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O controlo do gorgulho (Cosmopolites sordidus) na cultura da bananeira (Musa acuminata Colla) – parte I

controlo do gorgulho3 O gorgulho da bananeira Cosmopolites sordidus (Germar, 1824) (Coleoptera: Dryophthoridae) é um inseto de larga distribuição mundial, infestando e danificando seriamente todas as variedades de plantas pertencentes ao Género Musa.

As perdas de produção provocadas pela ação deste inseto podem ser elevadas se não for controlado, mas apenas a utilização de um atrativo específico e de uma armadilha para captura massiva dos adultos desta praga, associada a uma intervenção localizada com inseticida (autorizado para este efeito) nas socas velhas das bananeiras (eliminando adultos, pupas e larvas) terá um resultado efetivo na redução da população a médio prazo.

Esta praga existe na Região Autónoma da Madeira desde o século XIX (Wollaston, 1876) e desde 1992 que se tem registado problemas de ataques desta praga, nomeadamente desde a instalação de sistemas de rega localizada e o estabelecimento de novas variedades in vitro.

No primeiro caso, deve-se ao facto de, após a instalação dos sistemas de rega, se terem deixado de efetuar algumas práticas de cultivo, como enterrar os resíduos da cultura. Estes ficam sobre o terreno e pela ação da rega vão se decompondo gradualmente e fertilizando o terreno (mulching), constituindo refúgios para o gorgulho.

No segundo caso, existem dados que indicam uma preferência do gorgulho para atacar plantas produzidas pelo método in vitro, provavelmente por estas, numa fase inicial, não possuírem um endurecimento da bainha das folhas que constitui o pseudotronco tão elevado como as "canhotas" (rebentos laterais), facilitando a colocação dos ovos do inseto.

O inseto adulto tem hábitos noturnos (fotofobia) refugiando-se durante o dia entre os detritos vegetais que se encontram no solo, nas "socas" velhas de bananeira ou entre as inserções foliares no pseudotronco da planta (Schmidt, 1965). Alimenta-se de restos vegetais em decomposição, apesar de ter sido observado que pode permanecer até 6 meses sem se alimentar (Smith, 1982). Suplicy & Sampaio (1982) estimaram que a longevidade do adulto pode chegar aos 2 anos. Apesar de possuírem asas funcionais debaixo dos élitros, raramente se servem delas (Franzmann, 1972), o que leva a que haja unanimidade dos especialistas relativamente à sua incapacidade para voar. O seu movimento é fundamentalmente uma marcha lenta. Quando se sentem perturbados imobilizam-se, simulando estarem mortos.

Os adultos podem permanecer na mesma "manta" por longos períodos de tempo e apenas uma pequena percentagem se moverá mais de 25 metros em 6 meses (Gold & Messiaen, 2000).

Balachowsky (1963) determinou a temperatura ótima para o desenvolvimento de Cosmopolites sordidus a 23ºC. As posturas de ovos ocorrem durante todo o ano mas, em períodos de pluviosidade baixa ou nula, a atividade do insecto diminui significativamente bem como as posturas (Vilardebó, 1984), visto este animal ser muito sensível à dessecação.

A fêmea deposita os ovos espaçadamente na base do pseudotronco, na inserção das baínhas das folhas junto à coroa do rizoma da planta, escavando uma pequena cavidade com as mandíbulas. Podem encontrar-se ovos em pseudotroncos cortados de fresco, variando em número entre 50 e 100 por fêmea.

 

Em períodos secos observa-se um maior movimento dos adultos em busca de humidade e, pelo contrário, em períodos húmidos o movimento diminui mas aumenta a frequência de posturas.

A larva alimenta-se dos tecidos vivos da planta, escavando galerias com o aparelho bucal. Completa o seu ciclo no interior dos rizomas, retrocede pela galeria para colocar-se perto do exterior e aí prepara uma espécie de câmara oval, fechada para o exterior com um tampão feito com fibras da própria planta, onde se imobiliza para passar ao estádio de pupa.

Geralmente encontram-se todas as fases do ciclo de vida de C. sordidus numa plantação de bananeiras.

Devido à atividade noturna dos adultos e à localização das larvas no interior da planta, a presença do gorgulho numa plantação pode passar despercebida até atingir níveis de infestação elevados. A praga instala-se normalmente nas bananeiras onde já saiu o cacho mas, quando os seus níveis populacionais são elevados, têm-se observado ataques a plantas em fase de produção, causando grandes prejuízos.

Os sintomas exteriores na planta são pouco característicos, já que coincidem com os sintomas de outros problemas fitossanitários:

- folhas com amarelecimento, posterior necrose e finalmente morte da planta;
- fraco desenvolvimento da planta;
- frutos pouco cheios (cachos mais pequenos).

Ao cortar o pseudotronco ao nível do rizoma podem observar-se as galerias escavadas pelas larvas e uma massa escura correspondente a tecidos vegetais em decomposição.

Em relação aos danos causados por C. sordidus podemos distinguir duas categorias:

- os danos diretos, provocados pelas larvas que, ao se alimentarem, destroem tecidos e vasos, dificultando a circulação da seiva. Como consequência reduz-se o desenvolvimento da planta e o tamanho do cacho. Esta enfraquece de tal forma que facilmente se quebra com o vento, logo diminuindo a produção. Em infestações graves a diminuição do rendimento da colheita pode ser de 50%;

- e os danos indiretos, dado que as galerias e orifícios na planta causados por C. sordidus nos seus diferentes estádios (larvas e posturas dos adultos) servem de porta de entrada a microorganismos patogénicos (fungos, bactérias, etc.).

São várias as formas de dispersão do gorgulho, sendo talvez a mais importante a utilização de material vegetal proveniente de zonas infestadas, que pode transportar o inseto.

A rega à manta (por alagamento) pode, por sua vez, arrastar os adultos de umas zonas para outras. Por outro lado, o próprio movimento dos adultos também ajuda à sua dispersão.

No entanto, as técnicas actuais de propagação in vitro e a utilização de sistemas de rega gota a gota ou de microaspersão permitem reduzir fortemente a dispersão do insecto, sendo ela pelos seus próprios meios reduzida, em virtude deste não voar e da sua locomoção ser extremamente lenta.

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Bruno Silveira
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural