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A cultura da tabaibeira – “Opuntia tuna (L.) Mill”

tabaibo1 A tabaibeira é originária da América e foi introduzida na Ilha da Madeira no séc. XIX, para a obtenção do pigmento carmim, através da produção de cochonilha.

Na região, a produção colhida é proveniente de plantas com muitos anos que se autodesenvolveram sem qualquer tipo de atenção à sua forma de condução (natural-selvagem).

Desenvolvem-se em terrenos considerados pobres a nível agrícola, sem regadio, com boa drenagem e com boa exposição solar e funcionam como defesa contra a erosão dos solos, principalmente em zonas áridas com pouca produtividade, onde outras culturas não encontram condições de rentabilidade.

Em Portugal continental, a tabaibeira é conhecida como “figueira-da-Índia”, verificando-se o seu uso para a delimitação de terrenos, como barreira “corta-fogo” e como forragem para animais e apenas uma pequena parte é destinada ao consumo humano.

A Ilha da Madeira, devido às suas excelentes condições de clima e solo, reúne condições únicas para a produção de tabaibo, onde a sua qualidade assume maior relevância.

É uma cultura que exige alguma mão-de-obra (colheita dos frutos e retirada dos picos), no entanto, apresenta um grande potencial no mercado regional e internacional como fruto em fresco ou transformado, com comprovados benefícios para a saúde.

O clima, a exposição solar, a orientação das plantas, o terreno, as práticas culturais (rega, poda e monda) são fatores muito importantes para a obtenção dos frutos com elevada qualidade.

A planta adapta-se às regiões com temperaturas diurnas de 25ºC e noturnas de 15ºC e pode ser cultivada com sucesso em diversos tipos de solo. Os solos com boa drenagem e baixo teor de argila (15/20%) são os adequados para evitar uma raiz e copa reduzidas, bem como a putrefação das raízes. No entanto, solos com pouca capacidade de drenagem, lençol freático pouco profundo e/ou camada superficial impermeável não devem ser considerados como adequados. É tolerante à salinidade, sendo o pH ótimo do solo varia de sub-ácido a sub-alcalino, o que evidencia a sua adaptação a diferentes tipos de solos.

Antes da plantação, devem ser realizadas a limpeza do terreno e análises de solo. A preparação do terreno deve favorecer uma boa drenagem do solo.

Juntamente com a preparação do terreno, e antes da plantação, deve ser feita uma adubação de fundo com aplicações de 20 a 30 ton/ha de estrume curtido, de modo a melhorar a estrutura do solo e aumentar a capacidade de fertilização e retenção de água.

Para a instalação, é necessário ter em atenção a orientação da linha, a época de plantação, a escolha do material vegetal para a plantação, o número de cladódios por cova e a sua colocação.

Uma boa orientação da cultura é um aspeto essencial para maximizar a captação de luz. As linhas de plantação devem ser orientadas no sentido norte-sul, de modo a maximizar a fotossíntese.

A época de plantação varia em função da latitude e das condições ambientais (disponibilidade de água, temperatura e precipitação) mas o melhor período para a realização da plantação é no início da primavera.

Na plantação, devem ser selecionados os cladódios de tamanho médio a grande (2 a 3 anos de idade), obtidos após a colheita dos frutos e antes do aparecimento dos gomos da estação seguinte. Devem ser cortados e guardados em local seco e sombreado entre 20 a 30 dias, de modo que o corte possa cicatrizar antes de ser plantado.

A densidade deve ser estabelecida em função do declive e da exposição solar, do hábito de crescimento da cultivar, do sistema de condução das plantas e da presença de pragas. Em pomares com cultivares de porte ereto, recomenda-se um compasso de 4m x 3m. No entanto, vai necessitar de um maior número de podas, para evitar o sombreamento dos cladódios e a propagação de pragas, como a cochonilha.

Para a fertilização do pomar de tabaibeiras, utiliza-se 20 a 30 ton/ha de estrume curtido, juntamente com sulfato de amónio, superfosfato e ainda sulfato de potássio. As quantidades de nutrientes a aplicar aumentam com a idade do pomar mas fundamentalmente de acordo com as análises de solo.

A plantação poderá ser realizada de três formas nas covas:

  1. colocação dos cladódios na cova na vertical;
  2. inclinados com um ângulo de 30 e um terço dele é enterrado;
  3. “deitados” sobre o solo.

O método mais utilizado é a colocação vertical e recomenda-se enterrar metade do cladódio. Ao optar pela plantação do cladódio com um ângulo de 30o, apenas um terço do mesmo é enterrado e o objetivo não é a produção de frutos. No método “deitado”, o cladódio é colocado com a área mais plana sobre solo, colocando-se uma pedra sobre ele para melhorar o contato com o solo e evitar que seja levantado pelo vento. É um método vantajoso pelo seu custo mais baixo e pelo facto de não haver necessidade de fazer covas.

 

tabaibo2 A tabaibeira é uma espécie que tolera a seca. Apesar de tratar-se de uma planta pouco exigente em água, quando aplicada durante o desenvolvimento do fruto, aumenta a produtividade, com obtenção de frutos com maior peso e maior volume de polpa. É recomendável uma dotação de rega ligeira no início do verão ou durante o primeiro estágio de desenvolvimento do fruto, principalmente em solos leves, para evitar variações drásticas na humidade, o que poderia provocar rachamento dos frutos.

A rega gota-a-gota, com volumes de 1-2 mm/dia, proporciona produções elevadas e frutos bem desenvolvidos. Para que ocorra uma segunda floração para produção de frutos é necessário realizar uma rega de 100 mm, o que irá provocar uma nova colheita mais tardia, depois da do verão.

Devido ao sistema radicular superficial da tabaibeira, e aos solos onde é mais frequentemente cultivada (solos de textura mais ligeira), métodos como o alagamento não são aconselhados, devido ao excesso de água utilizada e que conduz à lavagem dos nutrientes do solo.

Deste modo, os métodos mais indicados e que devem ser utilizados são a rega por microaspersão que cobre uma ampla área, com pequenos gastos de água, e é adequado para o sistema de raízes da planta e a rega gota-a-gota, que deve ser utilizada com uma boa monitorização, de modo a evitar lavagem de nutrientes e putrefação das raízes.

As pragas mais frequentes são a cochonilha (Dactylopius opuntiae) e a mosca da fruta (Ceratitis capitata).

A poda deve ser realizada no verão e tem como principais objectivos promover a eliminação de cladódios voltados para dentro da planta, para baixo e perto do solo para permitir o (arejamento); promover a entrada de radiação solar reduzindo a copa, facilitando o controlo de pragas e doenças e a colheita dos frutos; deixar apenas dois cladódios por cada planta, numa fase inicial de desenvolvimento, para que o seu desenvolvimento seja feito com vigor; eliminar os cladódios que cresçam nos cladódios em fase de frutificação (evitar a concorrência com o desenvolvimento do fruto); e controlar o tamanho da planta para obter um melhor acesso à mesma, facilitando as diferentes práticas culturais.

Deve evitar-se a poda em períodos frios e chuvosos, de modo a diminuir o risco de podridões e a melhorar a cicatrização das feridas do cato.

Em qualquer sistema de condução/formação da copa, durante o primeiro ano de plantação, deve-se eliminar os cladódios que se desenvolvam para baixo, na horizontal ou na base da planta.

Para obter-se um sistema de condução em forma de vaso, coloca-se apenas um cladódio simples ou um múltiplo em posição horizontal em cada cova. Para se obter uma formação em vaso, selecciona-se até dois cladódios eretos de cada planta mãe. Recomenda-se que durante a poda de formação sejam removidos cladódios e frutos danificados, para que não haja competição com o desenvolvimento da planta na sua fase inicial.

A poda para fomentar a produção tem como objectivo melhorar a exposição do maior número possível de cladódios à luz solar, isto porque os cladódios que se desenvolvem na zona sombreada da copa produzem menos que os da parte exterior. Quanto menor for o compasso de plantação, maior deverá ser a intensidade e periodicidade da poda. Outro aspeto a ter em conta na poda de manutenção é a competição entre cladódios em fase de crescimento, não devendo manter-se mais que dois cladódios filhos num cladódio mãe, de modo a que o desenvolvimento dos restantes se dê com vigor e se reduza o risco de danos causados por ventos fortes. Em caso de não ocorrer atividade vegetativa, os cladódios de dois anos que já tenham produzido devem ser eliminados.

Os frutos são colhidos manualmente. Recomenda-se a colheita na parte da manhã, quando os gloquídeos ainda estão húmidos e presos ao fruto. O corte deve incluir uma pequena parte do cladódio mãe para evitar a perda rápida do peso do fruto e para manter a viabilidade de armazenagem.

Revisão Bibliográfica:

Flora of Madeira, by J.R. Press (Editor), M.J. Short (Editor), 2002
Alves, J. C., (2011). Perspectivas de Utilização da Figueira-da-índia no Alentejo. Curso de Mestrado em Engenharia Agronómica, Lisboa.
Bastidas, M. (2012). Figo-da India: Oportunidade para a Internacionalização. Associação de Defesa do Património de Mértola.
Jerónimo, E. (2012). Processamento mínimo de figo-da-Índia. Centro de Biotecnologia Agricola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL) / Instituto Politécnico de Beja (IPBeja).
Rosário, M. S., (2010). Opunthia Ficus Indica: Caracterização e Contas. Edição da Direcção de Serviços de Estatística e Gabinete de Planeamento e Politicas.


Guida Gomes
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Direção Regional de Agricultura