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O setor da Floricultura na Região Autónoma da Madeira – 2020 (parte I)

floricultura RAM DICAs1 1. Introdução

A produção de flores na Região Autónoma da Madeira (RAM) sempre foi uma realidade caracterizadora e definidora do Arquipélago, mesmo quando tal facto ainda não se constituía como uma atividade agrícola/económica. A fama da Madeira como uma “ilha de flores” sempre ultrapassou fronteiras, sendo, hoje em dia, um cartaz turístico de enorme importância, especialmente através da “Festa da Flor”, com reflexos muito importantes na economia regional.

As características climáticas madeirenses, com temperaturas bastante benignas e humidade relativa considerável ao longo de todo o ano, dão à flora regional uma faceta luxuriante e extremamente atrativa para todos os que visitam a RAM, seja em que altura fôr, constituindo um fator de enorme relevância para uma indústria turística madeirense há muito consolidada.

2. Área e Produção

A atividade florícola, encarada de forma económica já se desenvolve na RAM há várias décadas.

Pelos dados estatísticos disponíveis mais recentes, é de salientar a variação entre os anos de 2002 e 2018, onde o número de explorações mais do que duplicou e a área agrícola dedicada a estes cultivos aumentou em quase 28% (ver Quadro 1), o que demonstra o interesse que a cultura de flores e plantas ornamentais mantém entre os agricultores madeirenses.  floricultura RAM quadro1 A grande maioria das explorações florícolas dedica-se à produção de flores de corte, tal como se pode observar no Quadro 2. A área de folhagens e complementos de flor e ornamentais (maioritariamente feita ao ar livre), embora tendo sofrido uma variação positiva nos últimos anos, foi afetada por recentes intempéries (nomeadamente incêndios), levando a resultados contrastantes com a evolução positiva que se verificou com a produção de flores de corte (é bom não esquecer que muita desta folhagem é feita em zonas vizinhas de áreas florestais, que, como se sabe, foram altamente fustigadas por vários incêndios nos últimos anos). floricultura RAM quadro2 A produção de flores de corte (ver Quadro 3) tanto pode ser feita ao ar livre como sob coberto (em estufa). Para o caso da RAM, até 2012, a grande maioria da área de produção era praticada ao ar livre (72%), enquanto a restante (28%) recorria a estufas. Atualmente, e observando os elementos de 2020, nota-se uma mudança de paradigma, com uma opção nítida pela tecnologia mais moderna de produção, em detrimento da tradicional. Assim, as áreas em estufa estão, cada vez mais, próximas das de ar livre.

floricultura RAM quadro3

 

Em termos de localização, e consultando o Quadro 4, constata-se que o concelho de Santa Cruz é o mais especializado na produção de flores (com 43% das explorações e 52% da área total). Embora distanciado, mas também com uma importância relativa ainda considerável, segue-se o Funchal, com 18% das explorações e 9% da área total. As restantes explorações agrícolas e áreas distribuem-se um pouco pelos restantes concelhos localizados na vertente sul, uma vez que os nortenhos não apresentam grande apetência para este tipo de produção.

Será necessário dizer que estes elementos se baseiam nos dados retirados do Inquérito à Floricultura de 2012, pois, para os itens em análise, não existem, por enquanto, dados mais atualizados que estes. No entanto, conquanto o número de explorações tenha aumentado significativamente até 2018, a proporção por concelho dever-se-á manter muito aproximada daquela que aqui foi apresentada.

floricultura RAM quadro3

As principais produções regionais estão patentes no Quadro 5. Como produções maiores temos, dentro das tropicais/subtropicais, o cymbidium (orquídea de haste), o antúrio e as próteas e, no grupo das temperadas, a rosa e a gerbera. As outras espécies têm uma importância intermédia.

Para uma análise mais lúcida deste quadro, há que ter em conta os efeitos que a pandemia Covid 19 teve neste sector em particular. Efetivamente, o encerramento de muitas unidades hoteleiras e de restauração (clientes muito importantes de flores) durante grande parte do ano, nomeadamente de fevereiro a abril-junho e, depois, as limitações impostas pelos países aos turistas que visitavam a Madeira, tiveram consequências bastante gravosas para a economia do sector. Os valores de produção que apresentamos no Quadro 5 resultam de várias consultas feitas a várias unidades produtivas, tendo-se obtido uma variação de abaixamento de produção/venda de flores que está refletida no mesmo.

As consequências da pandemia (embora sendo gravosas) só não foram mais extremadas por várias ordens de razões, que a seguir se discriminam:

  • O apoio das instituições públicas (Governo Regional e Poder Local), fosse na aquisição de produto, fosse na atenuação da quebra de rendimento;
  • A realização da “Festa da Flor” que, embora não tendo sido feita em moldes tão exuberantes/espectaculares, nem na época “normal”, contribuiu para o escoamento de uma parte significativa das flores produzidas;
  • A preferência dos consumidores madeirenses pelas flores produzidas localmente, normalmente com maior durabilidade de utilização;
  • As tradições de uso da flor, nomeadamente nas festas de Natal, que também constituíram um vector importante de escoamento desta produção tão específica.

floricultura RAM quadro5

Já no que concerne à produção de folhagem, a evolução foi significativamente similar à das flores de corte, sendo os comentários em tudo semelhante os feitos para aquele caso. Daqui resulta o Quadro 6, que se apresenta de seguida.

floricultura RAM quadro6

Assim, a produção geral do sector florícola/ornamental madeirense, verificada em 2020 foi da ordem das 13,216 milhões de flores/hastes e folhagens, -32% que em 2019, quando esta valor ascendeu a 19,48 milhões.


Ricardo Costa
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural