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A limpeza de mato e as queimas controladas 

queimadas Os incêndios florestais afetam, em mais de 90% dos casos, zonas de matagal e de vegetação baixa, uma cifra que se vem repetindo ao longo dos os anos, dando uma ideia muito concreta da importância e repercussão social e custos socioeconómicos que este flagelo acarreta.

Ante a máxima popular de que a melhor forma de apagar um incêndio é evitá-lo, são postas em prática linhas de ação para a prevenção dos mesmos, entre as quais figuram a criação de corta fogos e a realização de limpezas de matas, em terrenos mais elevados ou de monte, e as queimas controladas.

No entanto, estas medidas têm uma durabilidade no tempo muito pequena a contar da sua realização e ao cabo de três, quatro ou cinco anos, dependendo das condições da vegetação, solo e clima, os terrenos voltam a ficar invadidos de matagal, sendo, portanto, necessário voltar a executar desmatações ou queimas controladas, que conduzem a novos investimentos, por vezes não despiciendos. Se as condições que propiciaram uma acumulação de mato e ervas nos montes, como a baixa ou escassa presença de gado e pressão de pastoreio, relacionada com a pequena qualidade nutritiva da vegetação espontânea existente, não se alterarem, proporcionando a possibilidade dos animais se centrarem nestas áreas, voltaremos à situação inicial num breve espaço de tempo.

Mas isto não ocorre somente nos trabalhos realizados para a prevenção de incêndios. Frequentemente, também se põem em prática programas de desmatações e queimas controladas com o objetivo de incrementar os recursos pastorícios das explorações agrícolas. Estes também oferecem uma pequena durabilidade e efetividade relativamente aos seus resultados.

 

Para além de tudo o mais, e no caso das queimas controladas, pode haver um incremento do material suscetível de ser erodido, devido à desestruturação do solo e a uma maior circulação de água, devida à eliminação do coberto vegetal, pelo que, se não se realizar algum tipo de atuação posterior, corre-se o risco de perdas graves de solo com a ocorrência das primeiras chuvas.

De salientar, no entanto, que as queimas obedecem a regras e carecem de autorização prévia, devendo o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza ser contactado para o efeito.

Perante esta problemática, estudos já realizados demonstram que é possível executar algumas atuações complementares aos trabalhos de desmatação e/ou queima controlada, para a criação de zonas de pastorícia e/ou áreas de corta fogos. Com estas possibilitamos o estabelecimento de zonas sustentáveis, com vegetação melhorada, relativamente à pré-existente nos montes de partida (ou iniciais) e um melhor aproveitamento pecuário, que se repercute positivamente na rentabilidade das explorações agropecuárias e na biodiversidade e sustentabilidade do meio ambiente.

Também se poderá pensar numa maior longevidade dos efeitos das medidas tomadas, a melhoria da eficiência e rentabilidade dos investimentos realizados e a possibilidade de reduzir o número de intervenções necessárias à conservação dos corta fogos com um mesmo pressuposto inicial. Estas atuações consistiriam na fertilização e sementeira de espécies pratenses, adaptadas às condições do meio, com bom potencial de produção e altos conteúdos em componentes nutritivos, como alguns azevéns, os trevos ou outras espécies, nas zonas recentemente desmatadas e/ou queimadas.

Ricardo Costa
Direção Regional de Agricultura