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A montagem de orquídeas nas árvores – Uma abordagem mais próxima à sua natureza

Cultivar orquídeas não tem de ser, e ao contrário daquilo que por vezes se pensa, uma tarefa complicada e minuciosa.

Atendendo a algumas questões prévias como o local onde as vamos colocar e descobrir de que espécie ou cruzamento se trata, a nossa região oferece, conforme a altitude, condições ímpares para que possamos cultivar as nossas orquídeas no exterior. Quando falamos de orquídeas ornamentais estamos, no seu grosso, a fazer menção a orquídeas epífitas, plantas que crescem sobre outras plantas ou árvores e este artigo debruçar-se-á sobre a montagem de orquídeas nas árvores, uma abordagem mais próxima à natureza destas plantas e que minimizará, em muito, os cuidados, as divisões, a remoção de ervas e aplicação de fitofarmacêuticos.

A orientação deste artigo seguirá a sequência que o cultivador terá de pensar quando entender que deve montar uma determinada orquídea no seu jardim. Por norma, o pensamento deverá ser na seguinte ordem: local, variedade, época do ano, montagem, cuidados.

O local escolhido deverá ser sempre um local abrigado, protegido do sol direto e dos ventos fortes. Deverá, ao mesmo tempo e preferencialmente, estar num sítio onde a rega possa ser facilmente conseguida com o mínimo esforço, normalmente ao alcance do regador automático ou da mangueira. Deverá ser um sítio arejado e ao fácil alcance do entusiasta. Sol matinal e ao entardecer poderão ser benéficos, mas o sol do meio-dia, especialmente nos meses mais quentes do ano é impensável para a maioria. Estas questões são particularmente relevantes quando se pretende utilizar uma peça de madeira e não a utilização de uma árvore, em si, para suporte. Quando nestas últimas, a copa oferece, em boa verdade, proteção suficiente ao calor mais excruciante do dia.

Holcoglossum amesianum fase inicial fixacao

Holcoglossum amesianum em fase inicial de fixação

Relativamente à orquídea a escolher, terá de ser invariavelmente uma epífita. Ainda que tenhamos um clima ameno e subtropical, a nossa humidade atmosférica não é particularmente alta o suficiente durante todo o ano e o sol que recebemos, no nosso inverno, é ainda bastante forte. Incapazes de oferecer cuidados diários ou oferecer um sistema de rega com aspersores que funcione diariamente, o cultivador terá que pensar, bem, que orquídeas cultivará nessas árvores. É preferível, sem dúvida, não se deixar levar unicamente pela beleza das plantas, mas atender àquilo que poderá, à sua altitude e condições, cultivar.
Géneros como Miltonia, Oncidium, Cattleya, Laelia, Brassavola, Dendrobium e alguns Epidendrum oferecem-se como alguns dos melhores para cultivar em árvores. Logicamente, quase todos os híbridos derivados destes géneros atenderão aos mesmos cuidados. Estas orquídeas têm, normalmente, sistemas radiculares extensos, pseudobolbos, folhas coriáceas e/ou estreitas e raízes com velame, funcionando como esponjas.

Pensadas as plantas, pensemos na altura do ano. Muitas destas plantas tropicais iniciam os seus ciclos de crescimento no início da primavera pelo que será essa a altura ideal. A partir de Fevereiro e por vezes mais cedo, assim que os novos rebentos tiverem alguns centímetros de altura, será a altura ideal para a sua fixação, já que novas raízes estarão a caminho, ideais para colonizar o novo ambiente.

Idealmente, cascas rugosas oferecerão melhores resultados por permitirem depósitos de humidade e húmus, mas não será este o requisito principal. Quando optamos por matéria morta, a durabilidade será o fator eliminatório. Esta questão, logicamente, não se coloca com as árvores. Cortiça, vinha ou pinheiro, bem lavados e sem resina são ótimos meios de suporte para as plantas que mencionámos acima, atendendo, ainda assim, que não absorvem muita água.

 

 
Miltonia clowesii lancando raizes direcao a cortica
Miltonia clowesii a lançar raízes em direção à cortiça

A planta que colocarmos deverá ter o novo rebento encostado à madeira, de preferência, já que será aí que a atividade radicular tomará lugar, agarrando-se permanentemente ao suporte. É importante oferecer condições para que a maior superfície possível de raízes esteja em contacto com a madeira.

Ainda que arames de jardinagem possam ser usados, o ideal é recortar tiras de náilon das meias-de-senhora e dobrá-los e enlaçá-los até que a planta fique completamente fixa. É extremamente importante que a orquídea fique imóvel. Quando as novas raízes surgem, muito tenras, é fácil que se partam ao raspar contra a madeira na presença de vento ou com uma rega com maior pressão, atrasando, em muito, o crescimento da planta.

Miltonia regnelii com rebentos fixada ao tronco  
Miltonia regnelii com rebentos fixada ao tronco

É possível e recomendável que se utilize algum musgo ou outro material que retenha água entre a planta e a madeira. Convém não colocar sobre a planta ou sobre as raízes, evitando o apodrecimento e necroses bacterianas, especialmente nesta fase em que a planta pode ficar sensível.

Colocada em posição, as regas deverão ser mais frequentes, de início, mantendo o ambiente húmido até que ela se agarre totalmente e haja raízes em número suficiente pelo tronco, altura em que se poderão espaçar as regas. Convém que a adubação não ocorra até essa fase, obrigando as raízes a evadirem-se pela superfície à procura de água e nutrientes.

É normal, de início, que as plantas mirrem ligeiramente e é normal, também, que o aspeto destas plantas seja ligeiramente diferente do “standard” normalizado, que nos habituamos a ver nas floristas. Com mais luz, folhas menores e mais claras são possíveis, mas os pseudobolbos, quando existentes, deverão estar, numa planta já bem estabelecida, inchados e preenchidos. Algumas plantas adotarão uma tonalidade avermelhada, algo completamente normal, pois trata-se do seu equivalente à nossa melanina.

A crescer numa ambiente totalmente arejado e sem substrato, torna-se desnecessário retirar ervas daninhas pois, ao contrário das orquídeas, não crescem desta forma. Descobertas, é fácil vigiar toda a planta, desde as raízes às folhas, procurando por sinais de doenças ou problemas, muito menores nestas condições.

Algumas poderão até crescer pendentes, mas em geral, mesmo à chuva, estas plantas serão mais resistentes a fungos pois estarão completamente arejadas, secando mais rapidamente entre regas.

Passados 2 a 4 meses, a planta deverá ter já colonizado, parcialmente, o tronco. Nesta fase, bastará regá-la, frequentemente, e adubá-la, espaçadamente, num simples gesto que poderá ser, tão-somente, uma rega de mangueira que não rouba demasiado tempo ou maçada.

Pedro Spínola