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As cores da microbiologia (parte I)

Alguns animais, como os pavões, utilizam a sua plumagem colorida para atrair parceiras. Em algumas espécies de rãs as cores vivas são um aviso de toxicidade. Por vezes, as cores até são utilizadas para que passem desapercebidos no meio da vegetação. As cores servem uma função e no mundo da microbiologia isto não é exceção. Em alguns casos, as cores naturalmente existentes permitem uma identificação dos microrganismos mas, mesmo quando isso não é possível, a cor continua a ter a sua importância, pois, mesmo de forma indireta, ajuda-nos a identificar os microrganismos.

Já notaram que existem bolores de cores diferentes? Em alguns casos, a sua cor é tão característica, que apenas ao olhar somos capazes de os identificar. O Penicillium, por exemplo. Quem não conhece o “famoso” bolor do pão? Com o seu característico verde-seco rodeado de branco? Algumas leveduras também apresentam cores características, como a Rhodotorula, por exemplo.

cores da microbiologia penicillium spp
 Penicillium spp.  
cores da microbiologia rhodotorula mucilaginosa
Rhodotorula mucilaginosa
cores da microbiologia placa de agar columbia
Placa de agar Columbia com diferentes
microrganismos

Em laboratório, de modo a identificar os microrganismos presentes nas amostras, é necessário “revelá-los”. Recorremos então a meios de cultura, que pretendem simular o seu habitat natural, fornecendo os nutrientes e as condições necessárias ao seu crescimento. Novamente encontramos um mundo de cores.

Pelas suas características, diferentes microrganismos podem apresentar colónias de cores diferentes no mesmo meio. Poderá não parecer muito, mas é certamente uma preciosa ajuda no caminho para a sua identificação.

Mas, na maioria dos casos, os microrganismos apresentam-se nos agares como colónias cremes, sendo impossível diferenciá-las. Nessa altura há que dar uma pequena ajudinha. Os meios cromogénicos utilizam substratos específicos para cada microrganismo (ou grupo de microrganismos) que, em conjunto com a seletividade do meio, produzem colónias de cores diferentes que permitem identificar o microrganismo em questão.

 

 
Exemplos de meios cromogénicos:
cores da microbiologia placa de bacillus cereus agar
Placa de Bacillus cereus agar, com colónias 
de Bacillus cereus (cor de rosa)
e estafilococos (amarelo)
 
cores da microbiologia placa de tbx
Placa de TBX com Escherichia coli

Falemos (apenas por alguns parágrafos) em termos mais técnicos. Para a identificação de Escherichia coli β-glucoronidase positiva, utiliza-se o TBX agar, cujo substrato cromogénico é o BCIG (ácido 5-bromo-4-cloro-3-indolilo- β-D-glucorónico). Na presença da enzima β-glucoronidase ocorre uma dimerização oxidativa do substrato (BCIG) que produz um precipitado azul de dicloro-bidromo índigo.

Para a identificação de Salmonella spp. é utilizado, por exemplo, o COMPASS Salmonella agar. Este meio contém uma base nutritiva que favorece o crescimento de Salmonella spp. bem como componentes seletivos que inibem o crescimento de bactérias Gram-positivas. Os substratos cromogénicos incorporados neste meio são o magenta-caprilato (para detetar a esterease) e o X-glucosido (para detetar a β-glucosidase). Uma vez que Salmonella spp. não possui a enzima β-glucosidase, a sua identificação neste meio é possível através da ação da esterease sobre o magenta-caprilato produzindo colónias magenta-avermelhadas. Outros microrganismos que sejam esterease negativos produzem colónias azuis (β-glucosidase positivos) ou colónias incolores (β-glucosidase negativos). (continua no próximo número do DICA)

 

Paula Ferreira
Direção Regional de Agricultura

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