Selagem do solo - os melhores solos cobertos com cimento |
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Somos dos países europeus que têm o recurso em “terra” de pior qualidade, em que apenas cerca de 5%, no máximo 8%, apresenta solos considerados aceitáveis e competitivos, situação que se regista também na Ilha da Madeira. Urge, portanto, a sua salvaguarda, como também a defesa dos melhores e mais profundos de entre os moderadamente férteis, tal como é referido pela Comissão Europeia, pelo Conselho e Parlamento Europeus e pelo Comité Económico Social da União Europeia, que pugnam pelo estabelecimento de uma Estratégia Europeia para a Proteção do Solo. A Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional eram não só a expressão de uma política de salvaguarda dos solos de qualidade, que devem ser defendidos, como também uma política de aumento da fertilidade, através de um ordenamento correto e do uso e salvaguarda dos melhores solos para a produção agrícola. Portugal é o país europeu com maiores riscos de degradação deste recurso, dadas as suas características biofísicas e climáticas. De facto, temos os maiores riscos de degradação dos solos e os menores recursos em “terra” da Europa do Sul e somos um dos países europeus mais vulneráveis às alterações climáticas e à consequência das secas e dos fogos que serão cada vez mais frequentes e graves. Numa ilha tão acidentada como a Madeira, apenas as zonas mais aplanadas ou com socalcos, com melhores solos e rega disponível, serão compatíveis com uma agricultura competitiva, de que são exemplos a produção de cana de açúcar, da banana, da vinha, das hortícolas ou das frutícolas. As áreas da ilha com melhor exposição e melhores solos correspondem aos Cambissolos crómicos, os Cambissolos vérticos, os Vertissolos eutricos e os raríssimos Fluvissolos eutricos e encontram-se nas zonas mais aplanadas na encosta sul. Ora, é exatamente nestes solos das zonas urbanas do Funchal e da Calheta que as urbanizações proliferam, a exemplo da produção de banana na zona hoteleira de maior crescimento. |
Para além desta selagem pôr em causa a produção agrícola e, portanto, a segurança alimentar, põe também em causa a qualidade de vida e a produção de alimentos de elevada qualidade e também as bases da atividade turística, pondo ainda em risco vidas e bens. Muito perto das cabeceiras há a destruição da vegetação que retém a água e segura os solos, a meio da encosta já há selagem e aumento dos escoamentos, aumentando, e muito, os caudais e o transporte nas enxurradas. Os Fluvissolos, os solos de maior fertilidade, que na Madeira correspondem a menos de 1%, que acumulam as frações finas arrastadas nas cheias dos Andossolos dos montes (ver carta dos solos) são destruídos e o emparedamento das ribeiras e a construção nos leitos de cheia destroem não só os solos mais férteis como agravam os riscos. De salientar que os Fluvissolos, os solos mais férteis e profundos, que constituem a parte central da Reserva Agrícola Nacional e Reserva Ecológica Nacional, pois são zonas de cheia, são, desde sempre, pouco respeitados. De facto, é mais fácil construir e colocar as infraestruturas (rede pluvial, rede de canalizações de água potável e de esgotos, rede de fornecimento de energia - elétrica e de gás) em zonas planas e as mais-valias são maiores quando se consegue construir numa zona “non aedificandi”. Bibliografia: Pinto Ricardo, R., Silva Câmara, E. M. & Melo Ferreira, M. A. 1992 Carta dos Solos da Ilha da Madeira. Governo Regional, Secretaria Regional da Economia, DRA
Eugénio Menezes de Sequeira |
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