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Direção Regional de Agricultura promove ações de esclarecimento sobre as pragas e doenças dos castanheiros

A Direção Regional de Agricultura (DRA), através da Direção de Serviços de Desenvolvimento da Agricultura (DSDA), promoveu ao longo do mês de novembro três ações de esclarecimentos sobre as principais pragas e doenças dos castanheiros na Região Autónoma da Madeira.

Estas ações foram efetuadas nas principais freguesias produtoras de castanhas, nomeadamente Curral das Freiras, Jardim da Serra e Serra de Água. Os objetivos foram essencialmente dar a conhecer os ciclos de vida das pragas e doenças, de modo a esclarecer os agricultores sobre os meios de luta mais eficientes para o controlo de cada problemática e promover as boas práticas culturais, bem como dar a conhecer o trabalho que tem sido desenvolvido pela DRA, mais exatamente com o cumprimento do plano anual de largadas de parasitoides e com a manutenção do Centro de Processamento da Castanha.

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Fig. n.º 1 – Ação de esclarecimento na freguesia
do Curral das Freiras 

Como introdução ao tema, foram mencionadas as operações culturais necessárias para a instalação de pomares, a exemplo da verificação das características edafoclimáticas, análises ao solo, preparação do solo, escolha de variedades e aquisição de plantas, compasso de plantação, adubação de fundo, tutoramento e rega, uma vez que uma plantação bem feita é o primeiro passo para a longa caminhada do souto.

Ainda na parte introdutória, foram mencionados alguns aspetos importantes relativos às podas de formação, uma vez que estas definem a forma e o porte da planta, para que no futuro as operações culturais sejam mais fáceis, nomeadamente a colheita e a aplicação dos tratamentos fitossanitários, caso sejam necessários. A poda de produção nos castanheiros deve ser ligeira, servindo apenas para retirar os ramos mal inseridos ou doentes, tendo atenção a que os cortes sejam feitos corretamente para facilitar a “cicatrização”, devendo ser protegidos com pastas cúpricas. Relativamente às épocas para a poda, estas devem ser feitas preferencialmente no outono, após a apanha da castanha e antes da queda da folha, ou na primavera, antes do aparecimento da folha.

A poda é desaconselhada durante o repouso vegetativo, porque a cicatrização não se faz, as feridas ficam expostas e facilita processos de infeção.

O material utilizado na poda deve estar bem afiado e entre cada árvore deve-se desinfetar as ferramentas, de modo a evitar riscos de propagação de doenças como, por exemplo, o cancro.

Passando ao tema principal destas ações, a primeira praga abordada foi a vespa da galha do castanheiro "Dryocosmus kuriphilus”, a qual efetua as posturas no interior dos gomos foliares nos meses de junho e julho (dependendo das condições climatéricas) e durante cerca de 10 dias do seu tempo de vida. Por postura pode depositar três a cinco ovos, de um total de 100 ovos.

Durante algum tempo (outono/inverno) não se manifestam sintomas detetáveis por observação visual, uma vez que as larvas desenvolvem-se muito lentamente ao longo deste período. Antes de se transformarem em pupas na primavera, as larvas alimentam-se durante 20 a 30 dias dentro das galhas, aparecendo a partir de abril, sendo a partir daí que se pode efetuar a largada do parasitoide.

A fase de pupa ocorre entre meados de maio a fins de julho, dando origem às fêmeas (nesta espécie não são conhecidos machos) e quando as galhas já apresentam orifícios significa que a vespa saiu e já está efetuando posturas.

A atividade deste inseto é favorecida por temperaturas entre os 25 e os 30 °C, diminui com temperaturas inferiores a 15 °C e não apresenta atividade abaixo dos 10 °C

As galhas aparecem nos ramos mais jovens, nos pecíolos ou na nervura central das folhas, e são estas que provocam a diminuição do crescimento dos ramos e impede a frutificação, conduzindo ao declínio dos castanheiros.

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Fig. n.º 2 – Ciclo de vida da vespa da galha do castanheiro "Dryocosmus kuriphilus” 

Relativamente aos meios de luta, o meio de luta cultural consiste na poda sanitária dos ramos afetados (o que se revela muito difícil, devido às dimensões dos castanheiros regionais) e na destruição dos resíduos vegetais, para eliminar o inseto. A destruição poderá ser feita através do enterramento ou queima do material vegetal. Este tipo de operação só deve ser feito logo no aparecimento da galha, de modo a que esta não possua nenhum parasitoide no seu interior.

A luta biológica tem sido feita través do parasitoide específico, “Torymus sinensis”, assente num plano específico de largadas, tendo em conta a sincronização dos ciclos de vida da praga/parasitoide. Tal como referido anteriormente, as largadas dos parasitoides são efetuadas na primavera (quando as galhas ainda estão tenras) e envolvem o lançamento de casais "Torymus sinensis", produzidos em laboratório.

 

Nos últimos dois anos, a Direção Regional de Agricultura já efetuou 160 largadas em toda a Região.

Os participantes foram alertados que este é um meio de luta cujos resultados não são imediatos, só passados cinco a seis anos é que os resultados poderão ser verificados, sendo feitas avaliações da evolução da taxa de parasitismo.

Foi ainda mencionado que o meio de luta químico não tem eficácia significativa e, como tal, não existe nenhum produto homologado, além de que este iria prejudicar o estabelecimento do parasitoide na Região.

O bichado da castanha "Cydia splendana", a segunda praga abordada, faz deposição dos ovos nas folhas do castanheiro entre os meses de agosto e outubro junto aos ouriços. Após duas a três semanas, dá-se a eclosão das lagartas, que se dirigem para os ouriços, abrindo um orifício muito pequeno na castanha e penetrando no seu interior, onde abrem galerias à medida que se vão alimentando deste fruto.

As castanhas atacadas não apresentam  sintomas visíveis externamente, caso a lagarta ainda se encontre no seu interior, apenas se detetam sinais da presença desta praga quando as lagartas abandonam os frutos, deixando então um orifício de saída bem visível. As lagartas, ao abandonarem as castanhas, enterram-se no solo e formam casulos constituídos por pequenas partículas de terra ligadas por fios de seda, onde passam o inverno. Pupam no início do mês de junho, formando crisálidas e em finais de julho emergem as borboletas, as quais possuem hábitos crepusculares e noturnos.

Nos meios de luta culturais, a limpeza das castanhas abandonadas nos soutos constitui uma medida sanitária imprescindível, para a qual podemos utilizar animais. A remoção e destruição deverá ser o mais cedo possível, para evitar que as lagartas abandonem os frutos e enterrem-se no solo, o que evita também o desenvolvimento de outras pragas, como os ratos.

Os meios de luta química na Região Autónoma da Madeira são muito difíceis e desaconselhados, devido às dimensões das árvores, ao declive acentuado dos terrenos e aos lançamentos dos parasitoides.

A luta biotécnica consiste no uso de feromonas sexuais para a captura dos machos, uma vez que estes são atraídos pela feromona e ficam presos no fundo das armadilhas. Com esta prática, consegue-se uma redução significativa do número de acasalamentos, através da redução do número de machos, e não é prejudicial à fauna circundante.

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Fig. n.º 3 – Bichado da castanha "Cydia splendana

Ainda referente ao bichado da castanha, foi reforçado a importância do Centro de Processamento da Castanha do Curral das Freiras, o qual além da calibração permite a esterilização, sendo através deste processo, que as lagartas nas suas diferentes fases de desenvolvimento morrem, evitando-se assim o desenvolvimento dos fungos e garantindo a qualidade, uma vez que as caraterísticas do fruto mantêm-se, em termos organoléticos e da coloração da castanha, permitindo a fidelização dos clientes e mantendo a credibilidade de um produto regional de qualidade.

No que diz respeito às doenças, a única que existe na Região é o cancro do castanheiro "Cyphonectria Parasitica", que se trata de um fungo que infeta o castanheiro através de qualquer ferida no lenho, de cortes de poda ou da enxertia. Este fungo propaga-se através de esporos, os quais são facilmente transportados pelo vento, pela chuva, por insetos, por ferramentas de poda e ainda por material vegetativo de enxertia. A infeção inicia-se na zona do colo ou no tronco da planta, onde aparecem necroses castanho alaranjadas. Quando o ataque é nos ramos, esses morrem, ficando os ouriços, também mortos, presos aos respetivos ramos.

Na luta cultural preventiva, as plantas de castanheiro devem ser adquiridas em viveiristas certificados, evitar o desenvolvimento de ervas junto ao colo da árvore e evitar cortes severos nas arvores, sendo preferível podar regularmente e aplicar uma fertilização equilibrada, para se tornarem mais resistentes à doença.

Nas enxertias, deve utilizar-se material vegetativo (garfo) proveniente de árvores sãs, aplicar na zona de enxertia um fungicida à base de carbendazime e desinfetar os instrumentos de poda após o corte de um ramo suspeito ou quando forem podar outro castanheiro.

A luta cultural, depois do fungo estar instalado, passa por cortar os troncos ou ramos 20 cm abaixo do cancro e queimá-los. Se o cancro for localizado, deve raspar a casca até ao tecido são, desinfetando a referida zona com pastas fungicidas à base de cobre e desinfetar dos instrumentos de corte.


Divisão de Assistência Técnica à Agricultura
Direção de Serviços de Desenvolvimento da Agricultura

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