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A adubação nas orquídeas – vantagens, requisitos e perigos

dendrobium tortile epifito  
Dendrobium Tortile epífito, que deverá ser
regado e adubado mais frequentemente
grammatophyllum
Raízes verticais de Grammatophyllum
para captura de matéria orgânica
bulbophyllum beccarii
Bulbophyllum Beccarii, com folhas em
forma de taça para capturar a matéria orgânica
que cai das árvores

Na natureza, milhares e milhares de anos de adaptação permitiram que diferentes espécies se desenvolvessem consoante as condições naturalmente disponíveis, transversal ou pontualmente no ano, de uma determinada região ou área restrita. Assim, todo o sistema de crescimento e reprodução, assim como o seu metabolismo, estão programados para as condições que lhes são oferecidas. Nesse âmbito, incluem-se, também, os micro e macronutrientes que decorrem do apodrecimento da matéria orgânica que cai das árvores, dos dejetos de animais e de poeiras e cinzas que são arrastadas com as águas da chuva.

Diferentes regiões oferecem diferentes nutrientes ou, melhor, em doses e concentrações distintas que podem ser, inclusive, suprimidas durante parte do ano e retomadas noutra. Em regiões com marcadas estações seca e húmida, a ausência de chuva durante parte do ano corresponde, normalmente, à supressão da meteorização da matéria orgânica. Como tal, muitas orquídeas destas regiões mimicam o comportamento da floresta em que vivem, perdendo as folhas e entrando num estado de dormência. Esse período, em cultivo, deverá ser respeitado através da supressão da rega e da adubação, já que estarão incapazes de metabolizar quaisquer nutrientes, sem folhas para fazer fotossíntese.

Para que possamos oferecer as melhores condições de crescimento possíveis às nossas plantas é importante que as conheçamos. Daí e novamente, a exiguidade de informação poderá ser prejudicial e devemos, sempre que possível, pedir a identificação das orquídeas que adquiramos.

A maioria dos híbridos comercializados, criados efetivamente para um cultivo simples e pouco criterioso, poderão ser adubados conforme as indicações normalmente disponíveis nas etiquetas. Já para espécies botânicas, será imperioso estudar afincadamente cada caso dada a multiplicidade de variedades.

A maioria dos adubos disponíveis vivem de uma lógica NPK em que o N corresponde ao azoto ou nitrogénio, o P ao fósforo e o K ao potássio. Lato senso, o azoto será o principal elemento utilizado no crescimento vegetativo, portanto, na fixação do carbono através dos açúcares. Já o potássio é essencialmente importante para uma floração correta e abundante. Ainda que de menor importância, o fósforo é importante para questões metabólicas, não particularmente sensíveis na maioria das orquídeas já que possuem um metabolismo, normalmente, lento.

Assim, devemos sempre optar por um adubo equilibrando. Regra geral, as concentrações são mostradas em lógicas de 3 números correspondendo, sequencialmente, a NPK. (ex. 10-8-10) Para a maioria das orquídeas e apesar de dois tipos distintos de adubo serem possíveis, um mais azotado para o período ativo de crescimento e outro com mais potássio para o período anterior à floração, o ideal será utilizar sempre um adubo bem balanceado.

Aqui, há que ter particular atenção ao tipo de produto que utilizamos. As orquídeas, maioritariamente epífitas, não toleram grandes concentrações de sais junto das suas raízes, já que os seus hábitos naturais em que as chuvas “lavam” e “limpam” constantemente as suas raízes, fazem-se particularmente sensíveis a um substrato demasiado adubado. Assim, recomenda-se a utilização de um adubo líquido, quando possível próprio para orquídeas, que deverá ser diluído na dose mínima recomendada, de aplicação radicular ou foliar.

 
mormodes  
Mormodes, que floresce no fim do período
dormente e que só deverá ser adubado
quando o novo rebento começar a surgir
reenvasamento de orquidea
Reenvasamento de orquídea

Normalmente, não havendo, uma vez mais, regras relativas à frequência, ficam ainda assim algumas noções. A adubação deverá ser feita, preferencialmente, apenas durante o período ativo de crescimento e/ou sempre que tiver folhas verdes (atenda-se ao facto de algumas espécies perderem totalmente as folhas) e somente a cada terceira rega. Ou seja, uma orquídea envasada, regada hoje com fertilizante manterá esses sais no substrato durante algum tempo. Esses sais, quando demasiado presentes, são nefastos para a planta daí que as duas regas intercalares propostas sirvam para lixiviar o meio e retirar o excesso de sais presentes. Orquídeas montadas em troncos ou em cortiça poderão, requerendo regas diárias, ser fertilizadas mais regularmente somente porque as regas normais deverão ser mais frequentes também.

Ainda, fertilizantes que sejam utilizados de um modo foliar (pulverizar as folhas) poderão ser empregues mais frequentemente do que quando optemos pelo método radicular (rega normal – pelas raízes).

Um outro elemento químico a ter em consideração e que ditará a saúde de algumas orquídeas é o cálcio. Algumas, ainda que menos frequentes, têm preferência por ambientes ligeiramente alcalinos, vivendo, na natureza, em regiões com calcários e outros materiais básicos. Para tal, é importante que encontremos um fertilizante com alguma concentração de cálcio ou, em vez, podemos torrar cascas de ovo, triturá-las e adicioná-las ao substrato. Em alternativa, casca de ostra, bem lavada, poderá ser também usada. Um exemplo clássico desta preferência vai para os sapatinhos-do-natal, o Paphiopedilum insigne. Esta é uma espécie daquilo que se chama “orquídea-calcícola”. Apesar de muitos tolerantes, a adição de uma forma de cálcio trará uma grande diferença na rigidez e vigor foliar e radicular, por exemplo, e que se traduzirá em florações mais regulares e num crescimento mais interessante.

O adubo orgânico poderá ser também usado. Ainda que a aplicação de um composto não seja o ideal, dado o já elevado grau de decomposição do material e disponibilidade imediata de elementos químicos, a aplicação de folhas mortas e húmus recente em pequenas doses sobre os vasos e cestos das nossas orquídeas poderá ser uma ótima solução já que se trata de um adubo de libertação lenta que imita aquilo que aconteceria na natureza. Material fibroso como folhas de videira ou cascas de árvore ricas em taninos são bons tipos de fertilizante natural.

Finalmente, em jeito de acrescento, aquando da aquisição ou envasamento de um nova orquídea, a adubação deverá ser suprimida até que as raízes novas atinjam já um tamanho decente. Sem raízes, as plantas são incapazes de absorver o grosso dos nutrientes e, assim, inibimos o crescimento mais acelerado das raízes à procura deles. O que poderá ser aplicado, em substituição, é tiamina ou seja, vitamina B1. Aplicada à concentração de 1g para cada 2l de água, esta vitamina é um poderoso estimulante radicular e que pode, esporadicamente, ser juntado no preparado de fertilizante como complemento à adubação durante toda a vida da planta.

Assim, entende-se que a escolha do fertilizante e da frequência de aplicação deverá ser feita após conhecidos alguns fatores. Perceber que tipo de orquídea temos, se está efetivamente em período de crescimento ou dormência e ainda que tipo de fertilizante mais se lhe adequa é essencial para que não cometamos erros fatais para as nossas plantas e para que, pelo contrário, favoreçamos um crescimento e floração abundante.


Pedro Spínola

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