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Tempo de reflexão!

Aguarela Alfredo Morais 1930

No estudo da nossa cultura tradicional popular, vivemos um tempo em que é fundamental termos a certeza do caminho a seguir para garantia da sua salvaguarda. Não estamos em condições de privilegiar os experimentalismos, nefastos pela incerteza dos seus resultados, nem de continuarmos a andar sem rumo, correndo o risco de desperdiçarmos coisas da maior relevância.

As recolhas e pesquisas etnográficas devem fazer-se com a urgência possível, pois a cada dia que passa ficamos mais longe do tempo que queremos investigar e cada idoso que morre é um autêntico livro que se fecha, uma biblioteca que arde, pelo que não podemos desperdiçar tão preciosas fontes. O que se deve fazer com o espólio recolhido é que já exige uma maior compenetração e muito cuidado.

 

Bem sabemos que, do ponto de vista científico, a pesquisa da informação etnográfica e folclórica através da consulta de outras fontes é viável, porém, não é a mesma coisa. A vida social e cultural do povo raramente foi objeto de abordagem jornalística isenta, as fotografias e gravuras contemporâneas envolvem um conjunto de riscos que nem sempre conseguimos superar, pelo que o testemunho oral de quem vivenciou a realidade que se pretende conhecer e representar constitui sempre a fonte mais fidedigna, mesmo não ignorando os cuidados que temos de ter para conseguir fazer um bom trabalho.

Em ciências humanas navegamos sempre no mundo da subjetividade, todavia há processos de objetivar as informações obtidas, cruzando-as com dados concretos associados à realidade que estudamos, nomeadamente na perspetiva social, económica, cultural e política.

Quando nos predispomos a fazer um projeto de investigação etnográfica e folclórica devemos assumir uma atitude científica, que nos permita penetrar no terreno de estudo sem condicionalismos preconceituosos que possam inquinar as nossas melhores intenções. Temos de estar preparados para conhecer aquela comunidade, mas não podemos iniciar o trabalho com a solução predefinida. Em suma, não podemos viciar os resultados. A questão inicial que nos conduz ao terreno tem de ter a flexibilidade suficiente para podermos chegar a uma conclusão diferente ou até oposta à que tínhamos, por senso comum, quando a formulámos.

Depois, e não menos importante, teremos de admitir que cada comunidade tem as suas singularidades, não se podendo representar de modo igual coisas que são diferentes! As identidades são coletivas e plurais, logo diversas. Eis o grande sortilégio para o trabalho nesta área do saber!

 

Ludgero Mendes

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