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A dimensão Atlântica das principais pescarias da RAM

Os Portugueses são historicamente conhecidos como um povo com vocação marítima que, durante os “descobrimentos”, revelou “novos mundos ao mundo”.

De alguma forma essa vocação genética esteve presente agora, quando, no âmbito do projeto BIOMETORE, o país que investiga o mar uniu esforços para alargar os horizontes do conhecimento científico, abordando, de forma compreensiva e multidisciplinar, o estudo de duas áreas marítimas remotas, uma ao sul dos Açores (o complexo de montanhas submarinas do Great Meteor) e outra entre a Madeira e Portugal continental (o complexo de montanhas submarinas do Madeira-Tore).

O serviço de investigação da DRP teve a sorte de participar neste projeto, integrado na equipa do Observatório Oceânico da Madeira. Foi nesse âmbito que, participando no grupo de trabalho relativo aos impactos antropocêntricos nas áreas de estudo, e estudando especificamente o impacto da pesca madeirense, verificamos, perante o conjunto de dados históricos recolhidos e tratados a partir dos diários de pesca, aquilo que, no fundo, sabíamos sem saber. Isto é, sem ter uma verdadeira perceção da dimensão e alcance geográfico, verdadeiramente Atlântico, das principais pescas da Região, a saber a pesca do peixe-espada preto e dos tunídeos.

A pesca do peixe-espada preto começou, há muito tempo, por ser uma pequena pesca efetuada ao largo de Câmara de Lobos. Paulatinamente ganhou expressão e dispersão tendo, na última década, muito pela necessidade criada pela diminuição da abundância do peixe nas áreas de pesca tradicionais, “colonizado” os mares ao largo as Canárias, a sul dos Açores e montanhas submarinas, sendo muitas vezes a pesca efetuada em plena planície abissal.

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Figura 1 - Distribuição espacial da pesca madeirense do peixe-espada preto com palangre (cada ponto representa um evento de pesca com capturas)

O mapeamento espacial dos lances de pesca com capturas acumulados entre 2012 e 2014, efetuado com recurso ao software QGIS 2.2, mostra a espantosa expansão geográfica desta pescaria nos últimos anos (Figura 1).

 
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Figura 2 - Distribuição espacial da pesca madeirense de atum com salto e vara (cada ponto representa um evento de pesca com capturas)

Mas a pesca de atum (tunídeos) não lhe fica atrás no que respeita a “alcance geográfico”. Se um corredor marítimo unia a Madeira e Canárias, no caso da pesca da espada. Agora a pescaria de atum “une” o caminho marítimo entre a Madeira e os Açores (Figura 2).

No seu conjunto, estas, que são as pescarias de maior expressão da região, ilustram de forma gritante a coragem e bravura do pescador Madeirense que, tantas vezes com condições de trabalho e até de segurança precárias, se aventuram a pescar a distâncias enormes do aconchego dos seus lares, com o objetivo, nobre, de trazer o “pão” para as suas famílias.

Nunca serão suficientemente pagos pelo esforço! E, é bom não o esquecer, alguns pagaram com a vida a sua intrepidez.

 

João Delgado, Antonieta Amorim, Lídia Gouveia & Nuno Gouveia
Direção Regional de Pescas

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