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São Vicente, uma sábia harmonia entre a Natureza e o Homem

sabores nossos CALHETA Ao deixarmos a freguesia do Seixal e passando por uma série de túneis intercalados por troços de estrada a céu aberto, alcançamos São Vicente, sede do concelho e freguesia de igual nome, que é completado com as freguesias de Ponta Delgada e da Boaventura. A par com a omnipresente Laurissilva, a vinha domina a paisagem com hortas familiares dedicadas ao cultivo de semilha, fava, feijão, couve, entre outras. A comprovar a sua importância vitivinícola na Região, situa-se a Adega de São Vicente, que laborou pela primeira vez em 1999 e foi inaugurada oficialmente em 2000. Ali, procede-se à vinificação dos vinhos de mesa e de espumante madeirenses, existindo actualmente mais de 15 marcas de vinhos brancos, tintos, rosés ou rosados.

A título de curiosidade, no sítio dos Lameiros, foi recuperado no início deste século um espaço onde em tempo se extraía a rocha calcária para ser usada no calcetamento de pavimentos, em pias baptismais, em pedras de moinho, na produção de cal em pó para pintura e como argamassa na construção civil e para aplicação na agricultura, como correctivo de solos. O Núcleo Museológico – Rota da Cal, assim se designa, é um Conjunto de Interesse Público Regional classificado pelo Governo Regional em 2005, composto por duas pedreiras de rocha calcária, um forno de cal, um museu e outras edificações de apoio como palheiros, um poço, um fio, poios e levadas, que caracterizam a paisagem agrícola madeirense, numa área aproximada de 12.000 metros quadrados. Esta restauração deve-se à Associação Rota da Cal e ao seu Presidente, Joel Freitas, que se tem empenhado na sua preservação e que carece de mais atenção e valorização por parte dos madeirenses. Naquele lugar, mais uma nota digna de registo para a realização de algumas edições da Mostra do Cuscuz entre 2014 e 2018, certame que teve uma grande aceitação, mas por motivos que desconhecemos, não teve a continuidade desejada.

 

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Na Ponta Delgada, terra de vinha, abundam igualmente fruteiras como as figueiras. Os habitantes das 1.ª, 2.ª e 3.ª Lombadas aproveitavam os figos que não se podiam consumir em fresco, para confeccionar o mel de figos, derivado semelhante ao mel de cana-de-açúcar e utilizado na doçaria caseira. Outrora, eram os citrinos com destaque para as laranjeiras que tornaram esta localidade conhecida, pois os frutos eram muito procurados pela sua inegável qualidade, constando-se que os pêssegos também lhe deram fama. Mais recentemente, a Expo Pecuária, organizada pela Junta de Freguesia desde 2014 no mês de Junho, procura divulgar a tradição das tosquias e o trabalho desenvolvido pelos produtores de gado, dinamizando desse modo a economia local.

Na Boaventura, além das hortas familiares, a vinha ocupa as zonas mais soalheiras e abrigadas e, à semelhança de Ponta Delgada, no passado, as laranjas, limões e pêssegos davam bom nome a esta freguesia. No presente e recorrendo às hortícolas e a outros produtos regionais, a Casa do Povo local organiza dois eventos que movimentam muitos interessados pela gastronomia tradicional: a Feira das Sopas do Campo, em Junho e a Mostra de Iguarias Tradicionais de Natal, em Dezembro.

O Município de São Vicente distingue-se pela imponente mancha verde da Laurissilva, Património Mundial Natural da UNESCO desde Dezembro de 1999, que envolve os vinhedos que, no decorrer das estações, emprestam múltiplos tons à paisagem vicentina, numa sábia harmonia entre a Natureza e o Homem no decurso do tempo.

(O autor prefere usar a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990)


Joaquim Leça
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

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