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A produção de cogumelos – Parte III
Obtenção de micélio, ‘spawn-mother’, ‘pellets’ para cultivo de Lentinula edodes

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Fig. 1 – Cogumelo Lentinula edodes, vulgarmente conhecido por Shiitake

O cogumelo Lentinula edodes, vulgarmente conhecido por Shiitake (fig. 1), é uma espécie de origem asiática. O seu cultivo iniciou-se na China, há cerca de mil anos, sendo introduzido no Japão por produtores chineses. Mais tarde, começou a ser cultivado nos Estados Unidos da América e na Europa.

A produção deste cogumelo tem crescido a nível mundial, devido ao seu interesse gastronómico e às suas propriedades nutricionais e medicinais, tornando-se a segunda espécie de cogumelo mais consumido em todo o mundo.

Trata-se de um cogumelo saprófita, que para se alimentar e obter a energia necessária ao seu desenvolvimento, utiliza processos de decomposição da madeira onde está inserido.

O cultivo de L. edodes envolve várias fases, desde a obtenção de micélio, “spawn-mother", "pellets”, preparação do substrato/troncos, inoculação, incubação, frutificação e colheita.

A obtenção de micélio e “spawn-mother" é semelhante ao descrito no artigo do DICA, edição n.º 277 - Produção de cogumelos - Parte I.

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Fig. 2 – Placas de Petri colonizadas por micélio de Lentinula edodes 

A partir de um cogumelo jovem e fresco de Shiitake, é retirado um fragmento e colocado em meio de cultura, de modo a obter um micélio de qualidade, sendo este um dos responsáveis pela boa produção (fig. 2).

Uma vez estabelecido o micélio, este é misturado com um cereal (trigo, aveia ou outro), previamente hidratado e esterilizado, obtendo-se assim a "spawn-mother" (semente-mãe), a qual está concluída quando o grão se apresentar totalmente coberto pelo micélio.

Para o cultivo de Shiitake, em vez de se utilizar “spawn”, são utilizados “pellets”, que consistem em cavilhas de madeira inoculadas com o fungo. A madeira utilizada nestas cavilhas não deve ser de resinosas e a sua elaboração requer alguns cuidados.

As cavilhas de madeira devem ser imersas em água com hipoclorito de sódio (lixívia), e depois apenas em água.

Posteriormente, retira-se o excesso de água das cavilhas, estas são transferidas para recipientes (frascos) de inoculação e esterilizadas em autoclave.

Após a esterilização e arrefecimento, numa câmara de fluxo laminar as cavilhas são inoculadas com o “spawn-mother” e uniformizadas através de agitação (fig. 3).

 
cogumelos Fig 3
 Fig. 3 – Inoculação das cavilhas de madeira com "spawn-mother"

Os recipientes devem ser bem selados, para evitar contaminações por outros fungos e colocados a incubar no escuro, para que o fungo colonize as cavilhas.

Durante o período de incubação, os recipientes devem ser ligeiramente agitados, para que exista uma colonização uniforme.

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Fig. 4 – Cavilhas colonizadas pelo micélio, originando assim os “pellets”

A incubação está completa quando as cavilhas se encontram completamente cobertas pelo micélio, originando assim os “pellets” (fig. 4). Nesta fase devem ser conservados no frio para que o fungo entre em latência e a qualidade dos “pellets” se mantenha, com uma validade de 6 a 8 meses.

Os ‘pellets’ assim produzidos irão permitir a inoculação de troncos, onde o fungo irá se alimentar e dar origem a cogumelos de qualidade.

Atualmente existem laboratórios/empresas a produzir ‘pellets’ dentro dos parâmetros de qualidade, para garantir a ausência de contaminantes de modo a obter um bom rendimento na produção.

Numa futura edição do DICA, serão abordados os procedimentos utilizados na produção de Shiitake, nomeadamente escolha, preparação, inoculação e incubação dos troncos, assim como frutificação e colheita.

 

Duarte Sardinha/Rubina Andrade
Divisão de Qualidade Agrícola
Direção de Serviços dos Laboratórios e Investigação Agroalimentar
Direção Regional de Agricultura