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Machico, onde tudo começou!

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Ainda no norte da Madeira, mas seguindo o roteiro traçado nesta rubrica, chegamos ao concelho de Machico, vindos do município vizinho de Santana. Nessa perspectiva, o Porto da Cruz localizado a nordeste, é a primeira freguesia das cinco que compõem o município de Machico. Como cultivos principais, a uva americana (do qual se obtém o vinho americano) e a cana-de-açúcar, complementados por hortas familiares e algumas fruteiras de clima tropical e subtropical como a bananeira, a anoneira, o abacateiro e o mangueiro, ocupam os terrenos daquela localidade. Ao nível dos eventos agrícolas celebra-se o Festival da Apanha da Cana em Maio e a Festa da Uva e do Agricultor em Agosto. O Porto da Cruz dispõe de dois Engenhos, o do Norte, que labora e produz a aguardente de cana, “nova” e envelhecida e o de Abel Fernandes, que se dedica ao envelhecimento de aguardente de cana e que é muito apreciada, até por peritos internacionais.

O Santo da Serra é a freguesia que por estar situada num planalto a uma altitude média de 700 metros, apresenta explorações agrícolas de dimensão notável, com fruteiras de clima temperado como a macieira, pereira e o kiwi e hortícolas como a semilha, a batata doce, a couve, o feijão, entre outras. A criação de animais caracteriza de modo igual esta povoação cujos estrumes são aproveitados para fertilizar as terras. Na área dos transformados, merece destaque a produção de sidra, tendo entrado em funcionamento no início de 2020 por iniciativa do Governo Regional da Madeira através da Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, uma sidraria apetrechada com equipamentos modernos e meios humanos habilitados para a produção de sidra nos moldes exigíveis actuais em matéria de higiene e segurança alimentar, bem como de qualidade daquela bebida.

Entretanto, chega o momento de nos dirigirmos para o mar e por isso há que retomar o caminho para Machico, cidade (também freguesia) e sede de concelho. Outrora, no extenso e verdejante vale, abundava a água e por isso os canaviais predominavam a par da existência de engenhos de cana-de-açúcar na então Vila que transformavam a cana sacarina em açúcar e nos tempos que se seguiram, em aguardente de cana, tendo, entretanto, sido desactivados no final da década de 80 do século passado. De acordo com o Cónego da Sé, Jerónimo Dias Leite, considerado o autor da primeira obra sobre a História da Madeira no primeiro século e meio de povoamento, este afirmou que «[…] o primeiro açúcar que se vendeu nesta ilha da Madeira foi na vila de Machico donde se começou a fazer e recolheram treze arrobas dele que se vendeu cada arroba a cinco cruzados […]».

No presente, as hortas e alguma fruticultura de clima subtropical como a anoneira, o abacateiro e o maracujazeiro ocupam as zonas de média altitude, algumas delas no modo de produção biológico. Na área da gastronomia merece destaque nestas linhas a realização da Semana Gastronómica de Machico em Agosto e criada em meados dos anos 80 do século passado. No centro da cidade, a restauração local apresenta as melhores iguarias em que os produtos regionais são preferencialmente usados, animada por um vasto programa musical e cultural ao longo da semana com intérpretes e grupos madeirenses e nacionais.

 

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Na ponta mais a este, surge o Caniçal, que é a porta de entrada e de saída das mercadorias, ou seja, onde está situado o porto comercial da Madeira. Em termos agrícolas, a vinha, em especial, as castas utilizadas para a produção de vinho de mesa madeirense, é a sua face mais visível. Existe mesmo um Centro de Enxertia pertencente ao Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, que produz enxertos prontos, pois aquela entidade detém a actividade viveirista e é fornecedor autorizado deste tipo de material vegetativo.

Percorridas as quatro freguesias, falta a quinta e última que constitui o município de Machico, Água de Pena. Reza a história que o seu nome deriva de “Água de Penha”, isto é, a água que brota da rocha viva. Esta designação foi dada pelos navegadores portugueses nos primeiros tempos após o desembarque devido a uma fonte de água encontrada muito perto da foz da Ribeira do Seixo e que perdura nos nossos dias por meio do Fontenário do Seixo. Os cereais e a cana-de-açúcar foram as primeiras culturas que os povoadores escolheram e que lhes deram prosperidade. Actualmente, a horticultura e alguns bananais nas cotas mais baixas caracterizam esta localidade.

A finalizar, Machico, como terra de pescadores, tem no atum o peixe de eleição que é servido de diferentes maneiras: o bife, o mais comum, o caldo, a feijoada de atum, o atum assado no forno, o bucho de atum, entre outros. O gaiado seco ou fresco é presença habitual nas mesas e, no Caniçal, as castanhetas fritas são um petisco obrigatório que até se trincam as pequenas espinhas e tudo. Nos pratos de carne, uma nota de registo para a tripa de porco recheada à moda de Machico e que era cozinhada tradicionalmente pela Festa, no forno de pão.

Eis então, muito por descobrir, como aconteceu há 600 anos, quando João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira chegaram à baía de Machico, onde tudo começou…

(O autor prefere usar a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990)


Joaquim Leça
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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