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Figuras 1 e 2: captura de tunídeos com salto e vara na Região Autónoma da Madeira |
O grupo dos tunídeos constitui um importante recurso da pesca tradicional na Região Autónoma da Madeira, perfazendo 45% da descarga global de pescado nos últimos anos (2008-2014), com uma média de cerca de 2.551 toneladas/ano. O valor das vendas em lota atingiu cerca de 43% do total transacionado no mesmo período, com uma média de 5,6 milhões de euros anuais.
Este grupo abrange cerca de dez espécies de atuns e similares - o patudo (Thunnus obesus), o gaiado (Katsuwonus pelamis), o voador (Thunnus alalunga), o rabil (Thunnus thynnus), o albacora (Thunnus albacares), o peixe-agulha ou espadarte (Xiphias gladius), o serrajão (Sarda sarda), o judeu ou chapouto (Auxis thazard), o peto (Makaira nigricans) e a cavala da índia (Acanthocybium solandri).
A faina da pesca ocorre sazonalmente na RAM, entre abril e outubro, operada por uma frota artesanal que utiliza a arte de salto e vara com isco vivo (figuras 1 e 2), sendo a captura caracterizada por flutuações intra-anuais, definidas de acordo com a espécie-alvo da frota atuneira e disponibilidade nas águas da Região. Estas oscilações são influenciadas pela variabilidade das condições oceânicas que determinam as rotas migratórias típicas destas espécies e abundância nos pesqueiros da RAM.
As espécies de tunídeos dominantes na pescaria da RAM em anos recentes (2008-2014) são o patudo com 58% das capturas (média de 1.490 toneladas/ano) e o gaiado com 26% (média de 673 toneladas/ano) das descargas totais deste grupo de espécies. Pelas suas características biológicas, estas são espécies tropicais, iniciando o seu percurso migratório na área de desova do Golfo da Guiné e seguindo padrões correlacionados com as correntes oceânicas superficiais, caracterizadas por camadas de água mais quente, até à área circundante ao arquipélago da Madeira, e seguindo em migração trófica até ao Golfo da Biscaia. Assim, durante o primeiro semestre de cada ano, as capturas de patudo são mais frequentes e significativamente mais elevadas, enquanto no segundo semestre, o gaiado lidera as capturas na zona.
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Figuras 3 e 4: amostragem estatística de tunídeos por técnicos da DSIDP em lotas da Região Autónoma da Madeira |
As restantes espécies de tunídeos têm uma ocorrência esporádica, irregular, com capturas marginais no período analisado. Este facto pode ser observado no ano 2014, em que a espécie dominante se centrou no atum voador com 46% das descargas totais de atum em lotas da RAM, tendo o patudo atingido os 34% e o gaiado 20%.
A avaliação e gestão pesqueira destes recursos marinhos são regularmente trabalhados em grupos científicos e em sede da Organização Internacional ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas), uma vez que a sua distribuição abrange vários países soberanos, sendo necessários acordos de partilha da informação científica e de pesca, disponível na Base de Dados da Organização. Neste sentido, a Direção de Serviços de Investigação e Desenvolvimento da Pesca (DSIDP) tem acompanhado os trabalhos desenvolvidos na ICCAT e participa regularmente no processamento e análise dos dados referentes a estas pescarias, desde a década de 80.
A recolha de dados da pescaria tem por base a amostragem estatística de comprimento e peso dos exemplares de pescado desembarcados diariamente em Lota (figuras 3 e 4), informação de zonas de captura e esforço de pesca exercido à viagem fornecida pelos diários de pesca, integrada no Programa Nacional de Recolha de Dados da Pesca (PNRD).
Tendo em conta a visão e estratégia de missão da DSIDP e cumprindo regulamentos comunitários no âmbito da Política de Pescas da UE, estes trabalhos terão continuidade nos anos próximos, com vista a um melhor conhecimento dos recursos e apoio efetivo à decisão das entidades envolvidas na gestão e exploração dos recursos pesqueiros regionais.
Lídia Gouveia Direção Regional de Pescas
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