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Notas sobre a cultura do castanheiro na RAM

O castanheiro é uma árvore de folha caduca, de grande porte, podendo crescer até aos 40 metros de altura. É de grande longevidade, podendo atingir mais de 900 anos. Floresce no período de maio a junho e os frutos amadurecem nos meses de outubro e novembro.

Dá-se o nome de souto a um povoamento de castanheiros para produção de frutos, a castanha, e castinçal a um povoamento de castanheiros para produção de madeira.

A castanha é um fruto de forma cónica, que se desenvolve dentro de um invólucro espinhoso, o ouriço, que pode ter até três castanhas. Do ponto de vista nutricional, é um fruto rico em hidratos de carbono complexos, sob a forma de amido e fibra, e contém pouca proteína e gordura.

Na RAM, as principais pragas da cultura são o bichado da castanha (Cydia splendana), que provoca grandes estragos nas castanhas e a vespa-das-galhas-do-castanheiro (Dryocosmnus kuriphilus), que causa grandes danos nos castanheiros, traduzindo-se na quebra de produção de castanha. Nas doenças, destaca-se o cancro do castanheiro (Endothia parasítica) e a doença da tinta (associada a dois fungos: Phytophthora cinnamomi e Phytophthora cambivora), que contribuem para o enfraquecimento da árvore e até a sua morte.

O bichado é uma praga que representa grandes perdas na produção de castanha, podendo atingir taxas de infestação da ordem dos 50% em algumas áreas. De forma a evitar a entrada destes frutos no circuito comercial, é possível aos produtores submeterem os frutos a processos de esterilização e seleção no Centro de Processamento da Castanha, localizado no Curral das Freiras.

O bichado da castanha é uma espécie de borboleta crepuscular/noturna, que efetua a postura entre os meses de agosto a outubro, depositando os ovos nas folhas mais próximas aos ouri-ços. Após duas a três semanas, dá-se a eclosão das lagartas, que se dirigem para os ouriços, abrindo um pequeno orifício até atingirem o interior da castanha, alimentando-se e efe-tuando galerias, o que resulta na depreciação total da castanha. Na fase final do crescimento da lagarta, esta sai do fruto através de um orifício de aproximadamente 2 a 3 mm.

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Figura 1 – Lepidóptero adulto Cydia splendana e lagarta 

Sobre esta praga, a Direção Regional de Agricultura (DRA) recomenda, sempre que possível, as seguintes operações culturais como ações preventivas:

- a colocação de armadilhas, o que consiste no uso de feromonas sexuais para a captura dos machos, reduzindo significativamente o número de acasalamentos e, logo, a diminuição da postura de ovos;

- e a remoção ou destruição das castanhas que ficam do chão, de modo a evitar que as lagartas abandonem os frutos e se enterrem no solo. Este processo pode ser efetuado recorrendo a animais.

Outra praga de grande importância e que se encontra em todas as zonas de produção de castanha na Ilha da Madeira é a vespa-das-galhas-do-castanheiro, Dryocosmus kuriphilus. É considerada atualmente uma das pragas mais prejudiciais para os castanheiros em todo o mundo. Ataca os órgãos verdes dos castanheiros, induzindo a formação de galhas nos gomos e folhas e provocando a redução do crescimento dos ramos e a frutificação, podendo diminuir drastica-mente a produção e a qualidade da castanha e conduzir ao declínio dos castanheiros em pou-cos anos.

É na primavera que são visíveis os sintomas na árvore, ou seja, a formação das galhas (crescimento exagerado, em forma de nódulo dos tecidos) que têm as larvas lá dentro. Inicialmente, as galhas são de cor verde-clara, passando a cor rosada.

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Figura 2 - Galhas com crescimento exagerado, em forma de nódulo, com as larvas dentro  

Na luta cultural, recomenda-se o corte e destruição das partes da planta atacadas, antes da emergência dos adultos (maio a julho). Devido à dificuldade no combate desta praga pelos agricultores, a DRA tem promovido, desde 2017, o combate biológico, isto é, a largada do inseto parasitoide Torymus sinensis (Ts), um pequeno inseto que, ao ser libertado, vai parasitar a vespa-das-galhas-do-castanheiro, alimentando-se das suas larvas.

 
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Figura 3 – largada de parasitoides

Esta forma de luta, com o recurso a um parasitoide, é considerada, para as nossas condições de relevo e condução dos soutos, a única forma de controlo da praga na RAM.

Assim, têm sido realizadas anualmente largadas inoculativas nos principais locais de produção de castanha: Curral das Freiras (33 largadas em 12 sítios), Jardim da Serra (13 largadas em 13 sítios), Campanário (12 largadas em 3 sítios), Serra de Água (15 largadas em 2 sítios), Prazeres (3 largadas em 1 sítio), Ponta Delgada (2 largadas em 1 sítio) e Santo António (2 largadas em 1 sítio).

Foram largados 15.200 parasitoides (9.600 fêmeas e 5.600 machos) em cada ano.

É de referir que este processo de luta biológica é lento, não apresenta resultado imediato, demorando entre 4 a 6 anos até que se evidenciem os seus resultados, ou seja, em que ocorra uma significativa diminuição da incidência da praga e uma recuperação dos castanheiros.

No corrente ano, o parasitoide já se encontra instalado na Madeira e os resultados são bastante favoráveis e otimistas.

Para além destas pragas, o castanheiro está ameaçado pela propagação de duas doenças, a Tinta e o Cancro, que podem causar a sua morte precoce.

A doença da tinta está associada a dois fungos semi-parasitas, que vivem na matéria orgânica do solo ou como parasitas na planta. A propagação faz-se através da água de rega ou da chuva, do transporte de terra e de material vegetativo infetado. As raízes com lesões provocadas por cortes constituem portas de entrada para o fungo.

O fungo afeta o sistema radicular, limitando ou impedindo a circulação da seiva. Os sintomas manifestam-se inicialmente na parte superior da copa, a partir da extremidade dos ramos, onde se observam cloroses e emurchecimento das folhas. A floração é fraca e a frutificação é muito afetada, os frutos caem antes de amadurecerem. Na zona afetada, após a remoção da casca, o lenho mostra-se necrótico, de cor violácea escura, em forma de cunha. A partir da base pode observar-se a emissão de rebentos que morrem passados alguns anos, mantendo-se seca toda a copa.

As técnicas culturais preventivas contribuem para a limitação da doença. Assim, reco-menda-se sempre que possível:

- melhorar o estado nutricional dos soutos;

- evitar danos e cortes de raízes;

- plantar em terrenos com boa drenagem;

- evitar a utilização de material vegetativo infetado e de origem desconhecida;

- e proceder à desinfeção dos instrumentos agrícolas.

O cancro do castanheiro também é provocado por um fungo. Esta doença só é detetada a partir do terceiro ou quarto ano após a plantação e ataca a parte aérea da árvore de forma rápida e irreversível. Deteta-se pelo desenvolvimento de necroses castanho-avermelhadas no tronco e pela permanência das folhas e ouriços mortos nos ramos secos da árvore, para além do período normal. Recomenda-se para o seu controlo:

- a desinfeção com lixívia dos instrumentos a utilizar;

- a pincelagem de toda a zona de enxertia com um fungicida;

- a raspagem da casca da zona do cancro até ao tecido são;

- o corte dos ramos 20 cm abaixo da zona do cancro e desinfeção com um fungicida;

- e a queima das cascas e das pernadas cortadas no próprio local.

Na RAM, qualquer uma pragas e doenças referidas apresenta uma dificuldade de controlo acrescida, quer pelo declive dos terrenos onde a maior parte desta cultura se encontra instalada, quer pela idade e porte dos castanheiros. No entanto, considerando a procura que este fruto apresenta entre nós e a existência de áreas adversas à implantação de outras culturas, esta poderá ser uma solução de ocupação de terreno, sendo nestes casos de considerar a utilização das variedades inscritas pela RAM no Catálogo Nacional de Variedades: “Do Tarde”; “Formosa” e “Negrinha”, recorrendo a material isento de doenças e atendendo às recomendações anteriormente expostas para a manutenção dos soutos.

 

Divisão Experimentação e Melhoria Agrícola
Direção Regional de Agricultura