Escherichia coli O157: H7 – Agente de toxinfeção alimentar |
||||
Escherichia coli é uma bactéria Gram-negativa, anaeróbia facultativa em forma de bacilo pertencente à família Enterobacteriaceae. Este microorganismo foi primeiramente descrito por Theodor Escherich em 1885. A Escherichia coli faz parte da microbiota do trato intestinal de humanos e animais de sangue quente e a maioria das estirpes não são patogénicas, contudo, nos últimos anos tem sido reconhecida a importância desta bactéria como causa de doença diarreica. Os principais grupos de estirpes patogénicas, responsáveis por quadros de gastroenterites no homem são: E. coli enteropatogénica (EPEC), que afeta sobretudo recém-nascidos e lactantes; E. coli enterotoxinogénica (ETEC) responsável por diarreia dos viajantes; E. coli enteroinvasiva (EIEC) que afeta jovens e adultos com disenteria bacilar; E. coli enteroagregativa (EAEC) que provoca diarreia persistente em crianças; E. coli difusamente aderente (DAEC) provoca diarreia em crianças e E. coli verotoxinogénica (VTEC/STEC) grupo em que se incluem as estirpes enterohemorrágicas (EHEC) como E. coli 0157:H7, causador da colite hemorrágica, doença grave que afeta preferencialmente, crianças e idosos. Nos países desenvolvidos, as epidemias de EPEC, ETEC e EIEC são pouco frequentes. Já os surtos por VTEC e EHEC, têm ocorrido com maior frequência nos EUA, Canadá, Reino Unido e Japão sendo o sorotipo mais frequente O157:H7 As estirpes enterohemorrágicas de Escherichia coli O157: H7 produzem uma toxina conhecida como Verotoxina (VT), também chamada de "Shiga-like" associada à colite hemorrágica (HC) e ao Síndrome Urêmico-Hemolítica (SUH) deixando sequelas com risco de vida (HUS) em seres humanos. Esta bactéria tem como "habitat" o solo, água contaminada e material em decomposição, e tem sido isolada do intestino de suínos, aves, e principalmente do trato gastrointestinal de bovinos. Algumas características da Escherichia coli 0157:H7 são específicas e são importantes na sua identificação: não fermenta o sorbitol e a ramnose em 24 horas; não produz a enzima B-D-glicuronidase; possui atividade glutamato descarboxilase; não descarboxila a lisina e a ornitina; fermenta a rafinose e o dulcitol; é sensível ao azul de bromotimol em altas temperaturas e não cresce ou cresce mal a 45.5° C, sendo termolábil. No início dos anos 90, ocorreram vários surtos de Escherichia coli O157: H7, principalmente nos Estados Unidos, envolvendo casos fatais, pelo consumo de produtos cárneos mal cozinhados. Esta bactéria tornou-se um dos mais importantes agentes patogénicos de origem alimentar. A Escherichia coli O157: H7 é uma grande preocupação de saúde pública na América do Norte, Europa e outras regiões do mundo. Embora o número de casos de E.coli O157:H7 seja mais baixos do que os de outros patogénicos entéricos, tais como Salmonella ou Campylobacter spp, as doenças causadas por E. coli O157:H7, mostram taxas de hospitalização e de mortalidade muito mais elevadas. Após o pico em 1999 as infeções de E. coli O157:H7 têm vindo a diminuir no entanto grandes surtos e casos esporádicos continuam a ocorrer. Nos Estados Unidos, anualmente estimam-se 63.153 doentes, 2.138 hospitalizações e 20 mortes devido a E. coli O157. Na UE ocorreram 5.671 casos por estirpes VTEC, em 2012 e 22 mortes foram relatadas. E. coli O157 foi o serovar mais frequente (1960), seguido pelo O26 (417). A nível de surtos foram relatados 51, sendo que 10 tiveram origem em água contaminada (EFSA, 2014). Em Portugal entre 2002 e 2012, registaram-se 497 casos de infeção por E. coli patogénico, sendo que a maioria pertencia ao serotipo ETEC (183) seguido de VTEC (136). No que concerne a surtos, em 2013 ocorreu 1, pelo serotipo VTEC não O157, que originou 50 casos e 3 hospitalizações e teve origem em salsa crua. Já no período de 2008-2011, ocorreu também um surto que afetou apenas 5 pessoas. A infeção humana causada por E. coli O157:H7, pode apresentar um amplo espectro clínico desde casos assintomáticos à morte. A colite hemorrágica é caracterizada clinicamente por dores abdominais severas e diarreia aguda, seguida de diarreia hemorrágica, diferindo das manifestações clinicas causadas por outros agentes invasores, pela grande quantidade de sangue nas fezes e ausência de febre. O período de incubação varia de dois a nove dias e a dose infectante é muito pequena (10 - 100) células (ufc). Aproximadamente 10% dos pacientes com colite hemorrágica evolui para uma doença grave conhecida como Síndrome Urêmico Hemolítico (SUH), caracterizada por lesão renal aguda, trombocitopenia e anemia hemolítica microangiopática. A incidência é maior em crianças entre cinco e nove anos e adultos entre 50 e 59 anos e mais frequente nos meses quentes do ano. |
Várias estratégias de terapia foram estudadas, incluindo a utilização de antibióticos e de vacinação. No entanto, não há nenhum tratamento específico para a E. Coli O157:H7 e a utilização de antibióticos podem ser contra indicados. Portanto, o tratamento é principalmente de suporte para limitar a duração dos sintomas e prevenir complicações sistémicas. A transmissão para os humanos da Escherichia coli O157:H7, ocorre principalmente por meio de consumo de alimentos contaminados. Os bovinos são o reservatório natural de E. Coli O157:H7, entre 1% e 50% do gado saudável transporta e verte E. coli O157:H7 nas suas fezes em qualquer dado momento. Além disso, há uma variedade de produtos que não a carne moída, veículos alimentares contaminados que têm sido associados a E. Coli O157:H7, incluindo leite não pasteurizado, água potável, salame, carne seca, e produtos frescos, como alface, rabanete, espinafres e sidra de maçã.
No Laboratório de Microbiologia dos Alimentos do Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar (LRVSA), da Direção de Serviços dos Laboratórios e Investigação Agroalimentar, a pesquisa de Escherichia coli O157 em alimentos é efetuada segundo um procedimento, baseado na ISO 16.654:2001- “Microbiology of food and animal feeding stuffs – Horizontal method for the detection of Escherichia coli O157”. Embora este procedimento ainda não esteja acreditado o laboratório participa em Programas de Avaliação Externa da Qualidade (EQA), há vários anos, realizando ensaios interlaboratoriais (Public Health England) com resultados satisfatórios. A avaliação externa da qualidade permite avaliar o desempenho do laboratório e demonstrar a confiabilidade dos resultados analíticos. Luísa Abreu |
- Detalhes