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Santana, o mais agrícola dos concelhos madeirenses

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Na volta pela Ilha da Madeira, é agora a vez de chegarmos ao município de Santana. Vindos da Boaventura, a primeira freguesia deste concelho é a do Arco de São Jorge, terra de muito vinhedo, que até tem um Museu do Vinho e Vinha com três tipos de lagares e de ferramentas relacionadas com aquele cultivo, com a horticultura no modo de produção biológico a ter alguma expressão naquela localidade.

Subindo a Estrada Regional em direcção a São Jorge, encontramos igualmente ali muita vinha, fruticultura de clima temperado como macieiras, pereiras, ameixeiras, kiwis e citrinos com destaque para o limão. A horticultura com destaque para a semilha, batata doce, feijão e couve moldam a paisagem desta freguesia.

Antes de chegar à freguesia que é sede de concelho e cidade, Santana, é o momento certo de ir à Ilha, nome que lhe foi dado justamente por estar rodeada de imponentes montanhas. Mais uma vez, a horticultura existe um pouco por todos os recantos, revelando todo o seu esplendor no sítio da Achada do Marques. Alguma vinha nas zonas mais baixas marca presença assim como as culturas do limoeiro e da cidra, existindo mesmo um certame anual que homenageia o limão e o agricultor que lhe dedica muito do seu esforço e tempo. Devido à Exposição Regional do Limão surgiram derivados daquele fruto como o concentrado, a ponchilha e o xarope produzidos por uma empresa de inserção, “Ao Seu Lar”, dinamizada pela Casa do Povo local.



 

sabores nossos CALHETA

Em Santana, achamos quase tudo aquilo que a terra dá: hortícolas, cereais (trigo, centeio e milho), vinha e árvores de fruto. Algumas zonas permitem alguma mecanização e a instalação de sistemas de rega localizada, o que leva a uma redução apreciável de custos a nível de mão-de-obra. Conta com o Centro de Abastecimento Hortofrutícola de Santana (CASAN) pertencente à Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural através da Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, que desde Junho de 1998 presta um inestimável serviço a título gratuito, aos agricultores deste concelho e dos municípios vizinhos, nomeadamente na recepção, normalização, embalamento, expedição, conservação frigorífica, recolha e entrega das produções agrícolas convencionais ou biológicas, desde o terreno até ao comprador. Merece igualmente destaque a Feira Agrícola de Santana (FAS) organizada pela Câmara Municipal de Santana que acontece na Praça da Cidade, de sexta-feira a domingo, com a melhor oferta de produtos agrícolas vindos directamente do poio para o consumidor final, sem esquecer o saboroso e tradicional Pão de Santana. E como não se pode (nem se deve) separar os produtos da terra da gastronomia genuína, tem lugar a Mostra Gastronómica de Santana, onde os restaurantes do concelho mostram o melhor da nossa cozinha regional, animado com grupos musicais e intérpretes madeirenses e nacionais. Uma nota de referência também para o facto de Santana ser Reserva da Biosfera desde 29 de Junho de 2011, uma classificação atribuída pela UNESCO às regiões cujas características se distinguem pela harmonia entre o Homem e a Biosfera, e o desenvolvimento sustentável.

Retomando novamente a Estrada Regional, é preciso chegar ao Faial, terra de anona, abacate, cana-de-açúcar e de hortas familiares. A Exposição Regional da Anona é já um marco no calendário de certames agrícolas e movimenta milhares de residentes e turistas que visitam esta freguesia nortenha nos meses de Fevereiro ou Março, consoante a campanha de produção deste fruto que foi descrito pelo Professor Joaquim Vieira Natividade como um verdadeiro “manjar dos deuses”. A venda de anona e de derivados é motivo mais que suficiente para percorrer o adro da Igreja e os arredores complementado com muita animação e demonstração de actividades realizadas pelos serviços oficiais, pela Casa do Povo e pelas empresas ligadas à agricultura.

Na freguesia vizinha, São Roque do Faial, avistam-se pomares de macieira com variedades regionais para consumo em fresco ou para produção de sidra, ou como é popularmente conhecido, o “vinho” de pêros. Por isso, realiza-se anualmente em Maio, o Festival da Truta/Rota da Sidra, no sentido de promover estes dois produtos de excelência, dinamizando variadas iniciativas em sítios como o da Achada do Cedro Gordo, Pico do Cedro Gordo, Chão do Cedro Gordo e o Ribeiro Frio.

Noutras eras, além das culturas já mencionadas, este concelho nortenho cultivava cereais, em especial, o trigo, que além de ser transformado em farinha, utilizava-se a sua palha para a cobertura das casas de colmo, as habitações tradicionais de Santana, que são um ex-líbris do Arquipélago da Madeira.
E, neste espaço, como não podia deixar de ser, uma nota de relevo para algumas iguarias típicas deste município: a sopa de milho escaldado, a carne da noite e o bolo rajado de São Jorge que reúnem cheiros e sabores singulares. Ao fim e ao cabo, aquilo que a terra santanense e o saber-fazer das suas gentes oferecem com esmero, hospitalidade e fartura!

(O autor prefere usar a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990)


Joaquim Leça
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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