As potenciais utilizações agrícolas da vinhaça - parte I |
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A espécie Saccharum officinarum L. é a cultura com maior relevância na produção de açúcar a nível mundial. Além da produção de açúcar, da cana sacarina obtém-se outros subprodutos como o mel, melaço, aguardente e etanol. A vinhaça é um composto químico líquido que resulta do processo industrial que transforma a cana-de-açúcar em aguardente. Ao longo dos tempos, na ilha da Madeira, a vinhaça foi lançada diretamente, sem prévio tratamento, em ribeiras e, consequentemente, no mar, contribuindo para a degradação ambiental dos ecossistemas. Atualmente, com base nas tecnologias disponíveis para a reutilização da vinhaça, existem várias alternativas para o aproveitamento da vinhaça, tais como a fertirrigação, a incineração para reutilização das cinzas na agricultura, a evaporação para produção de ração animal, a produção de biodiesel e de fungos, a utilização em materiais de construção e a produção de eletricidade. A reutilização de um resíduo que seria descartado promove a sustentabilidade e a economia circular e, nesse sentido, a Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DRA), através da Divisão da Inovação Agroalimentar (DIA) e da Divisão de Mercados Agrícolas (DMA), da Direção de Serviços de Mercados e Logística (DSML), em colaboração com a Direção Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, elaboraram um protocolo para a realização de vários ensaios, de modo a avaliar os potenciais usos agrícolas da vinhaça. 1 – Determinação da validade da vinhaça Foram colocados frascos de vidro (F), contendo vinhaça diluída (VD) e vinhaça concentrada (VC) em diferentes condições ambientais de armazenamento, nomeadamente: - FVC1 (temperatura ambiente), FVC2 (câmara frigorífica) e FVC3 (câmara fitoclimática); A monitorização foi realizada semanalmente e registaram-se as eventuais alterações de aspeto geral e valores de pH. O ensaio teve a duração de seis meses. Não se verificaram alterações no valor de pH (3,0), mas sim no aspeto geral, como podemos verificar na figura 1 (vinhaça concentrada) e na figura 2 (vinhaça diluída). Também foram realizadas análises químicas da vinhaça armazenada, à temperatura ambiente e conservada no frigorífico, cujos resultados encontram-se na tabela seguinte (tabela 1):
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Não se verificou a existência de diferenças significativas entre os dois métodos de armazenamento, para os parâmetros estudados. 2 - Obtenção de resíduo seco a partir da vinhaça concentrada (VC) Procedeu-se à decantação da vinhaça concentrada e o produto obtido foi distribuído em tabuleiros e/ou caixas de Petri previamente cobertos com papel vegetal. Estes foram colocados em estufa a 70ºC, até a obtenção do resíduo seco. Quando completa a desidratação, retirou-se o resíduo seco de cada tabuleiro, sendo armazenado após a respetiva pesagem e registado o valor de peso obtido (figura 3).
Os resultados totais obtidos foram registados na tabela 2, nomeadamente o volume total inicial (VI), tempo de secagem (TS), tempo gasto na obtenção do resíduo seco (TRS), peso total do resíduo seco obtido (PRS) e rendimento (R). De referir que este último (R) foi calculado a partir da seguinte fórmula: R= (Peso total do resíduo seco obtido X 100)/Volume inicial
A obtenção do resíduo seco a partir da decantação e evaporação da vinhaça é um processo moroso, pouco eficiente e com elevados custos, do qual resulta um rendimento muito baixo, inferior a 3%. De salientar que o resíduo seco foi alvo de análise química de forma a avaliar e verificar a sua eficácia como biofertilizante, com valores elevados de Potássio (11,5%) e Azoto (2,7%) total. CONCLUSÕES GERAIS Não existem diferenças significativas entre os dois métodos de armazenamento da vinhaça (temperatura ambiente e câmara frigorífica) no que se refere ao azoto total, fósforo total e potássio. Assim, a vinhaça poderá ser armazenada durante pelo menos seis meses sem alterações químicas evidentes. A obtenção do resíduo seco a partir da decantação e evaporação da vinhaça, realizado com recursos existentes no InovLab, demonstrou ser um processo moroso, pouco eficiente e com elevados custos, pelo que se conclui não ser viável a sua obtenção através deste processo e com estes recursos. No entanto, tendo em conta a sua eventual eficácia como biofertilizante devido aos seus valores elevados de potássio (11,5%) e azoto (2,7%) total, julgamos que a utilização de um método de secagem mais rápido e eficiente permitiria considerar este resíduo como uma alternativa viável, quer a nível de armazenamento, quer a nível de aplicação. Numa futura edição do DICA, serão abordados os ensaios realizados para avaliar a eficácia da utilização de vinhaça como biofertilizante, inseticida e anti-abrolhante.
Chanfón Curbelo, J. M., & Lorenzo Acosta, Y. (2014). ALTERNATIVAS DE TRATAMIENTO DE LAS VINAZAS DE DESTILERÍA. Experiências NACIONALES E INTERNACIONALES. Revista Centro Azúcar, 41 (2) Natália Silva |
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