantes cruzamentos. Uma de poucas espécies, ao qual tivemos acesso foi a Cattleya bicolor. Esta planta fazia parte da coleção do Jardim Botânico Eng.º Rui Vieira na pequena estufa de vidro, ocupando um espaço transformado presentemente em plantação de topiarias. Pessoalmente, lamento muito a eliminação desta pequena estufa, porque abrigava orquídeas adquiridas na famosa firma francesa Vacherot & Lecoufle e hoje, posso afirmar, que eram de muito boa qualidade.

fig2 Cattleya labiata fig3 Cattleya clarkiae

Fig. 2 Cattleya labiata ‘Autumnalis’, felizmente preservada e reproduzida no Centro de Floricultura
Fig. 3 Floração de dois exemplares da Cattleya Clarkiae (labiata x bicolor) produzidas no Centro de Floricultura

Cattleya Clarkiae é fruto de um antigo cruzamento entre duas espécies Cattleya labiata e Cattleya bicolor registado em 1900 por Eustacy Clark. Sucede que repeti este mesmo cruzamento em 1987 sem conhecimento da sua prévia existência porque na década de 80 do século passado não tínhamos computadores, nem tão pouco a possibilidade de estudo de cruzamentos a nível mundial via internet.

Este híbrido histórico é tão antigo (reg. Clark, 1900), que quase não se encontra disponível em viveiros de mundo, e praticamente não existem suas imagens na rede de internet. Nós usamos precisamente este primário, para fecundar Lc. Bonanza (ver fig.4) e pudemos mostrar aqui um exemplar florido (fig.5). Todos os descendentes produziam flores grandes e perfumadas, distinguindo-se com labelo púrpura escuro em forma de espátula, herdada de C. bicolor.

 
fig4 Lc Bonanza
 Fig. 4 Lc. Bonanza ‘Pay Dirt’ AM/AOS que por sua vez recebeu pólen de C. Clarkiae, perpetuando a cor das pétalas e principalmente, o labelo, em forma de espátula

A multiplicação de plantas obtidas via cruzamentos eram previamente observadas, e por fim selecionadas para a clonagem. O sucesso da clonagem através do procedimento da extração de meristema, não teve sucesso imediato. Aliás, era o principal obstáculo na propagação e divulgação dos frutos deste trabalho, levado a cabo durante décadas.

fig5 hibrido fig6 hibrido
 Fig. 5 e 6. Exemplos de híbridos do cruzamento entre Lc. Bonanza e C. Clarkiae, conservados e reproduzidos no Centro de Floricultura

Neste momento, encontra-se em preparação uma publicação que descreve uma outra linha de cruzamento com a utilização de C. bicolor.

No caso de haver dúvidas e pretendendo mais informações, pode contactar-nos pelo telefone 291970260, ou pelo e-mail Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. ou pessoalmente no Centro de Floricultura, Caminho da Floricultura n.º 10, Sítio do Lugar de Baixo, Ponta do Sol.

Bozena Maria Borecka
Direção Regional de Agricultura

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