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O setor da floricultura na Região Autónoma da Madeira em 2017 (conclusão)

Mão-de-obra na floricultura madeirense

Os últimos dados de que se dispõe, relativamente a este item, são os constantes do Inquérito à Floricultura de 2012, que, em termos muito genéricos, não sofreu grandes alterações até à atualidade, uma vez que os valores são muito próximos da realidade do sector entre estes dois anos. Se bem que a área média por exploração tenha evoluído de forma positiva entre 2002 e 2012, passando de cerca de 2.800 m2, para 3.300 m2 (+18%), ela volta novamente para os níveis daquele ano, por efeito do aumento de área sob coberto e pelo facto das explorações que recorrem a este tipo de tecnologia serem, normalmente, de menor dimensão (não só pela mão-de-obra que necessitam, como pelo nível de investimento inicial que requerem). Esta atividade é feita, na maioria das vezes em pequenas explorações agrícolas, recorrendo, na maioria dos casos, e à imagem das outras atividades agrícolas locais, a mão-de-obra familiar.

O Quadro 7 (que se encontra bastante atualizado) demonstra exatamente este aspeto: efetivamente, a maioria das explorações recorrem, quase que exclusivamente, ao trabalho dos familiares, que não se quedam exclusivamente afetos ao trabalho na mesma (78% destes indivíduos utilizam menos de 50% do seu tempo de atividade trabalhadora para a exploração).

No entanto, verifica-se que a mão-de-obra assalariada é importante, sinal de que este tipo de produção é consumidor de muita mão-de-obra, sendo a aposta no mesmo um veículo importante de criação de emprego. Para corroborar este aspeto, observa-se que mais de metade destes indivíduos gasta 100% do seu tempo de atividade na floricultura.

floricultura RAM quadro 7
 Quadro 7 - Mão-de-obra afecta à floricultura, segundo o tempo de actividade

O volume de mão-de-obra (Quadro 8, que se aproxima, bastante, do cenário de 2017, como atrás mencionado) consumido pela floricultura na RAM, mostra alguns aspetos interessantes:

• Embora a área tenha aumentado de 36 para 45 ha, (+25%), entre 2002 e 2012, o volume de mão-de-obra baixou de 225 para 153 UTA (-32%), sinal evidente de que as explorações apostaram mais no fator tecnológico, em detrimento da mão-de-obra.

• O volume de mão-de-obra familiar é considerável, constituindo cerca de 41-42% do total consumido pelas explorações.

• A mão-de-obra assalariada é também bastante importante, cerca de 58-59% do total. Mas o mais interessante é a componente elevada dos assalariados permanentes, (92-94%) sinal de que as explorações requerem uma grande atenção e especialização nos seus trabalhos.

floricultura RAM quadro 8
Quadro 8- Volume de mão-de-obra (em UTA) afecta à floricultura

Rendimento do setor

Segundo as estimativas da DRA o setor vale atualmente, um pouco mais de 8 milhões de euros, mais cerca de 3 milhões de euros do que em 2012.

No entanto rendimento do setor florícola é muito variável em função do clima, das cotações e da procura, pelo facto de não ser um produto de primeira necessidade. No período de 2009 a 2017, e baseado na evolução dos dados estatísticos vários, centrou-se entre os 4,5 e 8,2 milhões de euros, tal como é constatável no Quadro 9.

É de assinalar que, durante este período o setor, em vários anos, foi bastante afetado por variadas intempéries, que, infelizmente, assolaram a ilha da Madeira, mas o que se pode retirar dos dados abaixo é a tendência para a sua normalização e estabilização.

floricultura RAM quadro 9
Quadro 9 - Rendimento do sector florícola na RAM

Tal como já dissemos anteriormente, o valor do rendimento varia anualmente, em função de variados factores, que podem ser atenuados com a aposta em investimentos tecnológicos que reduzam estes riscos, o que se poderá verificar com a entrada em vigor do Programa PRODERAM 2020. Será de esperar que os agricultores floricultores venham a aproveitar os apoios dados por este Programa, para continuar a modernização das suas explorações, tal como já vem ocorrendo nos tempos mais recentes.

Formas de comercialização da flor

Pela consulta do Quadro 10 é possível constatar que, embora a grande maioria das explorações comercialize a sua produção de flores de corte através da venda directa ao consumidor e às floristas, obedecendo a uma certa tradição, aparece já com maior importância a produção vendida para o mercado grossista (52%), o qual, quebrando um circuito económico do sector menos eficiente, tem vindo a assumir um protagonismo interessante nos últimos anos.

 
floricultura RAM quadro 10
Quadro 10 - Formas de escoamento da flor

Exportação e importação de flores

Regista-se uma redução das exportações e das importações, sinal que o mercado interno está absorver as flores produzidas na Madeira (mais frescas e com maior durabilidade nas várias aplicações) em maior quantidade. No entanto, face a 2016, em 2017 expediu-se para o exterior da Região quase o dobro de flores, refletindo que alguns mercados exteriores continuam a reconhecer certas produções madeirenses como detendo uma excelente qualidade, frescura e durabilidade.

A esmagadora maioria das flores de corte exportada é constituída pelo Cymbidium e pelas próteas (esta última com valores mais consolidados a partir do início do século atual) e mais recentemente as helicónias. O Quadro 11 mostra as tendências de exportação até 2017, podendo-se corroborar o acima referido.

Deve-se, no entanto dizer que este canal de comercialização da produção é caracterizado por diversos aspetos:

• É mais exigente quanto à qualidade do produto, o que obriga os agricultores interessados nesta vertente a redobrar os seus cuidados no seguimento da cultura.

• Está muito sujeita às flutuações de cotação do mercado internacional. Este aspeto assume maior importância na RAM, dada dimensão das explorações agrícolas, sua pulverização e o seu menor grau de mecanização, que acarretando maiores custos de produção, tornam a produção mais suscetível às contingências do mercado.

• As baixas cotações no mercado internacional (nomeadamente o holandês), reflexo da crise financeira internacional e da consequente redução da procura em vários países europeus por estes bens (que não são de primeira necessidade).

• Dado o menor volume de exportação, os custos de transporte são, usualmente, mais elevados, o que aliado ao fator anterior, expõe mais este vetor de comercialização às contingências de mercado.

• A pequena organização/associação dos agricultores, tanto no que se refere à organização produtiva, como na coordenação das operações pós colheita, torna esta orientação de produção menos consequente.

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Quadro 11 - Exportação de flores (2010/17)

Perante estes constrangimentos, é compreensível o que se verifica na componente exportadora, mas tal não teve, no entanto, um reflexo na produção e na qualidade da flor produzida. Perante esta situação, as explorações apostam mais no mercado regional, bastante ávido de uma marca madeirense e ancestral (o da Madeira ser um “jardim”).

Em 2017, a importação/entrada de flores de corte registadas oficialmente na RAM foi de cerca de 638.100 flores, o que representa 3,44% da produção regional de flores de corte.

Outras oportunidades em desenvolvimento

A ilha da Madeira possui na sua paisagem típica endemismos macaronésios com grande potencial para uso como ornamentais. No entanto, o seu uso é ainda muito reduzido, em grande parte devido ao desconhecimento dessas plantas.

A vantagem da utilização de plantas endémicas prende-se com o facto das mesmas estarem adaptadas às condições climáticas do local e serem, em geral, pouco exigentes em água e em cuidados de manutenção. Além disso, a sua utilização em detrimento das exóticas também ajuda a diferenciar o setor do turismo da RAM.

Neste contexto, a DRA tem em curso um projeto, aprovado pelo PRODERAM 2020, com um valor elegível de 91.233,75 €, que visa a realização de ações de prospeção, colheita, conservação e documentação de 10 plantas endémicas da Madeira (Musschia aurea, Matthiola maderensis, Calendula maderensis, Artemisia argentea, Cheirolophus massonianus, Aeonium glutinosum, Argyranthemum dissectum, Argyranthemum pinnatifidum, Sedum nudum, Sedum fusiforme), a sua posterior manutenção, multiplicação, gestão, bem como a promoção da sua valorização económica.

Com este projeto é visado estimular a utilização das plantas endémicas em causa, seja em vaso, seja para cultivo em jardim, envolvendo arquitetos paisagistas, viveiristas, empresas de jardinagem, entidades públicas e privadas, e proporcionar a criação de mais uma alternativa para a produção florícola profissional.

Nota: A primeira parte deste artigo pode ser consultada aqui.

Ricardo Costa
Direção Regional de Agricultura

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