Ficou combinado com o mestre para sair da lota do Funchal por volta das 17h30...
Depois de arranjar a rede e dos últimos preparativos, saimos para os Picos, no Cabo Girão.
Durante a viagem ao largo da costa sul, aproveitei para procurar cetáceos nas imediações.
Chegámos um pouco antes do pôr do sol e fundeamos a cerca de 2 milhas da costa. Os motores foram desligados e esperámos o pôr do sol e a saída da lua. Espectáculo!
É a hora do jantar, a comida é sempre boa - à moda madeirense.
Uma vez que o sol se põe, acendem-se as luzes do barco para tentar atrair o peixe, mas temos que esperar... O mestre fica sempre atento à sonda e eu também, pois pode aparecer algum cetáceo, tartaruga ou tubarão perto do barco. Entretanto, falo com o marinheiro de borda e também dá para descansar um bocadinho.
Quando a sonda marca bem o cardume e o mestre considera oportuno, dá a ordem para que todos os marinheiros se preparem para largar a rede de cerco. Pouco a pouco, vão ocupando os seus lugares de trabalho e chega o momento. O mestre na ponte dá a ordem para colocar a canoa à água com as suas luzes acesas e o engodo preparado. Desligamos as luzes do barco e, quando estamos perto do cardume, o mestre manda largar.
O barco auxiliar fica com um extremo da rede e o barco vai fazendo o cerco à volta da canoa, largando uma a uma as argolas, até aproximar-se outra vez do barco auxiliar.
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Quando o cerco está fechado, começam a virar a rede até que, no fim, fica todo o peixe no copo.
Eu fico ansiosa porque quase até o fim, não se observa o peixe dentro da rede.
Hoje pescaram peixe suficiente para chegar à quantia pretendida e toda a tripulação trabalha com vontade.
Durante todo o tempo de viagem, recolho dados do lugar onde pescamos e o tempo que demora cada atividade. E agora que o peixe está a bordo, tomo nota da proporção de cada espécie que é descarregada e rejeitada.
No regresso a terra, a tripulação separa o peixe por tamanhos ou por espécies e aproveito para fazer amostragem de comprimentos das espécies que aparecem. Chegamos ao porto e é hora de descarregar. O primeiro barco a chegar terá o melhor valor do pescado no mercado.
A lota já começa a ferver: funcionários da lota, compradores, inclusive às vezes estão os colegas da DSI a efetuarem as amostragens das espécies descarregadas nesse dia. Só resta pesar todas as caixas que trazem, fazer as comprovações da descarga e proceder ao leilão. Por fim, chegar a casa com os primeiros raios de sol. Entretanto, o Mercado dos Lavradores começa a sua atividade, mas isso já é outro dia.
Mais uma vez, agradeço aos mestres e às tripulações das embarcações “Baía de Câmara de Lobos”, “Bruno” e “Rainha Santa” pela sua boa disposição e colaboração.
Raquel Tejerina Segur Observadora da Pesca/Bolseira do Observatório Oceânico da Madeira Direção de Serviços de Investigação Direção Regional de Pescas
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