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As orquídeas nas zonas altas e frias

bletilla striata
 Bletilla striata
cypripedium irapeanum
 Cypripedium irapeanum
  cypripedium tibeticum
 Cypripedium tibeticum
pleione maculata
 Pleione maculata

O termo “orquídea” ecoa, de vários ângulos, noções ligadas ao tropical, à necessidade de um clima quente e húmido ou, até mesmo, a estufas. Mas a verdade é que, graças à amenidade subtropical das cotas mais baixas, especialmente das vertentes viradas a sul da ilha da Madeira e mesmo do Porto Santo, é possível ter muitas espécies de orquídeas oriundas dos trópicos e subtrópicos no exterior, durante todo o ano.

Infelizmente, o mesmo não será verdade em zonas altas e mais frias como o Estreito de Câmara de Lobos, Curral das Freiras, Camacha ou mesmo no Santo da Serra. Imbuídos a comprar espécies e variedades pelas suas cores e durabilidade, acabamos por não ter sucesso no cultivo e manutenção dessas plantas nos nossos jardins se vivermos nessas zonas. Por um lado, existe a possibilidade de as mantermos dentro de casa, mas, por motivos vários, nem sempre isso é possível. Então, a abordagem correta será incutirmo-nos de conhecimentos para podermos encontrar as plantas que melhor se adaptem às nossas condições, minimizando os tratos e proliferando as florações.

As orquídeas são plantas que colonizaram todos os continentes com exceção da Antártida e podem ser encontradas desde a tundra às regiões montanhosas, passando por dunas e florestas tropicais. A título disso temos, na Madeira, algumas espécies, endémicas inclusive, de orquídeas, que só vivem em zonas de montanha, com requisitos de frio e humidade elevadas. Para essas, as condições que facilmente serviriam às Phalaenopsis ou às Cattleyas são, simplesmente, catastróficas.

Nos últimos anos, com o aumento da produção intensiva de orquídeas nos grandes comerciantes europeus surgiram, particularmente, as Masdevallia no mercado nacional e regional em grande quantidade. Ainda que dissonantes no aspeto com outras orquídeas mais conhecidas, as suas cores garridas, durabilidade e quantidade de flor que produzem torna-as extremamente apelativas. Obviamente, tentando cultiva-las como outras plantas tropicais leva ao seu definho quando, aí está, são espécies de altitude cujas temperaturas de cultivo ideal situam-se entre os 10 e os 17ºC.

Este último género de orquídeas, muito gratificante quando acertadas as condições, provém dos trópicos, sim, mas acima dos 2000m e até aos 4000m de altitude. Ora, as noites são frias e os dias raramente quentes. Precisam de muita humidade atmosférica e detestam calor e sol direto. Juntamente com as Dracula, as tão famosas, mas raras orquídea cara-de-macaco, são géneros de orquídeas mais fáceis de cultivar quando não conseguimos replicar as condições mais quentes que outros géneros requerem. Precisam, no entanto, de muita humidade e a qualidade da água tem der ser muito boa. Felizmente, a água canalizada da Madeira é baixa em sais e pode ser seguramente utilizada em todos os géneros.

 
masdevallia coccinea
 Masdevallia coccinea
masdevallia regina
 Masdevallia regina
orquideas dica1
 Pleione zeus weinstein
dracula vampira
 Dracula vampira

No entanto, as regiões que assinalámos nem sempre têm invernos tão amenos e para isso existem ainda outros géneros que precisam, verdadeiramente, de frio para prosperar. Falo das Bletilla, dos Cypripedium e das Pleione. O único senão tem a ver, precisamente, com a supressão da rega durante os meses mais inverno onde o frio, elemento crucial para a preservação dos pseudobolbos que ficam dormentes e da indução hormonal para florirem bem, é crucial. Os últimos dois proliferam com invernos entre os 2 e os 7 graus de temperatura e, em regiões mais baixas, podem e devem passar o inverno no frigorífico, armazenando os pseudobolbos embrulhados em papel de jornal e colocados na gaveta do frigorífico.

Desses três, o mais difícil é o Cypripedium que se assemelha imenso aos tão comuns “sapatinhos”, mas que, quer biológica, quer fisiologicamente, são tão distintos. Estes, quase sempre de regiões onde as temperaturas de inverno descem aos -10ºC, ficam totalmente cobertos de neve, perdendo todo o vegetal, reduzindo-se a rizomas que dormem até à primavera seguinte. Não toleram sol direto e a temperatura, aquando do crescimento, deve estar entre os 10 e os 22ºC. Se se possuir uma zona abrigada cuja rega seja feita unicamente por vontade humana, podem estar diretamente plantados no chão.

Mais fácil e extremamente floríferas são as Pleione. Menos exigentes com o frio, os 6ºC são lhes suficientes. Como os primeiros, perdem as folhas, mantendo, sempre à superfície, os pseudobolbos que podem, nas zonas mais quentes, ser recolhidos ao frio. Na primavera são plantados, superficialmente, surgindo as flores antes das folhas. Duradouras e chamativas podem, novamente, ficar no exterior, envasadas, se não apanharem água no inverno.

Já as Bletilla foram uma visão comum nos jardins da Madeira, especialmente nas quintas acima dos 500m de altitude. Rara hoje em dia, pode estar à chuva, plantada diretamente no jardim durante todo o ano. É conhecida, a nível europeu e norte-americano como a “orquídea-de-jardim”. Esta beleza asiática é há já milénios parte dos jardins chineses e japoneses e floresce abundantemente na primavera, especialmente em zonas cujos invernos sejam mais frios, entre os 10 e os 15 graus celsius.

Existe, assim, uma orquídea para todas as nossas condições e devemos, em vez de batalhar contra a corrente, adaptar as nossas escolhas às condições que conseguimos oferecer sem esforço. Vê-las proliferar, crescer e florir abundantemente é sempre um deleite e acabamos por aumentar o nosso gosto e conhecimento aos expandir as fronteiras da diversidade dos nossos jardins.

 

Pedro Spínola

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