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Pantufas e Sapatinhos, uma confusão descalçada

Paphiopedilum insigne  
 Paphiopedilum insigne
  Phragmipedium besseae var flavum
 Phragmipedium besseae var flavum

Em quase todo o país a maioria da população está familiarizada com o termo “sapatinho”, mas relativamente ao termo “pantufa”, sempre dentro do campo botânico, é na Madeira que a maioria das pessoas conhece a palavra.

Os Paphiopedilum e os Phragmipedium, “sapatinhos” e “pantufas” respetivamente, apesar de partilharem características morfológicas muito semelhantes, não são propriamente aparentados.

Acontece que, no processo evolutivo que qualquer ser vivo possui, as estratégias destes dois géneros foram semelhantes no que à polinização diz respeito. A terceira pétala, que nas orquídeas é chamada de labelo, adquiriu a forma de uma bolsa, um sapato, de forma a obrigar os insetos que têm a sua única saída por dois canais que passam junto às polínias, a polinizarem a planta sem qualquer oferta de néctar. Assim, o inseto, para escapar desta bolsa, tem que percorrer um caminho que a planta quase que “cria” para ser fecundada. A esta partilha de estratégia evolutiva chamamos de evolução convergente.

Qualquer um dos géneros é relativamente comum na Região. Os Paphiopedilum, género ao qual pertencem os famosos “sapatinhos de natal”, Paphiopedilum insigne, é originário da Ásia e alberga um grande número de espécies naturais e um sem fim de híbridos. Já os Phragmipedium, ao qual pertencem as famosas “pantufas” cor-de-rosa (híbridos do Phragmipedium schlimii) e, curiosamente e também, os “sapatinhos de barbas” (Phragmipedium grande), são oriundos da América do Sul.

 
Phragmipedium Grande  
 Phragmipedium grande
  Phragmipedium Cardinale
 Phragmipedium cardinale

A separação geográfica destes dois géneros encontra uma lacuna no continente africano o que significa, à priori, que a divergência dos dois géneros é bem mais recuada, fazendo deles parentes afastados.

Além disso, também os seus cuidados tenderão a ser distintos. Existem Paphiopedilum de diferentes tipos, diferentes subclasses e, como tal, é complicado definir um espectro térmico para eles, mas a maioria prefere condições intermédias a quentes. No entanto, especialmente nos que possuem folha matizada, a sombra terá de ser imperiosa.

Já os Phragmipedium, apesar de tolerarem melhor o sol devido às suas folhas mais estreitas, preferem na sua maioria e apesar de serem um género com menos espécies, temperaturas mais baixas e muito mais água. No entanto, a necessidade de água vem com um requisito. Para que as raízes não apodreçam, o substrato deverá ser muito à base de pedra, cascalho ou gravilha, havendo a possibilidade de, nos meses mais quentes, colocar um prato com água por baixo, algo que não deve ser feito para os Paphiopedilum que, apesar de também requererem substratos soltos, não toleram tanta água nas raízes.

Estes dois géneros estão já enraizados na memória cultural da Madeira, mas sofrem muitas vezes uma enorme confusão. Entendê-los e separá-los é um passo correto para um cultivo de melhor sucesso.

Pedro Spínola

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