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Sidra – Uma bebida cada vez mais apreciada

sidra 1 «Os americanos adotaram de vez a sidra. Em 2013, foi a bebida que mais cresceu no país, ultrapassando até o acelerado mercado das cervejas artesanais.

A sidra traz uma memória afetiva dos sumos de maçã que tomávamos na infância. É divertida, leve, simples e sem afetações, algo que as pessoas têm buscado mais, cansadas de tanta pretensão de outras bebidas, acredita Jeff Smith, dono do pub Bushwhacker, em Portland, no Oregon, o primeiro bar especializado da bebida no país. Foi aberto em 2010 e hoje oferece mais de 280 rótulos, além de torneiras onde a bebida é servida de barris.

Como vemos, a sidra está a ganhar espaço em todo o mundo, apesar de representar apenas 0,3% do mercado de bebidas nos EUA, mas já há 150 produtores hoje no país – para os poucos mais de 10 no início dos anos 1990»

(Redação Paladar - Rafael Tonon - Suplemento semanal do jornal Estadão -2015)

A designação «sidra artesanal» pressupõe que a bebida seja elaborada de uma forma muito manufaturada e produzida em pequena escala, mas nunca menosprezando todos os cuidados de higiene e de segurança alimentar. Nunca se confunda “tecnologia zero” e uma atitude do tipo “sempre se fez assim” com o conceito de «artesanal»... pois os princípios do HACCP (um “palavrão” aparentemente assustador, mas um conjunto de práticas, na sua maioria até de aplicação simples) deverão ser sempre seguidos, só assim sendo possível garantir a higiene e a segurança alimentar de qualquer produto destinado ao consumo humano. No pensamento do agricultor/empresário, para além desta preocupação, deverá existir a de satisfazer as exigências do mercado (leia-se consumidores), maximizando também os seus lucros. Veja-se que as “cervejas artesanais”, tão badaladas nos últimos tempos, não são feitas num qualquer “vão de escada”, são produzidas com todo o empenho e saber de quem as faz (“mãos” e “inteligência”), em pequenos volumes, com uma baixa incorporação de tecnologia, mas também com uma “imagem” muito cuidada (marca, rótulo, garrafa… geralmente surpreendentes) e, sobretudo, com um rigoroso controlo de qualidade, ou seja, seguindo todas as regras para a garantia da higiene e segurança alimentar do produto que é comercializado.

Deixo outro testemunho de alguém que, sempre ligado ao mundo do vinho, agora se apaixonou pelas sidras:

«O sommelier francês Eric Bordelet trocou as uvas por maçãs e peras. Produz algumas das melhores sidras do mundo. Bordelet era um dos melhores sommeliers em atividade na capital mundial da gastronomia. Resolveu abandonar o mercado de vinhos e voltar para a propriedade da família em Mayanne, onde nasceu. Foi atrás de uma garrafa de sidra. Ou, para deixar a conta mais exata, de 20 mil garrafas de sidra.

Bordelet trabalhou por mais de uma década como sommelier do L’ Arpège, restaurante classificado com três estrelas Michelin em Paris. Em 1991, retomou a antiga sidraria da família para resgatar uma tradição que estava esvaindo-se. “A produção em massa e a falta de cuidado na elaboração fizeram a bebida, tão respeitada no oeste da França até a virada do século, ser sumariamente ignorada.”

 

sidra 2

Desde que abandonou o serviço de vinho, Bordelet tem tentado reverter a imagem da sidra. Uma conquista que faz em pequenos goles. Ele produz seis tipos de bebida – quatro sidras de maçã e duas poirés (feita de pera). Exporta 75% da produção, que é de aproximadamente 20 mil garrafas por ano.

As sidras de Bordelet estão na carta de bebidas de restaurantes premiados de Nova York a Londres. Entre suas criações mais conhecidas estão a Argelette, feita com 19 variedades de maçã, todas locais. Tem cor âmbar, bolhas finas e sabor sugerindo mel, maçãs, minerais e cítricos.

Depois de estudar em Bougainville por um ano para conhecer melhor o processo de fabricação da bebida, estabeleceu-se no Château de Hauteville, a fazenda de sua família, a 150 km de Paris.

Na Normandia, a bebida voltou a ter mais representatividade depois que Pays d’ Auge e Cornouaille foram demarcadas com regiões de denominação para a bebida e produtores locais começaram a profissionalizar as suas propriedades, muitos deles contratando enólogos para ajudá-los.

“Adotei técnicas modernas de viticultura na fazenda. Com isso, consigo tratar as minhas sidras com o mesmo cuidado com que os grandes produtores de vinhos franceses tratam as suas uvas”, explica. O que encanta Bordelet nas sidras é o facto de elas não possibilitarem tanto controle na produção. “São bebidas mais naturais, com identidades muito diferentes, mais pelo que se colhe e pelo terroir do que pela mão do produtor. Meu papel é deixar a natureza fazer seu trabalho”, diz, com certa modéstia. “Vamos levar mais uns dez anos para restaurar a nobreza das sidras”».

(Redação Paladar - Rafael Tonon - Suplemento semanal do jornal Estadão - 2015)

Assim termino, como desafio para reflexão, com a seguinte frase do grande ilustre Engenheiro Agrónomo J. Vieira Natividade que tanto deu à Madeira e ao nosso país:

«Por que persistimos em menosprezar a árvore de fruto? Por que razão nós, tão pobres de bens, desdenhamos tal riqueza?».

Façamos mais e ainda melhores sidras!

Regina Pereira
Direção Regional de Agricultura

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