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Preparar para o inverno na Madeira – orquídeas de florestas sazonais

fig68 Contrariamente à ideia que a maioria das pessoas possui relativamente às orquídeas enquanto plantas que precisam ou requerem calor e humidade durante todo o ano, uma boa parte das orquídeas ornamentais e aquelas que mais facilmente conseguimos cultivar na Madeira aprecia aquilo que chamaremos de descanso de inverno.

Na natureza, muitas destas espécies provêm de zonas com estação húmida e seca bem distintas e demarcadas, em que a estação húmida é normalmente a mais quente e corresponderá à altura do ano onde a maioria destas plantas terá a sua época de crescimento vegetativo. Durante a estação seca, apesar da escassez de água, as temperaturas serão mais baixas e é nesta estação que muitas delas optam por florir, no seu início ou no seu fim, impedindo que as chuvas intensas estraguem as flores ou impeçam o voo dos insetos polinizadores.

Assim e de forma a possibilitar a sua sobrevivência, milhões de anos de evolução criaram estratégias fascinantes que podem ser basicamente de dois tipos.

Várias orquídeas habitam florestas de folha caduca onde as árvores onde vivem acabam por libertar as suas folhas durante a estação seca, impedindo, assim, o excesso de evaporação através das folhas, conservando as suas reservas de água. Logo, muitas orquídeas acabam por mimicar o comportamento das árvores onde vivem, ficando elas, também, mais protegidas do excesso de evaporação da água, agora sem folhas.

Outras, especialmente orquídeas litófitas ou outras que vivam em zonas muito expostas durante todo o ano, possuem estruturas coriáceas e resistentes à luz intensa. Normalmente com pseudobolbos grandes e/ou robustos, muitas delas têm também folhas bem grossas que servem, igualmente, de estrutura de armazenamento de água e nutrientes. Desta forma, poucas orquídeas deste tipo perderão as suas folhas, optando por depender das suas estruturas duras e resistentes.

Este tipo de comportamento é comum a vários habitats e climas. Desde a tundra, onde os invernos são nevosos e secos e em que a época húmida corresponde normalmente à primavera com o degelo e as primeiras chuvadas até às florestas tropicais secas, como as florestas indianas onde a época mais quente é a estação das monções, milhares de espécies de orquídeas e outras plantas vivem nestas condições.

Assim, existe um denominador comum sobre este tipo de orquídeas: o de um tratamento diferencial das mais comuns Phalaenopsis ou mesmo Vanda, estas sim, na sua maioria, plantas de floresta tropical de baixa altitude.

Bifrenaria harrisoniae  
 Bifrenaria harrisoniae

É nesta altura do ano, meados de novembro, que as temperaturas começam a baixar e onde o crescimento vegetativo de várias orquídeas termina. Vários Dendrobium têm já as suas canas engordadas, sem novas folhas a surgir. Os Catasetum começam já a amarelecer as suas folhas ou ainda as Bifrenaria que têm por esta altura, os seus novos pseudobolbos bem cheios e preparados. Todas estas orquídeas têm um crescimento mais acelerado e a rapidez do seu desenvolvimento está proporcionalmente ligado ao quão curta é a sua estação húmida. Por exemplo, os Catasetum, nativos de florestas sazonais da América do Sul com épocas de chuva muito restrita, têm um crescimento extremamente rápido quando comparado com outras orquídeas.

 

Findado este ciclo, cabe ao cultivador dar o descanso que na natureza teriam, já que, se asseguradas as condições corretas, as florações serão muito mais prolíferas.

Naturalmente, existem duas questões. Quando deixar de regar e adubar e que tipo de espécies ou variedades o requerem.

Pleione Tongariro
 Pleione tongariro

Normalmente, a necessidade de regar uma orquídea tropical só é pertinente quando as temperaturas estão acima dos 16ºC. Logicamente, a humidade atmosférica é sempre crucial e não deve ser demasiado baixa. Quanto à supressão, assim que o desenvolvimento do novo pseudobolbo finda (e este descanso é esmagadoramente mais sensível para espécies que de facto os possuem) e até ao surgimento do novo rebento, a orquídea deverá ficar sem água ou, com regas muito esporádicas. Para algumas, poderá ser de apenas poucas semanas e para outras, de vários meses.

Várias orquídeas optam por florir precisamente neste período como o Dendrobium chrysotoxum que floresce no fim da época seca ou ainda a Lycaste aromatica, por exemplo.

Quando às espécies que precisam dele, é necessário sempre consultar a identificação da planta. Normalmente, híbridos complexos comprados em qualquer florista não precisarão, mas beneficiarão sempre, nem que seja da ligeira supressão de rega durante os meses de inverno.

Pseudobolbos de Pleione 
 Pseudobolbos de Pleione

Para a maioria, a temperatura deverá baixar 5 a 10 graus neste período. Para algumas, será mesmo necessário acondicionar os pseudobolbos no frigorífico como as Pleione oriundas de florestas do sopé dos Himalaias ou as florações simplesmente não acontecerão. Por esta altura, estas orquídeas perdem totalmente as suas folhas. Os pseudobolbos deverão ser recolhidos, limpos de qualquer insetos ou pragas e conservados no frigorífico até meados de fevereiro ou março.

Para as demais, será conveniente aumentar a exposição à luz, mimicando aquilo que aconteceria nas suas florestas, abrigá-las da chuva e suprimir a adubação.

Nesta altura do ano e novamente ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não se deve adubar na mesma proporção. As orquídeas precisam de um determinada temperatura para metabolizar nutrientes. Além de não existir no exterior, muitas delas terão findado já o seu crescimento e não estarão a absorver quaisquer nutrientes.

Reproduzir as suas condições naturais é o passo correto para um cultivo de sucesso e cabe-nos a missão de procurar, junto do nosso fornecedor, a sua identificação para depois consultar bibliografia específica onde possamos perceber a sua proveniência e daí entender o seu cultivo.

Pedro Spínola

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