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O bicho ou broca da cana (Sesamia nonagrioides) na Madeira

broca da cana21. GENERALIDADES

A cultura da cana sacarina tem, na Região Autónoma da Madeira (RAM), como problema fitossanitário mais importante os ataques de um inseco, mais conhecido entre nós por "bicho da cana", cujos estragos podem atingir uma dimensão considerável, provocando quebras de produção que atingem os 20-30%, podendo ultrapassar em muitos casos os 50%.

Trata-se de um inseto lepidóptero, cuja designação científica é Sesamia nonagrioides, que tem um desenvolvimento intenso na zona mediterrânica, atacando gramíneas, embora com uma apetência especial para a cana e milho.

Na RAM, o milho não é tão afetado como a cana, por se encontrar em zonas diversas desta (caso dos concelhos nortenhos, com condições ambientais menos convenientes para o seu desenvolvimento).

2. DESCRIÇÃO

2.1 Lagarta
É nesta fase de desenvolvimento que a praga é mais perigosa.

As lagartas têm um comprimento de 4 cm, o seu corpo varia de rosado a creme, com uma linha dorsal sombreada, cabeça castanha.

Pode ser detetada no interior dos entre nós da cana sacarina.

2.2 Crisálida
Trata-se de uma fase intermédia do desenvolvimento do inseto, em que ocorrem mudanças morfológicas da fase de lagarta para inseto adulto.

Entre nós a crisálida é conhecida por "bicho Rodrigues".

Tem um comprimento de 2,5 cm, coloração castanha e pode ser encontrada nos entre nós da cana.

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Lagarta Crisálida

 

broca da cana52.3 Adulto
Mede 1,5 a 2,0 cm de comprimento, com uma envergadura que pode atingir os 3,0-3,5 cm. A sua coloração é cinzenta esbranquiçada. O insecto, nesta fase tem hábitos crepusculares, podendo ser facilmente observado à noite em zonas de focos luminosos, pela atração que tem por estas fontes.

3. CICLO
Em Março-Abril começam a aparecer os primeiros adultos, que fazem a postura dos seus ovos na bainha das folhas. Uma semana depois, emergem as lagartas, as quais migram para o interior da cultura, iniciando os ataques.Esta fase (que ocorre em Julho) é passada no interior da cana. Os adultos emergem e saem, de seguida, pelos orifícios antes abertos pelas lagartas. Na RAM podem ocorrer cerca de 3 ciclos/ano.

4. ESTRAGOS
As lagartas escavam galerias no interior dos entre nós, consumindo os tecidos, provocando, com isto, uma perda considerável de produtividade.

Também ataca os gomos de brotação, com consequências no afilhamento da cultura e, consequentemente, na produção e rendimento final.

A qualidade cana é afetada e o rendimento industrial é posto em risco, pela menor concentração de açúcar e pela aparição de "doenças" ao nível da aguardente e menor qualidade do mel.

As canas atacadas partem-se mais facilmente, tombando com o vento. Este facto também dificulta a colheita.

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5. CONTROLO

5.1 Cultural
• Todas as operações culturais devem ser feitas de forma correcta e atempada.
• Após a colheita, o terreno deve ser limpo dos restos da colheita anterior
• Na altura da sacha e monda, deverão ser eliminados os hospedeiros da cultura.
• A adubação azotada deve ser feita de forma racional (um excesso leva a que os tecidos da cana sejam mais tenros, facilitando a penetração das lagartas)
• As desfolhas são uma operação fundamental para o seu controlo, pois a postura é feita na bainha das folhas e que a desfolha facilita a distribuição dos pesticidas até zonas menos acessíveis.

5.2. Químico
Dos produtos químicos aconselhados em Portugal para o combate do "bicho", destaca-se a lambda cialotrina (o "Karate"). No entanto, os serviços oficiais continuam a trabalhar com outros produtos, de forma a aumentar o "leque" de produtos a utilizar.

broca da cana10Os produtos baseados em Bacillus thuringiensis também combatem esta praga, podendo ser utilizados em agricultura biológica.

Para além do B. thuringiensis, a agricultura biológica também pode recorrer às piretrinas para o controlo, havendo notícias da utilização de insetos auxiliares (parasitoides) eficazes no combate do "bicho", como a Cotesia flavipes e o Trochogramma sp.

 

Ricardo Costa
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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