1 1 1 1 1

engcalhetaA cana sacarina perpassa toda a história da Região Autónoma da Madeira.

Efetivamente, embora não sendo a primeira grande cultura madeirense, uma vez que a primeira preocupação dos povoadores da nossa terra assentou na produção de cereais para a sua alimentação, foi, no entanto, a primeira opção geradora de riqueza.

Introduzida na Ilha da Madeira logo a seguir à sua descoberta (as primeiras estacas foram importadas da Sicília, por ordem do Infante D. Henrique, por volta de 1425), a cultura prosperou e desenvolveu-se até meados do século XVI.

enghintonA Madeira tornou-se, naqueles tempos, a maior produtora de açúcar do Mundo, fornecendo as maiores casas reais europeias de um produto de luxo na altura, o açúcar. A confeitaria madeirense ganhou um estatuto de fama incomparável, onde se salientavam os famosos "pães de açúcar" que tantas delícias fizeram aos seus privilegiados consumidores.

O rasto deixado é enorme e perdura até à atualidade. Como exemplo de tal, citamos o património riquíssimo conservado no Museu de Arte Sacra, na sua maioria adquirido com a riqueza gerada pelo açúcar.

Mas a tecnologia (agrícola e industrial) canavieira não se resumiu somente à área restrita do arquipélago da Madeira, sendo a partir dele que foi difundido o conhecimento e as vantagens deste cultivo a outras zonas do planeta.

Os primeiros propágulos de cana sacarina plantados no Brasil foram originários da Madeira e foram conduzidos agronomicamente por madeirenses.

- Estudos indicam que o primeiro plantio desta espécie no Brasil iniciou-se em 1522, em São Vicente, com estacas oriundas da Madeira por Martim Afonso de Sousa;
- No estado de Pernambuco, a sua introdução foi feita em 1533, também com propágulos originários da Madeira, por Duarte Correia Pereira.
- A título de curiosidade, refira-se que o nome dado ao famoso "morro" do Rio de Janeiro, o "Pão de Açúcar", tem origem nos famosos pães referidos anteriormente, que tinham uma forma muito semelhante àquele "fenómeno" geológico tão conhecido mundialmente.

No entanto, a divulgação da cana-de-açúcar noutras zonas, com potencialidades e áreas infinitamente superiores às da Madeira, trouxe, inevitavelmente, problemas à viabilidade do seu cultivo. Assim, a riqueza gerada por esta cultura transferiu-se para a América do Sul, iniciando-se uma fase de decaimento na Madeira: a cana praticamente desapareceu no século XVII, na época restando pequenas plantações dispersas e quase para consumo doméstico.

Ricardo Costa