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O cultivo das plantas carnívoras - escolha, cuidados e conselhos

dionaea muscipula  
Dionaea Muscipula
pinguicula tina
Pinguicula tina
hibrido de Nepenthes ampullaria variedade tricolor
Híbrido de Nepenthes ampullaria
- variedade tricolor
hibrido de Sarracenia leuchophylla
Híbrido de Sarracenia leuchophylla
Nepenthes veitchii
Nepenthes veitchii

A ideia de uma planta que come carne bafeja há já muito tempo o imaginário humano, traduzindo-se numa série de romances e filmes onde se explora esse tema. Ainda que a ideia seja, no mínimo, mórbida e fantástica, não deixa de estar longe da verdade científica. A quase totalidade das plantas que conhecidas como “carnívoras” são, mais concretamente, insetívoras. Toda uma série de mecanismos de captura e atração destes invertebrados foi desenvolvida ao longo de milhões de anos, explorando diferentes territórios, climas e condições. Ainda que, em raras e grandes espécies de Nepenthes, plantas carnívoras asiáticas, esporadicamente se encontrem pequenos vertebrados como roedores e lagartos mortos dentro das suas armadilhas, estas são, na verdade, capturas acidentais, o equivalente a comermos uma lagarta no meio da alface, por exemplo.

Nos recentes anos, apoiada pela crescente curiosidade de um novo público-alvo e, nalguns casos, pelo seu uso enquanto combatentes de mosquitos e afins, a venda destas plantas cresceu exponencialmente. No entanto, ainda que genericamente simples de cultivar, há que atender a uma série de requisitos de cultivo, sem os quais é impossível mantê-las vivas.

Neste artigo, tentar-se-á explorar os principais géneros vendidos em Portugal, atendendo às suas especificidades e características.

Dionaea, Drosera, Sarracenia, Nepenthes e Pinguicula são os cinco tipos mais facilmente encontrados. Os três primeiros podem ser agrupados, transversalmente, sob uma linha comum de cultivo. Já os restantes dois têm em si diferenças que têm de ser marcadas e atendidas.

Antes de se avançar, é necessário explicar o porquê desta característica comum.

Na natureza, nas zonas de onde provêm, os solos são normalmente pobres em azoto. São, grosso modo, turfeiras ou de tal maneira ácidos que lhes é impedida a fixação de azoto no solo. Assim, estas plantas são obrigadas a obter compostos azotados de outro modo, neste caso, através da captura de insetos de onde absorvem, com a putrefação dos mesmos, por vezes ajudada por enzimas ou microrganismos, os nutrientes que precisam.

Torna-se lógico, assim, que para se manter estas plantas saudáveis é necessário, atendendo à sua natureza, mimicar o que normalmente teriam no seu habitat. O primeiro argumento passa pela nunca utilização de adubo, terra normal ou afins. O segundo, excetuando as Pinguiculas, passa pela constante necessidade de água, podendo e devendo regar diariamente ou fazê-las assentar sobre água durante quase todo o ano. Esta última necessidade pode ser obtida com segurança pela utilização de um recipiente da mesma largura que o vaso, obtendo assim uma estrutura quase hermética.

As Dionaeas, facilmente reconhecidas pelas suas armadilhas em forma de mandíbula, chamam instantaneamente a atenção. Na verdade, estas estruturas não são mais do que folhas modificadas, não se tratando de bocas ou de flores, sequer. As flores, nestas, surgem principalmente durante o verão, em longas e finas hastes que terminam em flores de abertura sucessiva. Já as Droseras assemelham-se mais à ideia de uma “planta”. As suas normalmente longas e finas folhas são cobertas de pingos de uma substância transparente, reluzente e pegajosa, que se agarram e colam a qualquer pequeno inseto que sobre elas aterre.

Na primeira, a superfície destas armadilhas possui uns pequenos pelos sensíveis que, após alguns segundos, são o gatilho para que a armadilha se feche sobre o que lá dentro estiver. É importante que não se as acione propositadamente, já que apenas fecham três vezes. Após isso, mantêm-se abertas para propósitos de fotossíntese. Nas últimas, ao longo dos dias seguintes, a folha enrola-se sobre as presas maiores, segurando-as.

Para estes dois géneros, o cultivo terá de ser no exterior. Além de preferirem o frio ao calor durante o inverno com, ainda assim, uma pequena redução da rega nesse período, precisam categoricamente de sol direto para um saudável crescimento. O substrato deverá ser uma mistura de turfa ou esfagno com perlite ou areia de rio, que nunca deverá secar. Regas constantes, podendo inclusive ser cultivadas como “pântano”, são imperiosas para o seu sucesso. O reenvasamento, somente quando necessário, deverá respeitar o substrato de origem.

 
drosera capensis em pantano  
Drosera capensis em pântano
Sarracenias cultivadas em pantano
Sarracenias cultivadas em pântano
habitos trepadores da Nepenthes
Hábitos trepadores da Nepenthes
Nepenthes veitchii x Bosch
Nepenthes veitchii x Bosch
Nepenthes x miranda
Nepenthes x miranda

Nesta mesma linha está o cultivo das Sarracenias. Aqui, uma vez mais, os longos e altos “vasos” não são mais que folhas modificadas, com uma coberta que impede a entrada em excesso de água da chuva. Existem algumas espécies, vários híbridos e imensos cultivares interessantes com cores e padrões vários. Uma vez mais, o sol terá de ser pleno para se obter os melhores resultados. Nestas, assim como nas seguintes, é importante que o cultivador não encha as armadilhas de água, facilitando a fuga dos insetos e diluindo o poder enzimático.

Este género aprecia, no entanto e nalgumas variedades, um rigoroso descanso de inverno, com temperaturas rondando os zero graus, algumas precisando inclusive de serem preservadas no frigorífico para que se mantenham viáveis. Nos três géneros atrás tratados é normal o seu definho durante o inverno. Nessa altura, folhas secas, mortas ou podres podem ser cortadas, pode ser aplicado um fungicida e feito qualquer ajuste de substrato, preparando-as para a recuperação que se inicia a meados da primavera com o aumento das horas de luz.

As Nepenthes, por sua vez vistosas e normalmente plantas grandes, requerem condições ligeiramente distintas. Menos tolerantes ao frio, com algumas espécies totalmente tropicais, podem, caso necessário, ser cultivadas sob um alpendre ou dentro de casa ou da estufa. Ainda que uma boa luminosidade seja necessária, não toleram sol direto durante muito tempo ou muitas horas. As Nepenthes, à semelhança das primeiras, são maioritariamente terrestres, mas com hábitos distintos. São trepadeiras possantes que podem atingir os 15m de comprimento.

As suas folhas terminam numa extensão nervosa que se enrola ao encontrarem apoios, dando lugar à, novamente, folha modificada que pende ou assenta no chão para capturar insetos, atingindo, nalgumas variedades, proporções gigantescas.

Podem ser penduradas, como normalmente se vêm à venda, mas os seus hábitos trepadores rapidamente se evidenciarão. O substrato ideal poderá ser semelhante às primeiras, mas cultivadores profissionais escolhem, normalmente, apenas esfagno ou turfa. As suas raízes não são, grosso modo, exploradoras e podem permanecer no mesmo vaso durante toda a sua vida, desde que escolhido já para uma planta adulta. Regas diárias podem ser feitas, assegurando uma rega/lavagem do vaso constante.

Nos quatro géneros explorados, água de boa qualidade é imprescindível, tendo atenção a que os ppms da água sejam sempre inferiores a 100.

Finalmente, a Pinguicula foge um pouco dos requisitos para as restantes. A maioria das que se encontram à venda são híbridos com uma espécie mexicana e requerem um substrato ligeiramente alcalino, contrariando assim a preferência por um solo ácido das anteriores.

Com um sistema radicular superficial, elas podem ser plantadas em pratos fundos, misturando um pouco de perlite ou esfagno com substrato para orquídeas e casca de ostra, dando o tão necessário cálcio alcalino.

As Pinguiculas preferem condições mais sombreadas e capturam os insetos através de um sistema semelhante às Droseras. As suas folhas largas verde-claro, repletas de pequeníssimas gotículas, dão-lhes um aspeto brilhante. Além disso, produzem flores belíssimas e duradouras e são as mais adequadas ao cultivo dentro de casa. Conjuntamente com as Droseras, formam o duo ideal para o combate aos mosquitos nas nossas casas, dentro e fora delas. E assim se alia o gosto pela botânica a uma ferramenta de combate a um flagelo entomológico de uma forma interessante, bela e biológica.

Cultivadas corretamente, serão uma companhia permanente de qualquer um que as experimente pela primeira vez.


Pedro Spínola

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