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Dia Mundial da Agricultura celebrado na Escola da APEL com a SRAP

No dia 20 de Março assinalou-se o Dia Mundial da Agricultura, tendo a Escola da APEL e a Secretaria Regional da Agricultura e Pescas organizado um ciclo de conferências denominado “A Agricultura Madeirense: Motor da economia, arquitecta de paisagens e guardiã da natureza”. Esta iniciativa que contou na abertura com o Secretário Regional de Agricultura e Pescas decorreu na Escola da APEL

apel3 Os oradores foram o Professor Doutor Alberto Vieira, Investigador Coordenador do Centro de Estudos de História do Atlântico, o Doutor Engenheiro João Baptista Silva, Investigador do Centro GeoBiotec, FCT, Universidade de Aveiro e Representante da Progeo Portugal - Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico, Luís Manuel Sardinha, Produtor de maracujá do concelho da Calheta, Prof. Luís Paixão, Escultor, Prof.ª Graça Garcês da Escola da APEL e o Diretor Regional de Agricultura, Eng.º Paulo Santos.

O Professor Doutor Alberto Vieira na comunicação “O poio madeirense na construção da agricultura” sublinhou a forte ligação do poio à História da Agricultura madeirense, divulgando aspectos desconhecidos como a influência do poio no agricultor, quer nas suas atitudes, quer nos seus comportamentos. Aquela imagem do folclore madeirense onde se dança curvado é interpretada por aquele investigador como uma veneração à terra e não como um gesto de submissão. O açúcar madeirense tornou a Região como a única do Atlântico, antes de este ter-se expandido para as Canárias, Cabo Verde e o Brasil, levando à sua decadência na Madeira. No século XVI e como curiosidade acerca da pouca competitividade deste produto com o do seu homólogo canariano, um quilo de açúcar madeirense tinha associado ao seu preço 30 por cento relativo a impostos, ao passo que o das Canárias essa relação era de um quilo para 10 por cento de impostos. A importância de apontar que o Vinho Madeira é uma criação da Ilha e dos madeirenses e não dos Ingleses, que só a partir do século XVII o descobriram, tendo contribuído para que a sua comercialização além-mar fosse maior. A comparação que o agricultor madeirense é como um xamã, alguém que tem uma ligação espiritual com a terra e tudo o que a rodeia, tendo o Professor Doutor Alberto Vieira dito que “o ilhéu de segunda a sexta-feira é um xamã e no sábado e domingo, é católico”. Em vez de transformar a paisagem, o agricultor cria um novo espaço, uma nova realidade por oposição à de outras paragens, onde houve transformação. A Madeira é a primeira região no espaço atlântico onde os europeus fazem agricultura por volta de 1420, realçando no final da sua apresentação que falta escrever uma História da Agricultura madeirense, apesar de haver artigos, notas e apontamentos sobre a história dos produtos agrícolas na Região, em especial na segunda metade do século passado.

Quanto ao Investigador João Baptista Silva, este trouxe o tema “A Natureza não perdoa: Como cuidar, proteger e valorizar a nossa casa comum” tendo-se debruçado sobre os fenómenos de intempérie, incêndios, e algumas pragas e doenças que têm assolado a Madeira nos últimos dez anos. Considerou que ciência sem espiritualidade não é ciência e recordou o livro do Papa Francisco intitulado ‘Proteger a Criação – Reflexões sobre o Estado do Mundo’ que chama a atenção para a importância de preservarmos a casa comum, a Terra. Lembrou os sete incêndios ocorridos entre 2010 e 2016, onde arderam e voltaram a arder 24.750 hectares, ou seja, o equivalente a quase 25.000 campos de futebol! A aluvião de 20 de Fevereiro de 2010, as enxurradas de 2012 no Seixal e no Porto Moniz e de 2013 em Santa Cruz, Machico, Porto da Cruz e Santana.

 

A impermeabilização do solo e subsolo no Funchal levou a que as áreas inundadas aumentassem entre 1993 e 2010. A praga da vespa das galhas do castanheiro, as doenças mixomatose e hemorrágica viral dos coelhos do Porto Santo, a varroose, uma praga que em 2016 foi a responsável pela diminuição de 70 por cento do mel de abelha regional. A comparação entre os poios agricultados e os não agricultados, e o maior risco de erosão destes últimos. Afirmou que nestes dez anos mais recentes, destruiu-se mais que nos 590 anos anteriores. Há que cuidar da nossa Região, responsáveis governamentais e autárquicos, e sociedade civil, pois se a defendermos, estamos a contribuir para o bem comum e por isso há que conhecer, proteger e valorizar os nossos recursos naturais.

O produtor de maracujá Luís Manuel Sardinha do concelho da Calheta fez uma intervenção interactiva a que chamou “A matemática de ser Agricultor”, onde contou com a colaboração de três estudantes que assistiam à palestra. Foi colocado num quadro alguns cálculos básicos para três cultivos agrícolas: Bananeira, vinha e maracujazeiro. Disse que para ser rentável há que contar com pelo menos um hectare de superfície e para cada cultura, calculou a produção estimada para um hectare e o preço de venda, tendo-se obtido valores de 22.000 euros para a banana e a vinha, e de 38.000 euros para o maracujá. A estes rendimentos brutos, acrescentou um montante médio de 3.000 euros referente a ajudas à agricultura e 30.000 euros como prémio de instalação para o jovem agricultor, demonstrando assim que a agricultura pode ser lucrativa, desde que tenhamos dimensão, conhecimentos técnicos e de gestão agrícola.

O Prof. Luís Paixão, Escultor, com a “Dimensão Telúrica na Arte” fez uma viagem de 30.000 anos desde a arte rupestre às artes egípcia, grega, romana, bizantina, românica (medieval), gótica, pré-renascentista, renascentista, barroca, romântica, realista, impressionista, expressionista, cubista, abstraccionista e arte nova. Em todas as épocas, a natureza em geral e a agricultura ou actividade agrícola em particular é tema permanente nas várias expressões artísticas. Mostrou projectos de escultura com figuras regionais do meio rural que retratam profissões de outrora e sugeriu que no futuro se instalasse um “Parque do Agricultor” ou um “Parque das Tradições” na Madeira, como forma de perpetuar essas “memórias de tempos idos” no presente e no futuro.

A Prof.ª Graça Garcês da Escola da APEL na sua apresentação “Evidências de telurismo no hino da Região Autónoma da Madeira” analisou em pormenor o hino com letra de Ornelas Teixeira e composição de João Víctor Costa, em que destaco aqui a importância da natureza no verso inicial “Do vale à montanha e do mar à serra” apoiada pelo valor do seu povo em “Teu povo humilde, estóico e valente/Entre a rocha dura te lavrou a terra/Para lançar, do pão, a semente”, que num meio agreste, tornou-o aprazível e abundante.

No final, o Director Regional de Agricultura, Eng.º Paulo Santos, em jeito de conclusão desta iniciativa indicou alguns números relativos ao sector e relevou a agricultura regional como um dos suportes da principal actividade económica que é o turismo, elogiando ainda as intervenções dos oradores que o antecederam.

Foi sem dúvida uma manhã muito proveitosa e que assinalou da melhor maneira o Dia Mundial da Agricultura.

Joaquim Leça
Direção Regional de Agricultura

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