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Santa Cruz, terra que tudo produz!

sao vicente 2

Com este texto, fechamos o roteiro pelos dez concelhos da Ilha da Madeira, faltando o do Porto Santo, que será publicado em Outubro. Se bem se lembram, tínhamos ficado na freguesia de Água de Pena, concelho de Machico. Agora, é altura de rumar para o município de Santa Cruz. A primeira freguesia que também é cidade e sede de concelho, é precisamente Santa Cruz. Consta que este nome se deve ao facto de João Gonçalves Zarco nos primeiros dias de permanência na Ilha, ter encontrado um vale com belo arvoredo e cedros velhos tombados pelo tempo. Com essas árvores mandou fazer uma cruz para que fosse colocada no topo de uma árvore, baptizando assim aquele lugar de Santa Cruz. No presente, no lugar onde existiu essa árvore, na Praça Dr. João Abel de Freitas, erigiu-se um cruzeiro em memória daquele episódio histórico.

No início, a cana-de-açúcar era a cultura agrícola predominante, tendo vindo famílias nobres, em especial de Itália, com o intuito de ali prosperarem com o “ouro branco” madeirense. Actualmente, as hortícolas, os citrinos com destaque para a tangerineira, a bananeira nas zonas baixas e a anoneira nas zonas de média e alta altitude caracterizam esta localidade. Nos certames agrícolas realiza-se em Dezembro, a Mostra da Tangerina instituída pela Junta de Freguesia, tendo mais recentemente sido promovido o concurso “Paladares da Tangerina” que visa estimular a criação e divulgação dos derivados (doçaria, licores e ponchas) daquele fruto tão característico da Festa.

A norte desta freguesia, temos o Santo da Serra, com a particularidade de ter uma freguesia “gémea”, isto é, com a mesma designação, no concelho de Machico e de que já falamos no artigo anterior. Aqui, os cultivos agrícolas, por ser um lugar com uma certa altitude, vêem-se macieiras, kiwis e hortícolas como a semilha, a batata-doce, a couve (as couves do sítio de João Frino gozam de fama e proveito), o feijão, entre outras. Os derivados como a sidra, a produção de requeijão e de queijo fresco através da empresa Santo Queijo, distinguem esta povoação no contexto regional. Todos os anos, acontece a Mostra da Sidra que atrai muitos visitantes interessados no “vinho” de pêros. Aos domingos, tem lugar a Feira do Santo da Serra, que além dos produtos da terra podemos encontrar roupas, calçado, brinquedos, entre outros artigos.

A oeste de Santa Cruz, surge Gaula, que, à semelhança de Santa Cruz, teve no passado o cultivo da cana sacarina como principal fonte de rendimento e riqueza, tendo-se por isso instalado engenhos, assim como de cereais, em especial, o trigo. Nos dias de hoje, as hortícolas ao ar livre e em estufa (onde se produz tomate), as fruteiras como a figueira, a amoreira e alguns bananais, bem como de trigo, no sítio da Achadinha, dão cor e forma à paisagem gaulesa. Mais uma vez, os transformados acrescentam valor e renome como é o caso das aguardentes de cana do Engenho “O Reizinho” fundado em 1982 por Florentino Ferreira, e que já conquistaram prémios a nível nacional e internacional. Na promoção dos produtos agrícolas, registe-se a Festa da Amora e da Doçaria Tradicional organizada pela Junta de Freguesia local, que ocorre no início de Setembro.

 

sabores nossos CALHETA

Se seguirmos novamente para oeste, chegamos ao Caniço, freguesia e cidade, que apesar de estar bastante urbanizada, ainda preserva um pouco da sua ruralidade. E falar do Caniço, é falar da cebola, tão famosa, por ser diferente e de excelente qualidade, das hortas e dos pomares de fruteiras de clima subtropical. Em Maio, a Festa da Cebola anima o centro da freguesia durante três dias, atraindo muitos visitantes residentes e turistas, que se deliciam com o cortejo alegórico, no domingo, em que a criatividade e a originalidade é bem patente nos carros e figurantes decorados a preceito com aquele produto da terra.

Por fim, subimos à Camacha, a quinta e última freguesia do concelho de Santa Cruz. Terra de maçãs e de pêros que são celebrados em Outubro, na Festa da Maçã levada a cabo pela Junta de Freguesia. As hortícolas como a semilha, a batata-doce, a couve e outros legumes, completam o quadro agrícola. Outrora, o cultivo do vime e a sua indústria estimulavam a economia desta povoação, ocupando terras e gente que habilmente construía cestaria, mobiliário e outros artefactos feitos a partir daquele produto. Associada a esta vivência marcadamente rural, merece realce o facto de haver sete grupos folclóricos, contando com o mais antigo Grupo Folclórico do Arquipélago da Madeira, o Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha, fundado em 1948.

E, neste espaço, como a gastronomia é prato forte, uma breve referência a algumas iguarias do município de Santa Cruz: as cebolinhas de escabeche, como entrada, a carne frescal, como prato principal e à sobremesa, as maçãs assadas nas brasas. Neste âmbito, as Festas Gastronómicas de Santa Cruz e do Caniço organizadas no Verão pelas respectivas Juntas de Freguesia, bem como o evento “Sons e Sabores”, em Novembro, pela Casa do Povo de Santa Cruz, contribuem para a dinamização da restauração daquelas localidades e mostram o que de melhor Santa Cruz tem para oferecer.

(O autor prefere usar a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990)


Joaquim Leça
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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