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Mãos no futuro

maos no futuro 1 No passado mês de dezembro, numa conversa lúdica e de proximidade, a Sidraria de Santo António da Serra recebeu pequenos entusiastas da Escola Básica dos Maroços, envolvendo-os em questões basilares de ambiente e agricultura. É que falar de Sidra da Madeira não é cingível e redutível a abordar parâmetros, típica e legalmente atribuíveis à esfera adulta. Desde cedo importa envolver, sensibilizar e fazer sentir o pulsar da vida agrícola, a dureza e paixão inerentes ao plantio da semente, a espera resiliente implícita no crescimento das culturas vegetais e o empenho imensurável exigido pela colheita, seleção, transporte (arriba acima ou abaixo), venda e/ou, quiçá, encaminhamento para outros destinos/indústrias, antes de ver reconhecido e, orgulhosamente, servido o fruto da terra com o selo produto marca Madeira. É preciso, antes de tudo, explicar-se, desde tenra idade, que a agricultura é um legado que importa manter. Que é um lugar exigente, mas inclusivo e recetivo à inovação. É preciso dizer-se que as maçãs/peros/peras da(o) avó/avô/mãe/pai, na Madeira, têm um destino, ganham uma (nova) vida.

Imbuída de largos conhecimentos técnico-científicos, a Eng.ª Regina Pereira Santos, a quem conjuntamente com a demais equipa este projeto deve a especialização atual, discorreu por largos minutos numa abordagem acessível sobre as especificidades do setor e dos processos biológicos que permitem do “prado ao copo”, do “pero regional” fazer-se “Sidra” e tantos outros produtos (tantos quanta a criatividade) a partir do “sobejo” originado na linha de fabrico.

Aos aspirantes e, espera-se, agricultores, engenheiros agrónomos (…) do futuro, fez-se saber que a fruta fresca, em muitos casos com origem nos “poios” lá de casa, é triturada e esmagada mecanicamente para os açúcares do seu sumo serem depois consumidos por leveduras selvagens/autóctones, “criaturas” invisíveis a olho nu, e convertidos, conforme descobriu Louis Pasteur, em álcool. Deixada a estagiar sob condições controladas, a Sidra é depois engarrafada e rotulada com o nome do seu proprietário. E que orgulho que é!

Desmistificado o modus operandi há mais, vamos por fases…

Há na Madeira, além da (re)descoberta de uma produção e consumo seculares na Ilha, um caso de estudo no que atenta à valorização de subprodutos gerados em contexto fabril que importa divulgar e, desde logo, aludir com o intuito de consciencializar as novas gerações.

 

maos no futuro DICAs 2 É que, para os mais distraídos, em 2021, a Sidraria de Santo António da Serra foi reconhecida no setor agroindustrial pela AGENDA MADEIRA CIRCULAR como a primeira infraestrutura 100% circular. A par e passo com a estratégia europeia de valorização dos recursos e minimização dos impactes ambientais, a Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, através da Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, desde 2020 (data de inauguração da citada infraestrutura de transformação de fruta fresca regional neste néctar de baixa graduação alcoólica), senão antes - ainda projeto - abraçou o desafio de encontrar um destino viável para aquelas que seriam, em última instância, saídas típicas do processo fabrico da Sidra, genericamente classificadas e descartadas como resíduos.

Assente em princípios de eficiência e de reutilização, reciclagem e recuperação dos materiais procurou (e ainda o faz), através do esforço partilhado entre os técnicos da Direção e empresas-chave do tecido empresarial regional, extrair valor e atribuir utilidade ao “bagaço” de maçã/pero e ou maçã/pero e pera, dando-lhe um novo fulgor e possibilitando aos seus legais titulares aplicações futuras do desperdício. O subproduto é, desde então, tendo em conta o seu vislumbre num sistema de modo cíclico, com vantagens económicas (para fornecedores e transformadores) e ambientais (decorrentes de menor extração e importação de matérias-primas, redução na produção de resíduos e de emissões relacionadas) uma possibilidade. Da nossa parte estamos apenas e só em estudos…a encontrar, por via da experimentação e estabelecimento de sinergias setoriais, novas fontes de valor. E a bem dizer são já algumas as aplicabilidades sugeridas: alimentação animal (rações), agricultura-substrato (produção de cogumelos) e alimentação humana (mencione-se, por exemplo, farinha para incorporação em pão, doçaria diversa).

Nos entretantos, fazemos crescer ideias e conhecimento a todos os que nos requisitam.


João Francisco Gonçalves Pereira
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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