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O maneio da cultura da cana sacarina

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Podendo as plantações de cana sacarina atingir, sem problemas de maior, um tempo de vida de 20 a 25 anos, a instalação do canavial é fundamental para o sucesso da cultura, sobretudo a preparação do solo.

Na maioria dos casos de canaviais instalados na Madeira, esta é uma operação feita de forma manual, com todas as características ótimas que uma cava manual implica.

No entanto, de forma resumida, há que realizar primeiro uma cava profunda (até aos 30 a 40 cm de profundidade), acompanhada de alguma despedrega (nos casos em que tal seja evidente), seguida de várias operações de "esmiuçamento" do solo, dado que irá receber uma "semente" que mais não é que um propágulo com os respetivos "olhos"/"gomos" contidos, que têm de encontrar no solo as condições ótimas para a "germinação" e comportamento fisiológico futuro (este interpretado pelos 20 a 25 anos de vida).

A quantidade de propágulos a usar deverá ser de cerca de 700 kg/ha, valor este que tem em conta algum desperdício de material, seja por estar atacado pela "broca", seja por não ter as condições ideais para ser considerado como tal.

Seguidamente, é necessário preparar o terreno para a distribuição dos propágulos. Para tal, haverá que ter em conta a possibilidade de mecanização que a cultura possa vir a ter, sendo as principais soluções técnicas para esta cultura as seguintes:

- Cultivo não mecanizado: aconselha-se um espaçamento na entre linha de cerca de 0,80m (o espaçamento na linha não é definível, uma vez que este espaço será ocupado pelos propágulos);

- Cultivo mecanizado: consoante a mecanização for feita recorrendo a motocultivador/cavadeira ou trator, a entre linha variará entre 1,0 a 1,10m, no primeiro caso e 1,5 a 2,0 m no segundo.

A cana sacarina é uma espécie esgotante do solo, daí que é fundamental ter alguns cuidados com os seus níveis de adubação.

Os valores de fertilização química aconselhados para a implantação não são muito diferentes dos da sua posterior manutenção, visto que a cultura inicia a sua produção logo no primeiro ano de cultivo (onde pode ter uma produtividade de 80 a 90% da ideal), havendo somente que suplementar esta adição com as necessárias correções orgânica e mineral (estrume e calcário), dado que se tratam de aplicações com maior longevidade no solo.

Os valores médios são apresentados em seguida (os primeiros valores correspondem aos necessários à plantação e, entre parêntesis, os de manutenção da cultura):

Estrumação (Kg/1.000 m2):
1.000 Kg de estrume bem curtido (1.500 Kg de 4 em 4 anos);

Adubação de fundo (Kg/1.000 m2):
Sulfato de amónio: 45 Kg (20 Kg)
Superfosfato de cálcio 18%: 45 Kg (45 Kg)
Sulfato de potássio: 50 Kg (50Kg);

  Adubação de cobertura (Kg/1.000 m2):
Nitro magnésio: 25Kg (25 Kg).

Para a sua manutenção, as operações culturais que a cultura necessita resumem-se a uma cava ligeira (até 10 a 15cm) antes da nova rebentação (que coincide com o período que se segue à colheita) e algumas sachas.

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Simultaneamente com estas operações pode-se efetuar a aplicação dos adubos químicos e/ou algum corretivo que seja necessário adicionar ao solo.

Os tratamentos fitossanitários resumem-se ao controlo da broca da cana/"bicho" da cana, cujo nome científico é Sesamia nonagrioides, responsável por quebras de produção muito importantes entre nós (podem atingir 40 a 50% nas quebras de produção).

Para o seu tratamento só existe um produto aconselhado, cuja matéria ativa é a lambda cialotrina (o vulgar "Karate"). Os tratamentos são fundamentais para garantir uma produção minimamente consentânea com as capacidades produtivas da espécie.

A colheita é, talvez, a operação mais penosa e difícil desta cultura, uma vez que é necessário desfolhar e retirar o sabugo das canas formadas, o que muitas vezes é complicado pelas bordas serradas das folhas, que chegam a ferir seriamente os braços dos operadores.

O ideal para este trabalho era que o mesmo só começasse a ser realizado na altura exata, à imagem do que é feito com a cultura da vinha, ou seja, quando o índice de maturação fosse o ideal (ou o mais próximo dele).

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Ricardo Costa
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural